Cidades

Família de bebê sequestrado vive perto da pobreza extrema, na Estrutural

A jovem mora ao lado da sogra, em uma casa de pedaços de compensados reaproveitados e telha de amianto

Luiz Calcagno
postado em 08/06/2017 06:00
A casa de Sara, na Estrutural: mãe de Jhony é catadora de lixo. Pai está desempregado

Assim que o filho receber alta, Sara Maria da Silva, 18 anos, chegará em casa, no Setor de Chácaras Santa Luzia, e encontrará as poucas roupas do enxoval lavadas e secas. Foram recolhidas do varal ontem a tarde, pela cunhada Fabiana dos Santos e pela vizinha Luciana da Silva. Sara mora em uma invasão, num aglomerado de barracos próximos a uma região conhecida como Lixinho, de onde ela e grande parte dos moradores da região retiram seu sustento. O aterro irregular fica a cerca de 500m da última linha de residências de madeira. Em um bom dia de trabalho, catadores ganham até R$ 24. A jovem mora ao lado da sogra, em uma casa de pedaços de compensados reaproveitados e telha de amianto. A porta da rua, improvisada em MDF, não chega a cobrir o batente. O pai do bebê, Jhony dos Santos, 20, está desempregado.
[SAIBAMAIS]Ao lado, na casa da sogra, feita do mesmo material, é possível ver um carrinho e um bebê conforto, que serão compartilhados entre as crianças da família. Exceto pelo trânsito de Fabiana e de Luciana, os endereços ficaram trancados durante toda a quarta-feira. Na vizinhança, conhecidos descreveram um misto de revolta e alívio com o sequestro e a volta do pequeno Jhony para os braços de Sara. ;Estávamos todos tristes. Mas, quando a assistente social ligou para minha mãe, foi um momento de alegria, descreveu Fabiana. ;Isso só pode ser atitude de uma pessoa doente. Como podem roubar uma criança? Depois de um crime como esse, as pessoas ficam com medo. Se eu tivesse um filho agora, eu não desgrudaria da criança nem por um segundo;, completou Luciana.

Preocupação

O sequestro e o resgate do bebê Jhony foi o assunto mais comentado na região durante toda a terça e quarta-feira. Grávida de 7 meses, a também vizinha de Sara, Ana Paula da Conceição, 29, conta que não sabe onde vá ter o filho, mas que, se pudesse escolher, não seria no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ela destaca que a maior parte das pessoas da região não tem carro e que, se passam mal, acionam o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), que as leva para a unidade de saúde que puder receber mãe e bebê. ;Depois do que aconteceu, eu fico com medo. Vou ficar colada no meu bebê o tempo todo, não importa o que digam. É o tipo de coisa que não pensamos que vai acontecer com a gente ou com alguém próximo, que só vemos na tevê;, desabafou.

Catador, Marcos Vinícius Carvalho, 36, conta que conversou com Sara na manhã de ontem. ;Ela me contou que disseram para ela ir arrumar o cabelo e pediram que deixasse ao bebê no quarto. Quando ela voltou, o bebê não estava. Se o sumiço de um bebê já deixa as pessoas preocupadas, imagine dentro de um hospital;, questionou. Ele demonstrou indignação com a história. ;É demais. O governo precisa rever seus conceitos de eficiência e segurança. Uma coisa como essa acontecer em um hospital é um absurdo. Agora, precisamos que a Justiça seja feita;, disparou. Também vizinho, o catador Arnaldo Sousa Santos, 57, concorda. ;O bebê é o terceiro neto da família, mas o primeiro filho de Sara. Ainda bem que conseguiram resgatar a criança. Ficamos todos aliviados;, comentou.

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