Cidades

Familiares e amigos do motorista da Caixa rejeitam tese de suicídio

Eles descrevem o perfil alegre do motorista Luís Cláudio Rodrigues, encontrado morto em cela de delegacia

Carina Ávila - Especial para o Correio
postado em 22/07/2017 08:00
Colegas de trabalho de Luís, todos motoristas da Caixa Econômica Federal, reforçaram que o profissional jamais chegou embrigado ao serviço
A investigação da morte de Luís Cláudio Rodrigues, motorista terceirizado da Caixa Econômica Federal encontrado morto na 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho), em 14 de julho, tem como parte fundamental a construção do perfil da vítima. Para a Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), saber detalhes, como a situação emocional e psicológica, os hábitos, o momento de vida e os possíveis problemas pessoais, podem ajudar a entender as circunstâncias do suposto suicídio cometido por Luís, dentro da cela, horas depois de, embriagado, bater no carro de um policial militar.

Nos últimos dias, o Correio conversou com familiares, amigos e conhecidos do motorista na tentativa de reconstituir os últimos passos do homem chamado, na intimidade, de Caio ou Caial. Ele vivia havia nove meses, em uma casa do Setor de Mansões Sobradinho, com duas irmãs, Marta e Juliana Rodrigues; o cunhado Marcos Eustáquio, marido de Marta; e a sobrinha Anna Beatris Rodrigues, filha de Marta. ;Antes disso, moramos juntos por 10 anos. Depois, mudamo-nos de casa. Ele foi para um canto, e, nós, para outro, mas sempre fomos grudados, e ele voltou a viver conosco;, relembra Marcos.

Francisco, amigo de Luís:

Pagode

;O meu irmão esbanjava alegria e vontade de viver;, afirma Marta, 54. Foi com essa inspiração que ela colocou para tocar uma das músicas favoritas do motorista, no momento do enterro: Push push, da banda norte-americana Brick. ;O que ele mais gostava de fazer era ouvir música, dançar e cantar;, aponta o cunhado. Segundo Marcos, Luís era fã de Seu Jorge, Carlinhos Brown e Zeca Baleiro, mas também não dispensava sertanejo universitário, como Marília Mendonça e a dupla Maiara e Maraisa, além do pagode dos anos 1980, levado pelos grupos Raça Negra, Fundo de Quintal e Só Pra Contrariar.

Divorciado há mais de 20 anos, o motorista teve um filho: Caio Vinícios Rodrigues, 27, pai de um garoto, de 9 anos, e de uma menina, de 4. ;Várias vezes, o meu pai me ligava, alcoolizado, falando: ;Diz que me ama!’ Mas eu sou muito frio e não falava. Arrependo-me muito disso. Eu devia ter dito mais vezes;, lamentou.

[SAIBAMAIS]Os colegas de trabalho também o descrevem com carinho. ;O Luís Cláudio era a nossa alegria diária. Um cara feliz assim nunca se mataria;, defende Charles Nunes, 46. ;Ele era extrovertido, piadista, brincalhão, zoava todo mundo da turma, fazia planos e estava realizado com os dois netinhos, pelos quais era completamente apaixonado;, reforça Odon Pierre Silva, 49, também da Presidência da Caixa. ;Ele tinha medo de ficar sozinho na sala à noite, tinha medo do escuro e de fantasmas, como ia ter coragem de se enforcar?;, questiona outro motorista, Pedro Paulo Argentino, 29.

Presente no sepultamento de Luís, realizado em 16 de julho, o presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, não poupou elogios ao funcionário. ;Ele é muito querido por todos. Pessoa dinâmica, sempre disponível, proativa. Por ser flamenguista, como eu, diariamente, conversávamos sobre futebol. Guardo momentos de saudades;, comentou.

Luís Cláudio deixou um filho, de 27 anos, e dois netos pequenos

Bafômetro

A reportagem esteve em 10 bares próximos à casa de Luís, no Setor de Mansões de Sobradinho. Em todos, encontrou amigos do motorista. ;Só depois da tragédia descobri que o nome do Caial é Luís Cláudio;, diz o aposentado dos Correios Francisco Carlos Rosendo, 62, enquanto tomava cerveja no Morada da Lua, em Sobradinho 2. ;Estávamos juntos praticamente todos os dias. Infelizmente, não o vi no dia em que morreu. Fico com os olhos cheios d;água toda vez que lembro que o Caial não está mais aqui;, afirma.

Em outro boteco, o autônomo Ricardo Souza, 39 anos, ressalta a alegria e a simpatia de Luís. ;Não tinha tempo ruim para o Caial. Estava sempre felizão, conversando com as pessoas de todas as mesas, mostrando fotos dos dois netos. Nunca o vi chateado ou reclamando de algo;, revela. Os parceiros de bar ressaltam o gosto do motorista por cerveja e cachaça, tomadas frequentemente. ;Ele sempre nos convidava para tomar um papa, que é como ele chamava a cachaça São Francisco;, diz.

No entanto, foi a bebida que desencadeou a série de eventos que levaram à morte do motorista. Luís foi detido, por volta das 15h, por conduzir embriagado e se envolver em um acidente de trânsito com o sargento da Rotam Carlos Rodrigo Oliveira de Almeida. Ele foi levado à 13; DP, em Sobradinho, após ser autuado pelo crime, previsto no Código Brasileiro de Trânsito (CBT), de embriaguez ao volante. Pelo exame realizado no flagrante, ele estava com níveis altíssimos de álcool, de 1,35 miligrama por litro de ar expelido. Horas depois de dar entrada no local, porém, o motorista foi encontrado morto.

Os motoristas terceirizados da Caixa ressaltaram que nunca viram Luís Cláudio alcoolizado no ambiente de trabalho. ;Sempre consciente e responsável;, conclui César Miranda, 52.

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