Cidades

PM recua e libera policiais que trocaram música em formatura

Grupo de 28 militares foi liberado à 0h35 deste sábado (2/9); prisão administrativa durou menos de dez horas

Jacqueline Saraiva, Fernando Jordão - Especial para o Correio, Gabriela Vinhal
postado em 02/09/2017 00:41
Policiais são liberados
Menos de dez horas depois, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) voltou atrás e decidiu liberar, à 0h35 deste sábado (2/9), os 28 policiais acusados de terem cantado uma canção não oficial e com termos de baixo calão durante uma cerimônia de formatura. O grupo foi preso administrativamente na tarde de sexta-feira. Havia a previsão de que eles ficassem 72 horas detidos no quartel do grupamento de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam).
A liberação ocorreu após um grupo que representava as famílias dos policiais fazer um protesto em frente ao local onde eles estavam detidos, próximo à Cidade do Automóvel. A PM fez um acordo que só liberaria os presos se os manifestantes deixassem a área. "Se precisasse, ficaríamos a noite toda aqui", assegurou Miriam da Silva, professora e representante do grupo Esposas Unidas, que dizia "representar as famílias de todos os policiais".
Para outra representante do coletivo, Antonieta de Freitas, os 28 policiais apenas celebravam o término do curso. "Todos os dias eles são xingados e ouvem palavrões. Por que, em um momento de alegria, eles também não podem se expressar?", questiona.

O grupo de mulheres chegou ao batalhão da Rotam por volta das 20h30. No momento da saída dos policiais, houve gritos de comemoração e aplausos. Os PM saíram em silêncio em direção a carros que formaram um comboio para levá-los de volta para casa.
Protesto pela liberação de policiais

A formatura do VIII Curso Operacional da Rotam ocorreu na quarta-feira (30/8), no pátio da Academia da Polícia Militar de Brasília (APMB). Imagens divulgadas em redes sociais mostram os militares em fileiras, marchando e repetindo as frases ditas por outro integrante. Em alguns trechos, eles cantam palavrões. A postura do grupo foi questionada por um coronel, que fez a denúncia à corregedoria. Veja o vídeo:
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Nesta sexta-feira (1/9), o grupo foi levado ao prédio da Corregedoria para prestar depoimento. As oitivas acabaram por volta das 15h. Os policiais foram, então, informados da prisão administrativa. Entre os 28 detidos, cinco atuam em corporações de outros estados: Polícia Militar do Mato Grosso do Sul (PMMS), Polícia Militar de Goiás (PMGO), Brigada Militar do Rio Grande do Sul (BMRS), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DPOE).

Em nota, a PMDF explicou que a decisão foi tomada com base no Regulamento Disciplinar do Exército. Para a corporação, a atitude dos formandos é um "desrespeito às normas militares e aos valores que eles deveriam cultivar". Além da prisão administrativa, os envolvidos também serão investigados em um Inquérito Policial Militar e podem ser punidos pelos crimes de "motim e incitamento, uma vez que se recusaram a entoar o hino da PMDF numa formatura oficial". A pena varia de 1 a 4 anos, segundo o artigo 149 do Código Penal Militar.


Denúncia

A denúncia contra o grupo foi feita pelo Comandante de Missões Especiais da PMDF, Hemerson Rodrigues Silva. Segundo ele, a atitude dos policiais durante a formatura foi "incoveniente com as pessoas que ali se encontravam, tais como crianças, senhoras e idoso, dentre elas a mãe da Primeira Dama do DF". "Com tal conduta, houve ofensa flagrante ao pundonor militar e decoro da classe policial", afirma.

No documento, Silva também acusa a comandante da cerimônia de "em nenhum momento" tomar uma atitude para "reprimir ou proibir a manifestação do turno". Assim, no entendimento dele, ela teria sido "conivente com tal fato".

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