Cidades

No Dia do Amigo, Correio traz histórias de relações além das redes sociais

São histórias de pessoas que, mesmo com o passar do tempo, não perderam a essência da convivência. E o sentimento construído por anos se transformou em uma relação de família

Júlia Campos - Especial para o Correio
postado em 20/07/2017 07:32
Hoje adultos, eles cultivam uma amizade nascida quando eram crianças e estudavam no mesmo colégio, em Taguatinga

As redes sociais têm sido um caminho para aproximar quem está longe, para conhecer novas pessoas e até um meio de trabalho. No entanto, nas relações humanas em tempos de internet, é comum ouvir a famosa frase do ;vamos marcar; e o encontro demorar para acontecer ou nunca sair. Fica a sensação de que a conversa diária pelo celular ou pela tela do computador são suficientes para sustentar um vínculo. Que a curtida e o parabéns visuais bastam. Mas há quem preserve o contato físico. Que goste do olho no olho, do abraço apertado e da risada ao vivo e a cores. Hoje, 20 de julho, é o Dia do Amigo. Portanto, vamos contar histórias de pessoas que, mesmo com o passar do tempo, não perderam a essência da convivência. E o sentimento construído por anos se transformou em uma relação de família.

Assim aconteceu com Caio Resende, 24 anos, e os amigos. Em 2001, quando estava na 2; série em um colégio de Taguatinga, ele conheceu três garotos da turma, que começaram uma união mantida até hoje. Com o passar dos anos na escola, o número do grupo aumentou e chegou a 16 meninos. ;Passávamos mais tempo no colégio do que em casa. A gente estava grudado em tudo. Parecíamos irmãos, da mesma família;, relata Caio.

Beatriz e Natália são sócias em uma loja, que tem uma regra: em caso de briga que prejudique a relação, a empresa fecha, mas a amizade continua

Mesmo com alguns tendo aula em períodos diferentes, a relação se manteve firme. Eles sempre tentavam se encontrar. A casa de Davi Mendes, 24, era próxima à escola. À época, o imóvel era o ponto de encontro do grupo. ;Depois do treino, a gente sentava na frente da escola. Todo mundo ia embora, os portões fechavam, e a gente ainda estava lá, conversando. Depois ia para a minha casa, onde ficava mais um bom tempo. No fim das contas, era tanto papo e zoação que a gente fazia valer a pena cada segundo;, ressalta Davi.

Após mais de 10 anos de amizade, hoje, eles formam uma turma de 12. Cada um seguiu um caminho, seja na faculdade ou no trabalho, mas nunca deixou a relação de lado. ;A nossa história foi acontecendo naturalmente, apesar de sermos bastante diferentes. São vários anos e passamos por várias coisas;, comenta Álvaro Augusto, 24, um dos integrantes do grupo. Rodrigo Costa, 24, considera que a vontade de estarem sempre juntos reforça o sentimento criado. ;Nunca fomos de dar desculpinhas ou deixar em aberto nossas reuniões. Rola o convite e quem pode ir já fala ;bora;, quem não pode, também já avisa que não vai e pronto. Não tem ;ah, vou ver; ou ;vamos pensar melhor;, explica. ;Sabemos que quando a vida aperta, os irmãos estão ali para dar o suporte necessário. Confiança quanto a isso é 100%;, completa.

Sobre as redes sociais, Rodrigo acredita que são plataformas que ajudam, mas não substituem o contato presencial. ;Somos da época da transição. Vivemos o período em que nem existiam redes sociais sofisticadas, com foto e tudo mais. Logo em seguida vieram o Orkut, o MSN, o Facebook, o Instagram. Rede social é massa, mantém a interação da galera, mas não substitui a presença física, a risada e um abraço no seu amigo;, destaca.

Hoje com 37 anos, Diliane e Carulina são amigas desde o antigo segundo grau: até os maridos se tornaram grandes companheiros

Famílias unidas

A amizade de Diliane Pierre, 36 e Carulina Nóbrega, 37, também começou na escola, mas há 25 anos. Na 7; série, a empatia foi muito grande e elas se tornaram amigas dentro e fora da sala de aula. ;Foi um ano muito intenso e aproveitamos bastante. Na série seguinte, decidimos nos separar, devido às coisas que aprontávamos. Foi quando ela (Carulina) reprovou. Não fizemos o ensino médio juntas. Uma estudava de manhã e a outra, à tarde, mas a amizade permanecia;, relata Diliane.

Ela conta que, logo após se formar, engravidou e, coincidentemente, foi trabalhar na mesma escola onde conheceu Carulina e amiga cursava o último ano. Com o nascimento do filho de Diliane, elas se uniram mais. ;Ela é madrinha da minha segunda filha, sou madrinha do casamento dela e a Carulina, do meu. Nossos maridos também são muito amigos. Todas as quartas-feiras, nos reunimos para assistir aos jogos de futebol e, nos fins de semana, estamos sempre juntos. Contamos uma com a outra para tudo;, diz Diliane.

Negócio à parte?

Já amizade da Beatriz Nunes, 32, e Natália, 34, foi além. Elas, que se conheceram aos 12 anos, hoje são sócias de uma empresa de produtos orgânicos, a Biounat. Desde o início do negócio, a regra é clara: caso haja algum desentendimento que prejudique a relação, a empresa fecha, mas jamais a amizade acaba. Por conta da rotina, elas tiveram alguns desentendimentos, mas nunca brigaram. ;A gente sempre se identificou muito. Vivíamos uma na casa da outra. De tão grudadas, nos apelidamos de maridas;, conta Beatriz.

Bia, como é mais conhecida, diz que há quem pergunte se elas são irmãs. ;A convivência faz isso. Sempre tivemos uma relação muito tranquila, de parceria muito forte. A Nati é uma irmã que a vida me deu;, declara. As amigas instituíram o Dia da Amizade Biounat, para reforçar os laços e lembrar do tempo que a relação era nutrida por mais momentos festivos. Uma vez por mês, saem juntas para comer, dançar, se divertir. E tudo é por conta da empresa.

Seres sociáveis

A psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, ressalta que somos seres sociáveis. Desde pequenos, precisamos de uma rede de apoio, diferentemente de outras espécies, que, em poucos dias, conseguem se virar sozinhos. Segunda ela, às vezes, um estranho desperta mais um sentimento de amizade que alguém com parentesco. ;É interessante pensar assim. Relações desse tipo fortalecem e desenvolvem diversos campos da vida de uma pessoa. Estudos revelam que a felicidade está associada a bons amigos e não a muitos;, relata.

Ainda de acordo com Rita, os amigos virtuais são uma realidade e também precisam ser compreendidos. Mas jamais serem a única opção. ;Não podemos desmerecer essas amizades. Elas também alimentam boas emoções, apesar de não serem suficientes. Nem sempre é preciso conhecer a história inteira da outra pessoa e ter essa convivência toda. Mas não dá para viver disso, é preciso outras relações para ter uma entrega;, alerta a especialista.

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