Cidades

Tendência entre jovens, narguilé traz problemas à saúde e leva ao vício

O narguilé se consolida como uma forma de socialização entre jovens da capital; especialistas alertam para as substâncias tóxicas que o produto contém

Patrícia Nadir - Especial para o Correio, Maria Isabel Felix
postado em 11/07/2017 06:02
O uso do narguilé em bares virou tendência entre jovens do DFO narguilé virou tendência entre o público jovem do Distrito Federal. O cheiro agradável das essências os atrai e incentiva a se reunirem em grupos em torno do equipamento. No entanto, o uso do cachimbo de mesa pode gerar riscos no futuro. Também conhecido como cachimbo d;água, shisha ; em árabe ; ou hookah ; na Índia e em países que falam inglês ;, é um equipamento de origem árabe em que o tabaco aromatizado é aquecido por meio da queima de carvão. A fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada por uma mangueira. Como usa mecanismos de filtragem com água, pode passar a impressão de que o consumo é inofensivo, mas especialistas alertam para a possibilidade de gerar problemas de saúde ou até levar ao vício.

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[SAIBAMAIS]O pneumologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Viegas explica que o consumo do cachimbo d;água não é inofensivo. ;A água do narguilé absorve 5% das substâncias químicas da fumaça. O resto é inalado. Além disso, muitas pessoas substituem o líquido por bebida alcoólica, intensificando os riscos;, observa. O especialista lembra que o mesmo composto que provoca o vício do cigarro, a nicotina, está presente no fumo usado no narguilé. ;A depender da quantidade tragada, o fumante pode se viciar.;

Muitos jovens, no entanto, não se intimidam com os riscos. Das 10 pessoas entrevistadas pelo Correio, todas usam o hookah cientes das ameaças à saúde. ;Eu penso que a maior parte das pessoas que são fumantes sabem dos perigos que correm, na própria embalagem da essência está o alerta. As pessoas que usam drogas, lícitas ou ilícitas, sabem dos problemas que cada uma acarreta;, opina a publicitária Elisa Borges, 22 anos.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os adeptos do cigarro normalmente terminam de fumar entre cinco e sete minutos, enquanto uma sessão de narguilé dura de 20 a 80 minutos. Isso corresponde a uma exposição aos componentes tóxicos presentes na fumaça de aproximadamente 100 cigarros. A queima do carvão também favorece a inalação de diversas substâncias cancerígenas, entre elas, o monóxido de carbono, potencializando a agressividade ao organismo.


Socialização


O jeito charmoso de fumar se tornou sucesso entre os jovens. De olho na tendência, o cachimbo de mesa conquistou vários bares do Distrito Federal. Victor Bastos, gerente de um dos estabelecimentos especializados em comercializar o produto, lembra que a origem do modismo remonta à cultura árabe. ;Eles se juntam para fumar narguilé. É como um momento de união.;

Bruno Lucas, 22, usa o cachimbo d;água uma vez por semana. Morador do Jardim Botânico, o estudante conta que, além de gostar do sabor, aprecia o momento que o fumo propicia com os amigos. ;Curto narguilé não apenas pela sensação, mas por todo o resto que está envolvido: fazer uma ;social; com os amigos, jogar conversa fora, tudo isso fica mais divertido com o equipamento;, relata. ;Narguile é diferente. O cigarro afasta as pessoas, especialmente por causa do cheiro desagradável. Já o shisha, devido ao odor agradável, não afasta ninguém, incluindo aquelas pessoas que não fumam. Todos ficam reunidos, sem ninguém se incomodar;, defende.

Segundo Andréa Cardoso, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), aromatizantes e lavorizantes são uma estratégia que a indústria do tabaco utiliza para que os jovens possam começar a fumar. ;Esse fator colabora com a disseminação desse dispositivo de fumar, pois o cheiro pode atrair novos usuários e reforçar o comportamento;, avalia a especialista.

De acordo com o pneumologista Carlos Alberto Viegas, da UnB, todas as formas de utilização do tabaco liberam nicotina para o sistema nervoso central, com risco potencial de causar dependência. Além disso, reforça que não existe nenhuma forma segura de consumo (veja arte).

Um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde e pelo Inca mostrou que o uso do tabaco foi responsável por 156.216 mortes no Brasil em 2015. A pesquisa ainda alerta que as mulheres que fumam perdem, em média, 6,7 anos de vida, e os homens, 6,1 anos. Já as ex-fumantes perdem 2,4, média um pouco inferior à dos homens que param de fumar (2,7).

A política de controle do tabaco reduziu em 35% a prevalência de fumantes nas capitais brasileiras, no período de 2006 a 2016. O aumento dos preços devido aos impostos, a proibição de publicidades e pontos de consumo em ambientes fechados, bem como a obrigatoriedade das imagens de advertência nos maços, são algumas das ações apontadas como importantes para a diminuição da população de fumantes no país, que já é uma das mais baixas do mundo.

O narguilé se consolida como uma forma de socialização entre jovens da capital; especialistas alertam para as substâncias tóxicas que o produto contém

Apoio

; Os Centros de Referência em Tabagismo oferecem auxílio de graça a quem pretende parar de fumar. Informações: 99214-6112 (Maria Suelita, assistente social).

Reflexos

R$ 56,9 bilhões
Prejuízos causados pelo tabagismo no Brasil


212 mil
Brasileiros maiores de 18 anos que afirmam usar narguilé

35%
Redução gerada pela política de controle do tabaco (de 2006 a 2016)

*Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer.

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