Cidades

Defesa de mulher que sequestrou bebê no Hran pede exame psiquiátrico

Acusada de roubar bebê fala como se a criança fosse dela, sem diferenciar fantasia e realidade, segundo a advogada

Luiz Calcagno
postado em 09/06/2017 06:00
Policiais civis carregam o bebê, após  encontrarem Gesianna: ela mora com o marido em um apartamento sobre o dos avós, no Guará
;Aonde está o meu bebê?;. Essa foi a primeira reação de Gesianna de Oliveira Alencar, 25 anos, na manhã de ontem, no início da audiência de custódia, que a levou à prisão. O relato é de Leda Rodrigues Rincon, advogada da mulher acusada de roubar um bebê no ambulatório do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), na última terça-feira. De acordo com a defensora, a cliente não consegue diferenciar fantasia e realidade. Não se deu conta que está presa e insiste ser a mãe biológica da criança. É o que argumentam, também, parentes e pessoas próximas à ex-estudante de enfermagem. Eles destacam, no entanto, que a jovem teve uma infância e adolescência tranquilas e nunca deu sinal de sofrer algum tipo de transtorno mental.

[SAIBAMAIS]Gesianna responde por subtração de incapaz com intenção de colocar a criança em uma família substituta. A pena varia de dois a seis anos (leia O que diz a lei). A advogada ressaltou que o caso está no início, por isso só traçará uma estratégia após o laudo psiquiátrico da acusada. Ela teve a prisão em flagrante convertida em preventiva em audiência de custódia no início da manhã de ontem. Está em uma cela comum da Penitenciária Feminina do Distrito Federal.

Na sessão de ontem, o juiz Aragonê Nunes Fernandes negou a liberdade pedida pela advogada e por um promotor de Justiça, sob o argumento de que a gravidade do caso ;espelha; a periculosidade de Gesianna. No fim da tarde, Leda Rincon entrou com um pedido de liberdade provisória e, caso a Justiça negue, ela recorrerá à segunda instância. ;É prejudicial para o estado psicológico da minha cliente permanecer na penitenciária. Ela precisa de atendimento psiquiátrico;, alegou.

O promotor Júlio Augusto Souza pediu a liberdade provisória por acreditar que a acusada não representa risco à sociedade. Ele disse não ter elementos para fazer uma avaliação psicológica da mulher e destacou que ;a prisão deveria ser a última providência;. ;Se existem medidas alternativas, devem ser adotadas. O caso é grave e a autora deve ser punida. Mas isso não está em questão. Entendi que uma liberdade provisória com medidas cautelares seria a melhor providência. Ela não tem passagens, tem endereço fixo e foi presa com colaboração da família;, enumerou. ;A permanência dela no presídio também pode causar uma reação de outras presas;, acrescentou.

Entre as medidas cautelares está a proibição de a acusada se aproximar do bebê, dos pais dele e do Hran. Júlio Augusto Souza confirmou, porém, que Gesianna dava respostas desencontradas e parecia chorosa. ;Perguntei insistentemente se ela sabia o que estava acontecendo e se já tinha ficado grávida. Ela disse que tinha e que o médico tinha dado o bebê para ela. Parei de insistir. Seria penoso e a audiência não é um julgamento de mérito. Entendo a comoção social, mas é necessário um critério técnico, que atenda a segurança da ordem pública e a dignidade da autora. A imagem dela já foi muito exposta;, ponderou.


Distante da mãe

Amiga da família de Gesianna, a funcionária pública Arlete Alves Ribeiro, 56, contou que a viu crescer na QE 38 do Guará II. Ela a conheceu em uma igreja da região administrativa, quando a acusada tinha 8 anos e frequentava o templo com a avó. A mulher destaca dois eventos trágicos na vida da jovem: a morte do avô, em 2015, próximo à data do casamento de Gesianna, e, alguns anos antes, a morte do pai, que morava em Unaí (MG) e, apesar da distância e da pouca convivência, a deixou ;arrasada;. ;Ela foi criada pelos avós. A irmã era uma pessoa nervosa, mas a de Gesianna é tranquila. Nunca deu problemas. Trata as pessoas com educação. Começou a namorar quando já era mocinha e, quando casou, estava muito feliz;, recordou.

Para Arlete, a diferença no comportamento de Gesianna e da irmã pode ser uma pista para o que aconteceu. ;Ela (Gesianna) defendia a irmã e também a acalmava, com seu jeito tranquilo e educado. Nunca aparentou ter problemas com a separação da mãe logo cedo. Se uma botou para fora em forma de revolta, a outra pode ter reprimido. Aquilo ficou lá dentro e pode ter explodido dessa maneira;, supõe. ;Quando recebi a notícia, fiquei com a boca seca. Tive muita pena dela e da avó. Acredito sinceramente que ela não está em seu juízo perfeito. Ela tem algum problema. Uma coisa que cresceu silenciosamente. Acho que precisa de tratamento e que não deveria ser presa, mas internada. Afastá-la, mais uma vez, das pessoas que ama pode ser ainda pior;, observou.

Um amigo de Gesianna que pediu para não ser identificado também a defendeu. Ele destacou que a personalidade da jovem é ;o oposto do crime que ela cometeu;. ;Acredito que o que ela fez é resultado de problemas que ela enfrenta. Não acho que, em sã consciência, ela faria mal a alguém. Quem a conhece, conhece a família dela e a história dela, sabe que foi uma atitude inesperada. Não é à toa que a família se dispôs a colaborar com a polícia. Lamento o ocorrido e, se precisarem de apoio, estarei com eles;, destacou. ;Vi muitas acusações na internet. Antes de julgar ou falar alguma coisa, é preciso conhecer a história. Saber quem é a pessoa e o que ela está passando. Não estou falando que o que ela fez é certo, mas há toda uma história por trás;, completou.
Gessiana de Oliveira Alencar

A acusada

Gesianna de Oliveira Alencar
; 25 anos
; Casada desde o fim de 2015. Não tem filhos.
; Tem curso superior incompleto. Trancou a matrícula da faculdade de enfermagem em uma faculdade particular.
; Está desempregada.
; Mora no Guará II, com o marido, em um apartamento no andar superior da casa da avó.

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