Cidades

Depoimentos e perícia montarão quebra-cabeça sobre mortes na L4 Sul

Os investigadores do suposto racha que matou mãe e filho na L4 Sul aguardam resultado da análise técnica para tirar as últimas dúvidas sobre o acidente. Os esclarecimentos dos dois sobreviventes está marcado para a próxima segunda-feira

Paula Pires - Especial para o Correio
postado em 06/05/2017 08:00
Bombeiros e peritos no local onde mãe e filho morreram após o Fiesta da família ser atingido na traseira

Para entender parte da dinâmica do acidente que matou mãe e filho na L4 Sul, no domingo à noite, a polícia ouvirá os dois sobreviventes do Fiesta vermelho na próxima segunda-feira. Por causa do trauma causado pelo impacto do carro na árvore, seguido de capotagem, Elberton Silva Quintão e Osvaldo Clemente Cayres não se lembram com detalhes sobre o momento do choque e dos minutos subsequentes à colisão. Segundo a revisora Fabrícia de Oliveira Gouveia, 47 anos, que perdeu o marido, Ricardo, na tragédia (leia Memória), Elberton bateu a cabeça e não tem registro na memória sobre o episódio. ;Já o meu sogro, que estava sentado no banco do co-piloto, se recorda de um forte estrondo na traseira do carro. Depois disso, ele acordou sendo resgatado pelo Corpo de Bombeiros e indo para o hospital;, contou.

[SAIBAMAIS]O delegado Ataliba Neto, adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), chefia as investigações. Até agora, 10 pessoas prestaram esclarecimentos. Entre eles, os três suspeitos de participarem do racha: o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 34, condutor do Jetta que atingiu a traseira do Fiesta; Noé Albuquerque Oliveira, 42, sargento do Corpo de Bombeiros e enfermeiro da Secretaria de Saúde, que dirigia uma Range Rover Evoque; e a tenente do Exército Fabiana Albuquerque Oliveira, 37, irmã de Noé Albuquerque Oliveira e motorista de um Cruze prata.

Fabiana foi a única que ficou no local do acidente. Prestou depoimento no mesmo dia. Na noite da batida, agentes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) no DF informaram que Fabiana apresentava ;hálito etílico;. Ela se recusou a fazer o teste de alcoolemia. E confirmou que voltava da mesma festa em que estavam o irmão Noé e o cunhado Eraldo, em um barco, no Lago Paranoá. O Cruze de Fabiana foi atingido na lateral esquerda.

Eraldo fugiu do local. Ele depôs na 1; DP no dia seguinte ao acidente, acompanhado de um advogado. Ele negou que estivesse em alta velocidade antes de atingir o Fiesta. Disse ter deixado a L4 Sul a pé, pela L2 Sul, por ter ficado assustado com a situação. Segundo ele, algumas pessoas cercaram o Jetta dele e começaram a acusá-lo. Na delegacia, ele chorou e alegou que o acidente foi um ;erro de cálculo;. Explicou que mudava de faixa quando o Fiesta freou por causa da fiscalização eletrônica. Após bater no Fiesta, atingiu o Cruze de Fabiana.

Agentes do DER no DF disseram aos investigadores do caso que Noé estava visivelmente embriagado e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O sargento também prestou esclarecimentos na delegacia na segunda-feira. Disse que seguia a 80km/h na via e a cerca de 300m do Fiesta da família Cayres. Admitiu que havia bebido uma lata de cerveja na festa do Lago Paranoá. O bombeiro acrescentou que chegou a prestar socorro, mas teve de sair do local do acidente para levar a mulher ao hospital, que teria ficado ferida.

Noé Albuquerque de Oliveira, bombeiro também acusado de envolvimento em suposto racha na L4 Sul

Eraldo José Cavalcante Pereira, motorista do Jetta que atingiu a traseira do Fiesta das vítimas

Justiça


Na última terça-feira, mais quatro pessoas prestaram depoimento. Uma testemunha informou que a Range Rover e o Jetta dos envolvidos na colisão estavam em alta velocidade, o que aparentava se tratar de uma corrida ilegal. Uma passageira da Range Rover manteve a versão dos investigados, negando o racha e o excesso de velocidade. Na quinta-feira, os investigadores colheram mais dois depoimentos. Foram ouvidos um agente do Detran e um funcionário de um píer do Lago Paranoá. Este afirmou que os participantes do suposto racha fizeram um passeio de lancha durante todo o domingo.

Além dos depoimentos, a polícia aguarda o resultado da perícia para determinar as circunstâncias do acidente. Na segunda-feira, o delegado Ataliba reforçou a importância do trabalho técnico para as investigações (veja quadro sobre procedimentos básicos de uma perícia). ;A prova importantíssima para a gente vai ser a pericial, do local do acidente. Com ela, vamos poder apurar a velocidade que eles estavam e, aí, a gente vê, também, o dolo e se eles assumiram o risco;, explicou o investigador.

Fabrícia, viúva de Ricardo, reafirmou ontem, em post publicado em uma rede social, que acompanhará todo o caso até que a justiça seja feita. Na luta contra a imprudência no trânsito, ela se juntou a Yolita Antonelli, nora do ciclista Edson Antonelli, atropelado e morto em uma ciclofaixa, no Lago Norte, em 23 de abril, por uma jovem alcoolizada. As duas usam o Facebook como forma de protesto e de conscientização. ;Não é só a família Cayres. Somos muitas famílias. São pessoas que choram a dor de perder seus amores;, desabafou Fabrícia.

Memória


Imprudência e morte na L4 Sul

Na noite de 30 de abril, às 19h30, três carros suspeitos de participarem de um racha provocaram um acidente na Avenida L4 Sul, próximo à Ponte das Garças. Os motoristas de um Cruze prata, um Jetta preto e uma Range Rover Evoque são acusados de envolvimento no suposto pega. O condutor do Jetta se chocou na traseira do Fiesta de família Cayres, que retornava de um evento dominical. Com a batida, o Fiesta perdeu o controle, saiu da pista e capotou diversas vezes. Cleusa Maria Cayres, 69 anos, e Ricardo Clemente Cayres, 46, morreram no local. Os outros dois ocupantes do veículo, Elberton Silva Quintão, 37, cunhado de Ricardo, e o pai dele, Osvaldo Clemente Cayres, 72, foram encaminhados ao Hospital de Base com escoriações.


Bebeu, dirigiu e invadiu casa

Um motorista embriagado atingiu um caminhão e derrubou o portão de uma casa, em Ceilândia, na madrugada de ontem. Ao invadir a garagem da residência, ele ainda bateu em uma Kombi. O acidente aconteceu às das 2h e acordou o dono da casa, que acionou a PM quando percebeu que o condutor estava alcoolizado. O jovem, de 24 anos, que dirigia uma Saveiro, fez o teste do bafômetro, que registrou 0,62mg de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Ele foi preso por embriaguez ao volante e encaminhado para a 23; Delegacia de Polícia (Ceilândia).

Os investigadores do suposto racha que matou mãe e filho na L4 Sul aguardam resultado da análise técnica para tirar as últimas dúvidas sobre o acidente. Os esclarecimentos dos dois sobreviventes está marcado para a próxima segunda-feira

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