Cidades

Cia Bahira de Dança difunde cultura árabe e empoderamento feminino

O Prata da Casa desta semana apresenta o trabalho do grupo de dança do ventre, formado por quatro amigas bailarinas

Victória Fernandes*
postado em 11/08/2017 15:37
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Arte milenar, passada de mulher para mulher por gerações, a dança do ventre tem o poder de resgatar a autoestima feminina. A avaliação é da bailarina Dalilah Lopes. "Por meio de movimentos da pélvis e do colo do útero, ela traz controle corporal, consciência de si e dos movimentos. Ela te resgata como mulher", afirma, ressaltando que a arte é uma forma de empoderamento feminino e respeito à individualidade.

"Meu quadril é diferente do seu, que é diferente do de outra mulher. O movimento nunca vai ser igual. Ela traz o empoderamento como ser único. Não vai te engessar, pelo contrário, vai aflorar todas as suas potencialidades. A dança é para todas, independentemente de religião, altura e peso", assegura Dalilah. "Não tem essa de ;Ah, eu estou gordinha, não vou me expor;. Não tem isso", completa.

A mensagem da dançarina não só foi ouvida como rendeu um belo fruto: a Cia Bahira de Dança, formado por quatro ex-alunas dela. O grupo, que traz a palavra "esplêndida" em árabe no nome, surgiu em 2011 e começou as apresentações em 2016.
quatro mulheres vestidas com trajes de dança do ventre em uma sala amarela

As integrantes se conheceram em 2010, quando faziam aulas na escola de dança Marhaba, onde hoje também dão aula. Cada uma buscou a dança por um motivo diferente. A policial Daniela França, 34 anos, precisava de uma válvula de escape. "O mundo cobra tanto da mulher. A dança é o momento em que você pode se soltar; explica.

Já para a professora de geografia Wilda Barbosa, 47 anos, e a servidora pública Adriana Oliveira, 35, o interesse veio do amor pela história e pela cultura egípcia, enquanto a bancária Sarah Graner, 34, chegou ao estilo por acaso: "Na verdade, eu ia fazer taekwondo, mas fui a uma aula de dança a convite de uma amiga em que a professora estava ensinando um oito maia. Eu pensei: ;Esse negócio é muito difícil. Só por isso, vou ficar" brinca.

Além do estilo tradicional da dança do ventre, o grupo incorpora coreografias de dança núbia, said, dabke e danças folclóricas, mostradas em jantares, restaurantes, espetáculos e eventos e apresentações particulares. "São 22 países árabes, com danças e figurinos diferentes. Nós procuramos estudar a cultura também, não só a dança do ventre que as pessoas conhecem. Acaba sendo um trabalho multidisciplinar. Quem está na dança, aprende música, a tocar instrumentos e até geografia", conta Adriana.

Amizade contra o preconceito


Além do prazer de mostrar sua arte, as quatro aproveitam o vínculo de amizade formado. "A dança do ventre tem o poder de aproximar pessoas. Cada aluna vem com uma perspectiva diferente, algumas até por recomendação médica e psicológica. Nós acabamos dividindo os mesmos problemas, as mesmas dificuldades e as mesmas alegrias também", explica Adriana.

Como nada é perfeito, Sarah reclama sobre o preconceito que a dança do ventre sofre no país. "Temos muita dificuldade com a questão da dança em Brasília,; na verdade, no Brasil de forma geral. Existe uma dificuldade para as pessoas aceitarem a dança do ventre como arte e não como uma divulgação de sensualidade. Tem a parte sensual, claro, mas não é sexual, esse não é o foco. Às vezes dá vontade de parar, mas a gente não consegue, faz parte da nossa vida e de quem somos."
* Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende

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