Cidades

Reconhecidos pela criatividade, artesãos brasilienses ganham o mundo

Artistas trabalham com um novo conceito do artesanato ao realizar trabalhos singulares, de maneira criativa e em respeito à natureza

Paula Pires - Especial para o Correio
postado em 28/04/2017 06:00
Zaqueu Vitor e a escultura de Cervantes: materiais reciclados

Artesãos do Distrito Federal despontam no cenário global, e ganham notoriedade no respeitado mercado europeu, com a exportação de peças autorais com apelo sustentável e ecológico. Esse time brasiliense trabalha com um novo conceito do artesanato ao realizar trabalhos singulares, de maneira criativa e em respeito à natureza, como a criação de bonecas de pano, arranjos e painéis de flores secas, móveis assinados e esculturas.

A consciência ambiental é palpável nas obras assinadas pelo designer brasiliense Marcelo Bilac, de 38 anos, que participou da Feira de Milão, na Itália, neste mês. A peça levada para a exposição mais importante do mundo do design foi o banco cavalete. ;Neste trabalho, usei resíduo florestal e ferro de sucata, em que tudo se encaixa e as formas de um banco ganham vida;, explica.

Todo o processo de produção do designer brasiliense é feito na chácara onde mora com a família, no Pôr do Sol, em Ceilândia. Dentre as matérias-primas mais utilizadas, estão galhos e troncos de árvores. ;Gosto do viés do reaproveitamento. Nada aqui é jogado fora e as peças recriadas ganham um significado original;, reforça.

O designer também recicla pedaços de madeira que sobram da fabricação de móveis planejados no processo de criação de sofisticadas peças, como a mesa Carla, em uma mescla de texturas e vidro em estilo contemporâneo. ;Comecei a desenvolver este trabalho autoral em 2000. Da natureza, reaproveito os resíduos da floresta. Também faço pesquisas em sucatas e ferros-velhos para conseguir algum material original para criar minhas peças;, acrescenta Marcelo.

O banco cavalete do designer brasiliense Marcelo Bilac, destaque em Milão

Esculturas

Outro artista que desenvolve projetos a partir do garimpo de ferros-velhos e sucatas é Zaqueu Vitor, de 52 anos. Porcas, parafusos, chapas de ferro, pastilhas de freio e rolamentos são a matéria-prima do artista plástico, que trabalha em um galpão no Guará para criar as esculturas. ;Tudo que poderia degradar o meio ambiente é reutilizado em uma peça artística;, afirma.

Zaqueu, que participou de uma Feira Internacional de Artesanato em Brasília, revela que as esculturas são feitas a partir do desenho e do formato das matérias-primas encontradas nas sucatas. ;Das correntes de bicicletas, surgem lagartos articulados; de panelas velhas, são feitos relógios; de três ferraduras sobrepostas, nasce uma coruja.;

As esculturas do artista se destacam pela originalidade. Um cavalo ultrapassando uma barreira e uma guitarra com mais de quatro metros de altura impressionam pelos pequenos detalhes. Tudo é feito com a proporção adequada ao tamanho. O personagem clássico da literatura mundial Dom Quixote também foi retratado por Zakeu. ;Para fazer o busto do protagonista de Miguel de Cervantes, foram utilizados um tanque de moto, chapas de metal, parafusos e correntes.

Zakeu faz questão de dizer que preza pelo equilíbrio e pela articulação das peças que faz. ;Gosto de trabalhar com a ideia de que as esculturas possam se mexer. Isso é fantástico. Por isso, nada é estanque na minha arte;, diz.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação