Adriana Izel
postado em 27/05/2017 08:00
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Por cerca de 10 anos, a banca da 313 Norte ficou abandonada. Inúmeras vezes o espaço foi alvo de pichações e vandalismo. Mas esse cenário mudou nos últimos dias. Quem passa pela entrada da superquadra, agora se surpreende com as portas abertas, muita movimentação e os belos grafites feitos pelas artistas do cenário brasiliense Michelle Cunha, Ju Borgê, Siren, Diana Poranga e os coletivos Risofloras e Transverso. A mudança gerou questionamentos. A pergunta dos moradores é constante: ;O que vai ter aí?;.
A resposta é simples: um espaço coletivo. A antiga banca de jornais agora dá lugar ao Ateliê Mulheres que Inspiram o Mundo, um projeto de iniciativa do Coletivo Bambuo e da organização Mais Pontes Menos Muros, um dos braços do coletivo que tem como objetivo promover ações de apoio aos imigrantes no Distrito Federal. ;Temos várias ações. O nosso objetivo é a celebração intercultural e também de apoio aos imigrantes, porque há alguns casos de pessoas em situações de refúgio. Assim surgiu a campanha Mais Pontes Menos Muros;, explica Marina Miranda, uma das integrantes do coletivo e moradora da 313 Norte.
Marina, de 27 anos, diz que sempre teve o desejo de ocupar o espaço da banca que permanecia fechada havia anos. ;Vimos uma oportunidade de ocupar de uma forma que fosse relevante para a comunidade local. O ateliê é um espaço aberto para quem quiser propor atividades principalmente de protagonismo feminino;, explica. O coletivo, então, buscou a Administração de Brasília com a proposta e conseguiu uma autorização temporária.
O espaço começará a funcionar oficialmente hoje, a partir das 13h, com programação até o início da noite, que inclui oficinas, aulas e bazar. A inauguração ocorre com uma semana de atraso, mas o adiamento foi até melhor porque possibilitou a inserção de mais atividades, todas promovidas de forma colaborativa. ;Não é um espaço nosso. É para ser um espaço da comunidade. As pessoas podem trazer qualquer ideia para participar e trocar experiência;, comenta Marina.
Engajamento coletivo
Às vésperas da inauguração, o ateliê ainda estava recebendo os últimos detalhes. Voluntária do Bambuo, Marina Bona, 18 anos, preenchia uma parede do ateliê com palavras de incentivo à cultura da coletividade, por meio do paradigma da abundância. Desde o ano passado, ela integra o coletivo, quando se deparou com um chamamento do Bambuo nas redes sociais. ;Eu estava desiludida do curso de publicidade. Eu queria algo mais social. Nesse tempo tenho aprendido muito, até mais do que na universidade. Eu ajudo na produção de eventos, fotografo e também auxilio as imigrantes. A gente vai se entendendo, a língua não é uma barreira quando se quer fazer o bem;, avalia.
Marina Bona se juntou a mais 12 pessoas que integram o coletivo Bambuo, que ainda tem outros ramos de atuação no DF, como nas comunidades da Estrutural e também de Sobradinho. E, se depender do sucesso que o ateliê tem feito entre os moradores da 313 Norte, esse número deve aumentar. Segundo Marina Miranda, a sociedade tem se engajado na proposta do espaço.
A aposentada Rita Venturini, 60 anos, é uma delas. Moradora da 313 Norte há 28 anos, Rita diz que, ao ver a movimentação na antiga banca, se sentiu nostálgica e lembrou que, há 20 anos, ela estava ao lado dos familiares pintando um espaço da quadra para melhorar a área de convivência das pessoas. ;Eu sempre tive vontade de usar esse local de forma coletiva, porque eu ainda acredito na coletividade. Mas sozinha, sempre foi difícil;, conta.
Com histórico em artesanato, a aposentada afirma que já se disponibilizou para ajudar no que for preciso. Seja com um copo d;água, seja um local para ir ao banheiro, o que importa é que ela estará envolvida no Ateliê Mulheres que Inspiram o Mundo. ;Fiquei feliz quando vi. Foi muito emocional, porque sei que a vida de um artista é difícil. A vida é troca, é isso. E acho que o mundo não devia ter muros, deveria ter amor;, completa.
Programe-se
Inauguração do Ateliê Mulheres que Inspiram o Mundo
313 Norte. Hoje, às 13h. Com bazar, oficinas, gastronomia (doces árabes e rotis) e música (Orquestra Camaleônica Calango Careta). Entrada franca. Classificação indicativa livre. Confira a programação:
; 13h ; Aula da introdução à astrologia com Helena (Brasil)
; 13h às 14h ; Aula de defesa pessoal com Raabia (Marrocos)
; 13h às 16h ; Oficina de turbantes afro com Aisha (Uganda)
; 13h às 18h ; Bazar colaborativo
; 15h ; Escambo de línguas: Espanhol com Darys (Cuba) e Francês com Marie, Sophie e Jakye (Congo)
; 16h ; Oficina Mulheres extraordinárias: O canto, a fala, a escrita com Vera Luz
; 18h ; Meditação zen budista com Fabiana (Brasil)
Como ajudar?
Entre em contato pelo Facebook, na página oficial do Bambuo (@coletivobambuo)
e do Mais Pontes Menos Muros (@MaisPontesMenosMuros), ou pelo e-mail coletivobambuo@gmail.com.