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Delegado conta detalhes de latrocínio: "Não demonstraram remorso"

Em entrevista ao Correio, Laércio Rosseto, da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), conta os detalhes do latrocínio e afirma que os suspeitos são "criminosos de alta periculosidade"

Mariana Areias - Especial para o Correio
postado em 11/08/2017 06:00
Menos de 24 horas depois do crime que tirou a vida da jornalista e servidora do Ministério da Cultura (MinC) Maria Vanessa Veiga Esteves, de 55 anos, a equipe da 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte), comandada pelo delegado Laércio Rosseto, prendeu os criminosos. Na noite da última terça-feira, por volta das 23h, na 408 Norte, Alecsandro de Lima Dias, 26, e o amigo, um adolescente de 15 anos, caminhavam pelas redondezas até avistarem Maria Vanessa, que estacionava o carro próximo ao Bloco C, prédio em que morava.
Após roubar os pertences da servidora, Alecsandro a segurou e o menor, cujo nome não pode ser divulgado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, desferiu um golpe de faca. Após o latrocínio, a dupla seguiu até a quitinete de Glauber Barbosa da Costa, 42 anos, ex-servidor do MinC. Antes mesmo da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para prestar socorro, Maria Vanessa morreu. Segundo moradores do local, ela gritou por socorro. Em entrevista exclusiva ao Correio, o delegado comentou detalhes sobre o caso que assustou a cidade e provocou a sensação de insegurança na Asa Norte.



Qual é a relação entre Glauber e Maria Vanessa?
Ainda não há como afirmar que existe relação entre Glauber e o crime de latrocínio cometido por Alecsandro e o colega menor de idade. A polícia continuará investigando. Precisamos de tempo para aprofundar a história.

Por que Glauber abrigou a dupla após o crime?
O que se sabe é que Glauber costuma acolher usuários de droga na quitinete dele. O local é desarrumada, sujo, e é bem característico de um ambiente de andarilhos e usuários de drogas. As câmeras mostraram que a dupla estava na quitinete também antes do crime.
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O que foi encontrado na quitinete?
Produtos típicos de usuários de crack: latinhas de refrigerante, isqueiro, resíduos e cinzas, além da faca utilizada no crime.

Glauber sabia do crime?
O que podemos afirmar é que ele soube do crime assim que a dupla voltou para a quitinete. Mesmo assim, ele manteve os jovens lá. Ele deu pouca importância e pensou que os colegas estavam blefando. Mas, depois que começou a sair no noticiário, ele viu que era verdade.

Ele chegou a ser preso?
Ele foi autuado por favorecimento pessoal e terá que pagar uma multa. Ele acabou liberado em seguida, pois não há nenhuma prova que o ligue ao crime.

Como os criminosos escolheram a vítima?
A dupla costumava praticar esse tipo de crime. No momento, não se pode dizer que foi premeditado. Eu posso afirmar que eles planejavam matar alguém naquele dia. O menor disse isso, em depoimento.

Qual foi o trajeto da dupla e quanto tempo demorou para que chegassem à quitinete?
São cerca de 400m do local do crime até a quitinete. Eles caminharam do Bloco B da 408 Norte até o Bloco B da Comercial da 208 Norte. Ali, dentro de um contêiner de lixo, despejaram a bolsa dela, com a chave da residência, os cartões de crédito e os outros pertences. Eles destruíram o celular da vítima, que também foi encontrado no local. Em seguida, entraram na quitinete esbaforidos, um de cada vez, para não despertar atenção das pessoas. Quando chegamos ao local para prendê-los, tinham indícios de que eles haviam usado drogas.

Depois de matar Maria Vanessa, a dupla correu com pertences dela e despejou próximo do local. Por que criminosos que pensam em roubar a vítima fazem isso?
A gente tem o seguinte raciocínio: quem pratica assalto e quem é assaltado estão com níveis de adrenalina muito altos. De acordo com a investigação, a gente concluiu que houve uma hesitação da vítima quando os criminosos pediram a chave do carro. Não necessariamente de forma intencional. Foi quando o menor a esfaqueou. Neste momento, tudo indica que ela pode ter tentado correr.

A polícia já ouviu o namorado dela e os colegas que moravam com ela?
Ainda não. Conversamos primeiro com os familiares. Mas continuaremos a investigação.

Os criminosos demonstraram arrependimento?
São criminosos de alta periculosidade. Foram frios e não demonstraram remorso. O menor não tinha consciência da gravidade do crime.

Eles têm passagem na polícia por outros crimes?
Alecsandro tem passagem por furto, roubo, receptação, porte de arma e estava em prisão domiciliar por cometer crime de roubo. O adolescente possui quatro passagens por ato infracional análogo ao crime de roubo, duas por lesões corporais, uma por ameaça e uma por crime de dano a um bem público ou particular. Ele cumpriu medida socioeducativa e estava em liberdade.

Qual será o futuro dos envolvidos?
Um vai para o sistema penitenciário. Ainda não se sabe o que a Vara da Infância decidiu para o adolescente. Mas ele está sujeito a uma medida socioeducativa, que seria uma internação. Agora, começaremos a checar informações no Ministério da Cultura. Glauber foi posto em liberdade, mas, se for necessário, será intimado novamente.

Como fica a questão da insegurança da cidade?
Portar faca não é crime no Brasil. Não dá para encaixar nem como contravenção de arma branca. Crimes assim crescem por aqui e é necessário uma legislação em torno disso. Apreendemos facas todos os dias aqui, mas não podemos fazer muita coisa. Tem sido o instrumento predileto de criminosos, hoje em dia. Mas medidas preventivas devem ser tomadas. As pessoas têm que evitar ficar paradas dentro do carro, ficar atentas ao movimento do local quando se estaciona e tomar cuidado com o celular, que muitas vezes tira a atenção. Mulheres costumam ser um alvo mais fácil, principalmente em momento de chegada e saída delas do veículo.

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