Cidades

Apesar de necessário, racionamento não é solução para a crise hídrica

Especialistas presentes em seminário promovido pelo Correio e pela Adasa defendem que o racionamento é uma forma de gestão dos recursos hídricos necessária, mas é preciso reduzir a demanda por água

Deborah Fortuna
postado em 11/04/2017 11:08
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O professor da UnB Carlos Henrique Ribeiro Lima, um dos debatedores:

Em meio à pior crise hídrica do Distrito Federal, especialistas participantes do debate O desafio hídrico e os preparativos para o 8; Fórum Mundial da Água, nesta terça-feira (11/4), defendem que o racionamento de água é um instrumento de gestão que deve continuar sendo usado. A preocupação dos painelistas é que, mesmo em épocas chuvosas, os reservatórios não alcancem o volume necessário, e a situação se agrava muito durante o período de seca.

[SAIBAMAIS]Para o presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme-CE), Eduardo Sávio Martins, a relação de parceria com a população é essencial. Ele defendeu que, com diálogo, é possível explicar as reais necessidades de economia de água.

;Dizer que tem de fazer racionamento parece palavrão. Mas não é. É um dos instrumentos de gestão. A crise está se aproximando, nós temos que contar com o racionamento. Isso não deve ser tido como palavrão. Se bem explicado, se bem comunicado, a população entende;, argumentou um dos participantes do primeiro painel do evento, que contou com a abertura do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.

Na opinião de Martins, o racionamento no DF deveria ter sido pensado há mais tempo, pois não se trata de uma solução diante da crise. O problema exige mudanças de rotina e da maneira como os reservatórios são usados. Além disso, é preciso que a informação seja contínua, e não esporádica, em momentos de crise. "Se está chovendo, na hora que tira a campanha, a mensagem que está sendo passada é que o problema acabou, então não precisa mais da mobilização que estava sendo feita. E não é assim", disse.

Conscientização da comunidade

O coordenador do Programa de Pós-Gradução em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos (PTARH) da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Henrique Lima, também acredita que a comunidade precisa se conscientizar sobre a importância do uso sustentável da água, já que o nível dos reservatórios pode não ser suficiente para a região encarar o período de seca. "A população tem de lidar com isso economizando água. Fechando as torneiras, no banho, na louça. É fundamental o racionamento. Todos têm sofrido, mas a situação pode ser muito crítica, já que não temos garantia nenhuma de que a estação chuvosa pode encher os reservatórios", alertou.

Lima lembrou ainda que é importante considerar o fenômeno de mudanças climáticas. O aumento dos gases do efeito estufa, frisou, eleva a temperatura e reflete na segurança hídrica. "E quais são os impactos e riscos dessas mudanças naturais? A gente espera que as secas sejam mais intensas e frequentes. Outro ponto é ter um número maior de cheias, de enchentes", disse.

Reduzir a demanda


Terceiro participante do primeiro painel, Felipe Eugênio Sampaio, professor mestre em tecnologia ambiental e recursos hídricos do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Iesb, destacou que conquistar a segurança hídrica é um desafio. De acordo com ele, para existir essa segurança é necessário que a oferta e a demanda de água sejam iguais, o que, na prática, não acontece. "O grande problema reside no fato de que a demanda vem aumentando muito rapidamente, conforme a população cresce. Estima-se que, a cada 20 anos, o volume de água consumido dobre."

Neste momento, o foco deve estar na redução da demanda de água, criando, por exemplo, fontes alternativas: aproveitamento da chuva, reúso da água, dispositivos economizadores. Para ele, é necessário que essas soluções sejam colocadas em prática o quanto antes, principalmente nas residências, que costumam ter práticas não sustentáveis, como o uso de água potável para descarga em privadas. "O problema da água é que, apesar de ser renovável, ela não é inesgotável, ela tem limite", destacou.

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