Cidades

Dose dupla: seca em Brasília é problema à saúde e aos reservatórios

Além de se preocuparem em cuidar da saúde, moradores do DF precisam continuar a economizar água; em um mês, volume do Reservatório do Descoberto, que abastece mais de 60% da cidade, caiu em quase 10 pontos percentuais

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 15/08/2017 06:00
O costureiro Fernando da Silva, morador de Santa Maria, reclama que a água tem demorado cadas vez mais tempo para voltar à torneira

O Distrito Federal está em estado de alerta laranja, o segundo mais grave, devido à baixa umidade na região, que chegou a 15% na tarde de ontem. O aviso, emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), destaca o risco à saúde e, segundo especialistas, é preciso se manter hidratado. Com o período de seca, também se agrava a situação dos reservatórios da capital. Em um mês, o volume do Descoberto, que abastece mais de 60% do DF, caiu quase 10 pontos percentuais, chegando a 34,79% do volume total ; o ideal é que o mês termine com o índice de 25%. Até o momento, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) não planeja novas ações emergenciais para conter a crise, como ampliação do racionamento para dois dias. Mesmo assim, apenas no último fim de semana, o Correio recebeu reclamações de 10 leitores, de diferentes cidades, que relatam a demora cada vez maior para o retorno da água às torneiras.

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No condomínio Porto Rico, em Santa Maria, até junho, o abastecimento de água era normalizado ainda na manhã do dia seguinte ao corte. Agora, segundo o costureiro Fernando da Silva, 71 anos, a família fica até dois dias sem água. ;Sempre é um sufoco, temos que encher todos os tambores e garrafas da casa para ter o que beber e tomar banho;, conta o homem. O lote de 300 metros quadrados, onde o costureiro mora, abriga mais 10 pessoas. São duas casas pequenas e um estúdio de costura. ;Parece descuido, mas nós nunca imaginamos viver um racionamento, então achava luxo ter uma caixa d;água, preferia comprar o básico. Mas, pelo visto, agora vou ter que adquirir uma;, relata.

Na Guariroba, em Ceilândia, o serviço também vem demorando mais a ser normalizado. ;Agora, chegamos a ficar dois dias sem água. No primeiro dia, usamos os reservatórios que temos em casa, mas no segundo é um caos;, conta a estudante Marisa Ribeiro, 22. Segundo ela, a situação fica ainda pior no período de seca. ;Está muito quente, a vontade que tenho é de tomar dois banhos ao dia, mas como que faz quando não tem água?;, questiona.

A otorrinolaringologista da clínica Ceol Otorrino Adriane Casado explica que, em dias de corte, a prioridade deve ser guardar água para se hidratar. ;É necessário tomar pelo menos dois litros de água por dia e umidificar o ambiente. Uma boa dica para o período de racionamento é deixar os baldes cheios espalhados pela casa, porque isso deixa o ambiente mais úmido;, destaca. Segundo a médica, mudanças na alimentação também podem ajudar. ;Saladas e alimentos ricos em água podem ajudar na hidratação. Lembrando que também é uma época propícia a quadros de gripe, então, é importante deixar a via nasal umidificada, passando soro até duas vezes ao dia no nariz;, aconselha.

Ao ser questionada sobre as reclamações, a Caesb afirmou que o abastecimento não está demorando mais que o comum para ser normalizado. Em nota, a concessionária informou que em 90% das vezes, o abastecimento tem retornado no primeiro dia do período de estabilização. No geral, o serviço é normalizado em até 48 horas.

Abastecimento

Entre terça-feira e domingo da semana passada, foram os moradores do conjunto 25 do Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, a reclamar da falta de água. ;Passamos cinco dias sem água, é uma situação revoltante. Tive que cancelar a festa do Dia dos Pais que faríamos, porque chegou a uma situação em que paramos de lavar a louça e tivemos que tomar banho na casa de parentes;, conta a servidora pública Rossana Peres Torres, 51. Segundo a Caesb, o corte ocorreu apenas a partir da última quinta-feira, devido ao ajuste que a companhia fez no sistema para melhorar o abastecimento da região.

A empresária Betty Izidoro, 61, moradora do Setor Sul do Gama, conta que a demora para normalizar o abastecimento vem começando a trazer prejuízos financeiros. Proprietária de um salão de beleza especializado em corte de cabelo masculino, acaba gastando muita água na limpeza do estabelecimento. ;Tenho uma caixa d;água de 500 litros que uso na minha casa e no salão. Estou tentando economizar, mas, como cortamos muito cabelo, acabo limpando a loja mais de uma vez por dia. A água que consigo guardar mal dá para um dia, quem dirá mais;, relata. Nas últimas semanas, Betty afirma que, em dias de racionamento, vem rejeitando procedimentos que usam água. ;Não estou mais fazendo relaxamento quando tem o corte de água, porque a limpeza tem que ser muito bem-feita, para evitar um problema depois. Prefiro perder um cliente agora do que pôr a saúde deles em risco, mas traz prejuízo;, diz.

Na semana passada, outra obra para melhorar o abastecimento do DF entrou em destaque. Mesmo 74% concluída, o início da captação de água do Lago Paranoá foi adiado para 2 de outubro deste ano. O sistema emergencial é uma das principais apostas da Caesb contra a crise hídrica, que, segundo a Curva de Acompanhamento da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), enfrentará o pior quadro em outubro, quando o Descoberto deve chegar a 9% do volume total. Segundo a concessionária, não haverá prejuízo para o que já está programado em termo de reforço no abastecimento.

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