Cidades

Brasília é a capital mundial de doação de leite materno

DF conta com 15 bancos de leite, 13 deles considerados padrão Ouro pela Rede Global de Bancos de Leite Humano

Ana Carolina Alves*
postado em 19/05/2017 06:30
Maita Torres decidiu doar leite depois que a filha ficou internada por cinco dias e precisou do banco de leite
;Para quem doa, é pouco, mas, para quem recebe, é tudo.; É assim que a chefe do Banco de Leite do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Raquel Prata, define o ato de doar leite materno, que tem como destino, principalmente, os bebês internados nos hospitais. É um resumo também do ato celebrado no Dia Mundial da Doação de Leite Humano, comemorado em 19 de maio. A data é ainda mais marcante para Brasília, considerada capital mundial de doação de leite materno.
Mãe há 2 meses, a assessora de comunicação Maita Torres, 28 anos, presenciou as duas realidades: de quem precisa e de quem doa. A filha, Aurora, ficou cinco dias internada ao nascer e precisou da doação de leite para se alimentar. ;Eu sempre quis doar, mas eu nunca imaginei que a minha bebê ia precisar. Foi dolorido ver que o leite que ela tomava não era o meu, mas foi gratificante ver que as pessoas fazem esse esforço por uma criança que elas não conhecem;, afirma.
Depois que passou pela situação, Maita não teve dúvidas de que também doaria o leite. Hoje, uma vez por semana o Corpo de Bombeiros passa em sua casa para fazer a coleta. O coordenador da Rede Brasileira de Banco de Leite Humano (rbBLH), João Aprígio, ressalta que o DF foi pioneiro na colaboração com a corporação. Para ele, essa união de esforços é o principal fator que faz Brasília ser a única cidade autossuficiente no mundo nesse quesito. ;Não falta leite humano para os recém-nascidos internados no DF. A capital é um exemplo para Brasil e para o mundo;.
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Segundo a rBLH, o DF é a segunda unidade da Federação que mais arrecadou leite humano entre 2006 e 2015, perdendo apenas para São Paulo. Porém, Brasília é a única que cidade que consegue atender 100% da demanda para os recém-nascidos internados e, por isso, é chamada de capital mundial da doação de leite. Cerca de 150 mil bebês internados dependem da doação de leite no Brasil, mas o país não consegue atender 40% dessas crianças.
Apesar disso, o modelo brasileiro é reconhecido mundialmente pelo desenvolvimento tecnológico que alia baixo custo à alta qualidade. Em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a rBLH-BR como uma das ações que mais contribuíram para redução da mortalidade infantil no mundo na década de 1990. De 1990 a 2012, a taxa de mortalidade infantil no Brasil reduziu 70,5%. Atualmente o país assessora cerca de 24 nações quando o assunto é banco de leite.
Para Raquel Prata, o sucesso, não só do Brasil, mas de Brasília, é resultado da militância e do apoio que os profissionais engajados na rede oferecem às mães. ;Quanto maior a rede de apoio, maior o número de mães envolvidas e, consequentemente, maior a qualidade e o volume da doação. Amamentar é um processo difícil e cansativo, mas vale a pena, então a mulher precisa ser apoiada, ela precisa saber que isso vale a pena;, reforça.
A neonatologista Viviana Sampietro explica, que quanto mais estímulo a mãe faz, mais leite vai produzir. Por isso, o ato da doação aumenta o volume de leite que a mulher produz - não falta nem para o bebê, nem para a doação. Além disso, a amamentação é um processo essencial para os recém-nascidos, porque fornece nutrientes, células de defesa, aumenta a imunidade e ajuda no desenvolvimento do cérebro e nas conexões neurológicas das crianças.
A médica ainda explica que jamais se deve realizar o aleitamento cruzado, pois isso pode contaminar o bebê. ;É preciso doar para o banco de leite, pois lá ocorre a pasteurização. Ademais, é necessário alertar as doadoras para sempre se submeterem à avaliação do banco de leite ;, adverte Viviana.
Em comemoração ao Dia Mundial da Doação de Leite Humano, a Secretaria de Saúde promove uma série de eventos que visam a conscientização da comunidade quanto à importância da doação, dicas sobre aleitamento materno e exibição de vídeo sobre a campanha. Dos 15 bancos de leite do DF, 13 são padrão ouro, e há ainda três postos de coleta.

Grupo de amor

Preocupada em se organizar com as rotas das doações, Raquel Prata decidiu criar alguns grupos no WhatsApp para organizar melhor a coleta. Um deles é o Mães Doadoras do Hmib, que virou uma grande surpresa para a chefe do banco de leite do hospital. ;Conseguimos aumentar 50% o volume de leite coletado quando criamos o grupo. As mães sentem o amor, acompanham de perto o processo, se apoiam e buscam forças. Virou uma família, elas tiram dúvidas umas com as outras;, relata, entusiasmada.

A servidora pública Carolina Freitas, 35 anos, conta que, sendo mãe de primeira viagem, encontrou no grupo uma rede de apoio. ;Já fiz várias amizades, a gente se ajuda. Os processos de amamentação e de doação não são fáceis, às vezes, ficamos desestimuladas, mas as meninas (do grupo) são essenciais para dar força;, afirma.
Carolina Freitas conta que o grupo de WhatsApp dá força para as mães e estimula a doação de leite


Números da doação de leite no DF

  • Cerca de 150 mil recém-nascidos internados dependem da doação de leite no Brasil
  • O DF é a segunda unidade da Federação que mais arrecadou leite humano entre 2006 e 2015, perdendo apenas para São Paulo
  • Contudo, Brasília é a única cidade do mundo que consegue atender 100% da demanda para os recém-nascidos internados
  • O Brasil consegue atender 60% da demanda de leite humano dos recém-nascidos internados
  • Existem 221 Bancos de Leite e 187 Postos de Coleta no Brasil
  • Existem 15 Bancos de Leite e três Postos de Coleta no DF
  • Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, no ano passado, os bancos de leite da capital coletaram 15.893 litros de leite

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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