Cidades

De surpresa, alunos ocupam prédio da UnB na Asa Norte

Estudantes montaram barreiras em frente à entrada principal, com cadeiras e carteiras, para impedir entrada de alunos fora do movimento e professores

Thiago Soares
postado em 15/08/2017 09:06

Alunos que ocupam prédio da UnB pedem que demissões de funcionários terceirizados

Um grupo com cerca de 20 estudantes ocupa um prédio no campus da Universidade de Brasília (UnB), na Asa Norte. A ação que ocupou o Bloco de Salas de Aulas Sul (BSA) teve início ainda na noite de segunda-feira (14/8), quando, por volta das 22h40, alunos se reuniram pela primeira vez para definir os rumos da ocupação e bloqueram as entradas do edifício com mesas e cadeiras. Até o início da tarde desta terça-feira (15/8), os manifestantes continuavam no local.

Um dos representantes do movimento "Estudantes e Trabalhadores Terceirizados da UnB na Luta" afirmou à reportagem que a principal pauta da manifestação era o corte de profissionais terceirizados da universidade. Porém, outros ocupantes citaram o marco temporal da demarcação dos povos indígenas e quilombolas como o motivo central, proposta classificada como "genocida". O Supremo Tribunal Federal (STF) vota a aprovação do tema na quarta-feira (16/8).

[SAIBAMAIS] Por volta das 8h desta terça-feira (15/8), hora de início das aulas, a Polícia Militar compareceu ao local para evitar um confronto entre estudantes que ocupam o lugar e aqueles que tentavam entrar. Na confusão, a vidraça de uma porta do prédio acabou danificada. O tumulto foi controlado e ninguém foi preso.

Às 10h, outra confusão. A estudante de engenharia química Laura Junho, 21 anos, tentou abrir a porta à força e foi impedida por ocupantes, alunos e professores. "Por que não vão para a Esplanada protestar? Quero ter aula. Por causa da ocupação passada, tive professor que não terminou de passar o conteúdo", protestou ela, que cursa o quinto semestre na instituição. Laura se referia à manifestação que paralisou a reitoria da UnB entre outubro e dezembro de 2016.

Para Scarlett Rocha, 25 anos, a ocupação é legítima. "Se ocupamos a Esplanada, o governo manda exército. A manifestação defende a universidade e o direito das populações indígena e negra, que estão sendo retirados", alega a estudante do sétimo semestre de administração. Ela foi ao local levar macarrão e molho de tomate aos manifestantes. "Só fiquei sabendo do protesto quando cheguei", conta.

Representantes da reitoria compareceram à ocupação para negociar com os manifestantes. "Não pretendemos punir ninguém por enquanto. Nossa prioridade é o diálogo", pondera Paulo César Marques, chefe de gabinete da reitora. Porém, ele criticou a atitude dos alunos. "Geralmente, os movimentos pressionam e, esgotados todos os recursos, ocupam os edifícios. Desta vez, vieram sem ao menos dialogar conosco", observa.

Em uma página do Facebook, o grupo "Estudantes e Trabalhadores Terceirizados da UnB na luta "pede apoio com doações de alimentos, colchonetes e cobertores". A reitoria e o governo não nos deram outra alternativa. Não teremos aula enquanto as demissões não forem revogadas", destaca texto postado. O coletivo alegou, ainda, que não é ligado ao Diretório Central dos Estudantes (DCE).

De acordo com a UnB, o bloco invadido abriga 50 salas de aula e dois laboratórios de informática. A instituição diz, ainda, que o local recebe cerca de 3 mil estudantes matriculados em 850 disciplinas.

Cortes

Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), quase 300 terceirizados foram desligados da UnB desde junho deste ano. O motivo seriam os cortes orçamentários na instituição. O coordenador geral do Sintfub, Mauro Mendes, ainda detalha que outros 100 trabalhadores que fazem o serviço de vigilância e portaria cumprem aviso prévio. "Já temos um deficit com relação à funcionários. No semestre passado tivemos várias ocorrências de furtos e ameaças no campus da Asa Norte. Retirar esses trabalhadores afetará toda a comunidade acadêmica", destaca.

De acordo com Mauro Mendes, a redução do efetivo ocorre desde 2015, quando havia 2.720 contratados. Hoje, são 1.880. Com as novas dispensas, o número pode chegar 1.380. "São cortes de terceirizados que prestam serviço em toda a UnB e não somente no campus da Asa Norte. Esse número é insuficiente para o funcionamento ideal da instituição". O sindicato agendou uma reunião para a próxima quinta-feira (17/8) entre os trabalhadores para discutir o assunto.

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