Cidades

Polícia investiga técnica de enfermagem por golpe de R$ 360 mil em paciente

A suspeita usava o cartão de uma mulher de 74 anos para comprar produtos importados, como bolsas, celulares e sapatos. Ela confessou o crime à polícia

Júlia Campos - Especial para o Correio, Jéssica Eufrásio*
postado em 23/05/2017 15:35
Uma técnica de enfermagem está sendo investigada pela Polícia Civil por suspeita de ter gastado, aproximadamente, R$ 364 mil no cartão de uma paciente sem autorização. Fabiane de Nascimento Chaves, 34 anos, era funcionária de uma empresa que presta serviços de home care e cuidava de uma idosa de 74 anos em um prédio em Águas Claras. Genro da vítima, o policial militar da reserva Johnson Rodrigues, 49, conta que a profissional foi contratada para cuidar da sogra depois que ela teve três paradas cardíacas e ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por conta de um enfisema pulmonar. A paciente teve paralisia nos membros inferiores e, segundo ele, após 18 idas à UTI, a família optou por contratar um serviço de cuidados em domicílio.


A suspeita da fraude começou com um vendedor de produtos importados que tem uma loja on-line e faz a entrega das mercadorias. Ele contou que, em 12 dias, Fabiane comprou dois smartphones e outros objetos, tudo à vista. Em aproximadamente duas semanas, ela gastou mais de R$ 12 mil. Segundo ele, as entregas foram feitas em endereços variados, como no Guará, Águas Claras e Riacho Fundo. Quando ela quis comprar o terceiro celular, despertou a desconfiança do vendedor.
Ele resolveu ir ao endereço de Águas Claras e perguntou ao porteiro se a dona do cartão morava lá. O funcionário respondeu que sim, mas que era uma mulher acamada. O vendedor conversou com a idosa, que garantiu que nunca havia emprestado o cartão e que a enfermeira não era sua filha, mas trabalhava lá.
Johnson Rodrigues diz que soube do problema após receber uma ligação da mulher. O casal recebeu a informação de que Fabiane teria se passado por filha da idosa e realizado compras de produtos importados como bolsas, celulares e sapatos. No dia seguinte, ele procurou o banco e soube que as compras superaram aquilo que a família esperava. Segundo Johnson, do início de janeiro a 15 de maio, cerca R$ 364 mil foram subtraídos da poupança da vítima. A técnica de enfermagem fez uma viagem a Salvador, reformou a casa da sogra, trocou todos os móveis da residência em que mora e até comprou uma adega com vários vinhos importados para utilizar no trabalho, conta o militar.
Ele foi à delegacia para prestar ocorrência de furto mediante fraude. O registro foi feito, mas não havia efetivo para fazer o flagrante, já que Fabiane estava com cartão e prestes a fazer a compra do terceiro celular. A família acionou então a Polícia Militar, que abordou a mulher. Ela sustentou a versão de que tinha autorização para a compra. "Eu pedi a ela que me entregasse o objeto e um documento de identificação. Eu vi que o cartão não estava no nome dela. Ela disse que pertencia à senhora de quem ela cuidava e que a compra havia sido autorizada", relata a tenente Priscilla Galvão, responsável pela ocorrência.
Ao subir ao apartamento da sogra de Johnson e dona do cartão, a informação recebida foi de que a senhora não tinha conhecimento dos gastos. A técnica de enfermagem foi encaminhada à 21; DP (Taguatinga Sul). De acordo com o genro, no fim do ano passado, dois cheques foram descontados na conta da sogra. "Cada um dos cheques foi no valor de R$ 7,5 mil. Um deles foi emitido em nome da Fabiane, o outro, em nome da outra técnica de enfermagem, já demitida", conta. Johnson acrescenta que, após conversar com ambas, Fabiane devolveu o dinheiro. A outra técnica só entregou a quantia de volta depois que ele prometeu levar o caso à delegacia. "A família está muito abalada. Minha preocupação é de que, pela experiência que ela [Fabiane] tinha, outras pessoas possam ter sido vítimas também", comenta.
O levantamento total dos gastos ainda não foi estimado pela investigação. De acordo com o delegado-chefe da 21; DP, Raimundo Vanderly, Fabiane foi interrogada e confessou ter cometido o crime. "Ela deu detalhes de toda a trama e ainda indicou os bens que teria adquirido. "No entanto, alguns bens não conseguimos recuperar, como a viagem que ela pagou para família e a reforma da própria casa", explica. Os objetos comprados no cartão da vítima foram encaminhados para a delegacia. Após o depoimento, Fabiane foi solta. Ela responderá por furto mediante a fraude e continuidade do ato. A suspeita é de que ela tenha começado a agir em janeiro deste ano.
O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) recebeu a denúncia relativa ao caso. No dia 31 deste mês, ocorrerá uma reunião plenária do conselho para designar o responsável por dar o parecer para abertura do processo ético ou arquivamento da denúncia, que, caso aceito, terá conclusão em até 120 dias. Se for comprovado o crime, a profissional pode levar de advertência verbal até cassação do direito de exercer a função.
O Coren-DF ainda ressalta que possíveis vítimas de irregularidades cometidas por enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem devem registrar denúncia. Para aqueles que contratam um profissional para trabalhar em casa, principalmente serviços particulares, é importante solicitar periodicamente a carteira de identidade profissional e a certidão de nada consta emitida pelo conselho. A consulta também pode ser feita no site da instituição.
O Correio entrou em contato com uma das empresas para a qual Fabiane prestava serviços, mas não a encontrou para comentar o caso. Funcionários informaram que ela está afastada das funções e que não tem vínculo empregatício com o local.

Colaboraram Deborah Sogayar e Walder Galvão, estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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