Cidades

Secretário diz ter "total interesse" em esclarecer caso Luís Cláudio

Edval Novaes disse que o motorista não passou por exame de corpo de delito antes de ser preso porque "seria posto em liberdade após o pagamento da fiança"

Carina Ávila - Especial para o Correio, Ana Maria Campos, Otávio Augusto
postado em 21/07/2017 06:00
A cerimônia ocorreu na Igreja Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Filho usou camisa branca com foto do pai
O Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (Ncap) acompanha a investigação da Corregedoria da Polícia Civil do DF sobre as circunstâncias do suposto suicídio do motorista Luís Cláudio Rodrigues, terceirizado da Caixa Econômica Federal. Desde o início da semana, os promotores de Justiça da área requisitam informações sobre a apuração por considerarem que uma morte já é uma situação extremamente grave, e o fato de ter ocorrido dentro de uma delegacia potencializa a importância do esclarecimento de todo o episódio. A missa de sétimo dia do motorista ocorreu ontem à noite em Sobradinho.
[SAIBAMAIS]O caso chamou a atenção dos promotores desde o início, quando veio à tona o possível suicídio em uma cela da 13; DP, em Sobradinho. Luís Cláudio chegou à unidade após ser autuado pelo crime, previsto no Código Brasileiro de Trânsito (CBT), de embriaguez ao volante. Pelo exame realizado no flagrante, ele estava com níveis altíssimos de álcool, de 1,35 miligrama por litro de ar expelido. Horas depois de dar entrada no local, porém, o motorista foi encontrado morto. A Polícia Civil aponta que ele se enforcou com a própria camisa.

Familiares de Luís Cláudio procuraram o Ncap, divisão do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) responsável pelo controle da atuação de policiais civis e de combate à tortura. Uma testemunha apresentada pelo advogado dos parentes prestou depoimento ontem e, à tarde, foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Civil. Por envolver sigilo da identidade, promotores do caso não deram informações sobre detalhes que possam ajudar a elucidar a história. A avaliação é de que é cedo para uma conclusão sobre possível violência praticada contra Luís Cláudio, pois faltam depoimentos, avaliação do perfil psicológico da vítima e conclusão dos laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto de Medicina Legal (IML).

O secretário de Segurança Pública e da Paz Social, Edval Novaes

Corpo de delito

O secretário de Segurança Pública e da Paz Social, Edval Novaes, disse nesta quinta-feira (20/7) que tem ;total interesse em esclarecer os fatos; o mais rapidamente possível. Ele explicou o motivo de Luís Claúdio não ter passado por um exame de corpo de delito antes de ser preso. Sem a análise, não é possível garantir o estado físico em que ele chegou à delegacia de Sobradinho. ;Ele seria posto em liberdade após o pagamento da fiança. Não se faz exame em toda a pessoa que é levada para a delegacia, não teria como dar vazão a isso. Só é submetida a exame de corpo de delito se, de fato, for recolhida ao sistema prisional;, afirmou.

Em nota, a Polícia Militar se limitou a informar que as informações sobre o histórico do sargento da Rotam Carlos Rodrigo Oliveira de Almeida são sigilosas por questões de segurança. ;O sargento possui em sua ficha funcional mais de 60 elogios e nenhuma punição;, resumiu.

Ronco

A primeira testemunha intimada pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil para depor sobre o caso foi ouvida na tarde de ontem, logo após depoimento para o MPDFT. Trata-se de um c.
Além da testemunha, foram ouvidos, na mesma tarde, o sargento da Rotam Carlos Rodrigo Oliveira de Almeida, envolvido no acidente de trânsito com Luís, três agentes civis da 13; DP e o vizinho que conduziu o carro do motorista até a delegacia, a pedido dos policiais que atenderam a ocorrência do acidente. Todos afirmaram que ;foram orientados pela Polícia Civil a não conversarem com jornalistas;. Os agentes aguardaram com o sargento da Rotam do lado de fora da Divisão Especial de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), por aproximadamente duas horas até serem chamados para prestar os esclarecimentos.

Memória

Embriaguez, prisão e mistério

Fotos de arquivo mostra Luís Cláudio Rodrigues fazendo gesto com as mãos e sorrindoNa sexta-feira da semana passada (14/7), o motorista Luís Cláudio Rodrigues, 48 anos, morreu horas depois de ser preso por dirigir embriagado e bater no veículo de um policial militar. O acidente aconteceu por volta das 15h30 no Setor de Mansões de Sobradinho, próximo à casa de ambos os envolvidos. Testemunhas disseram que, após a colisão, Luís sofreu agressões e humilhações do PM, um sargento da Rotam que estava de folga e chamou colegas para realizarem a detenção ; a Polícia Militar nega qualquer violência durante a abordagem.

Luís submeteu-se ao teste do bafômetro, que, segundo a Polícia Civil, acusou 1,35 miligrama por litro de ar expelido. Em seguida, foi encaminhado para a 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho). A família dele chegou à unidade cerca de uma hora e meia após o acidente, por volta das 16h. Às 18h30, os parentes pagaram a fiança de R$ 1,2 mil. Depois disso, descobriram que Luís estava morto. Oficialmente, a Polícia Civil informou que o motorista praticou suicídio, versão contestada pelos familiares desde então.

A família também rejeita laudo preliminar do IML. O documento reforça que não houve agressões e que a morte ocorreu em decorrência de ;asfixia secundária a enforcamento;. Além disso, os peritos não visualizaram em Luís qualquer lesão externa, que não aquela proveniente do próprio enforcamento. Mas fotografias feitas pelos familiares no dia seguinte à morte revelam diversas marcas no corpo da vítima. Peritos ouvidos pelo Correio avaliaram que Luís apresenta marcas de violência e não apenas no pescoço.

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