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Corredores do tráfico: BR-060 é rota do comércio de drogas no DF

Depois da BR-060, as vias com maior número de apreensões pela Polícia Civil são as BRs-040 e 070.

Isa Stacciarini, Thiago Soares
postado em 05/09/2017 06:00
Duas toneladas de maconha foram apreendidas em uma área rural de Posselândia (GO), a 263 km de Brasília

A droga que os usuários consomem chega ao Distrito Federal especialmente pela BR-060, um entreposto entre Goiás e Mato Grosso do Sul. Segundo o chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) ; cuja Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE) está vinculada ;, Kel Lúcio Souza, entre 90% e 95% da carga que chega em Brasília vem por estradas. O restante para no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. ;O DF tem a maior renda per capita do Brasil. Por isso, para o traficante, acaba sendo vantajoso. Mas as apreensões estão se mantendo. Elas aumentam à medida que há mais fiscalização e investigações com mais êxito. Portanto, dependem de períodos sazonais. No DF atuam os traficantes que têm influência regional e que possuem um consumidor com alto poder aquisitivo;, ressalta.

Em 18 de junho, por exemplo, a Polícia Federal apreendeu a maior quantidade deste ano: 2 toneladas de maconha em uma área rural de Posselândia (GO), cidade localizada a 263km de Brasília e a 55km de Goiânia. O produto veio do Paraguai e seria comercializado em Valparaíso de Goiás (GO), Recanto das Emas e Ceilândia, segundo a polícia. Em 9 de julho, três homens acabaram presos com 750 quilos de maconha próximo ao Gama. E, em 31 de julho, na casa de um rapaz em Samambaia, a polícia encontrou aproximadamente 40kg de maconha, 600g de crack e 200g de cocaína.

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Depois da BR-060, as vias com maior número de apreensões pela Polícia Civil são as BRs-040 e 070. Por esse motivo, as cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia ficam como as de maior concentração de drogas. ;Isso pode ser justificado pelas proximidades com as estradas e por serem cidades com número alto de usuários. Essas quadrilhas entregam os entorpecentes para traficantes que são responsáveis pela distribuição entre pequenos vendedores, que lidam direto com o usuário;, esclarece o delegado titular da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), Leonardo de Castro.

Consumo


[SAIBAMAIS]Ao longo de 10 anos, no entanto, houve uma mudança no quadro de apreensões na capital do país. Antes, a merla ; um subproduto da pasta de coca ; tinha grande circulação no DF. Hoje a presença do entorpecente é menor. ;A merla foi praticamente extinta do nosso território, mas, por outro lado, aumentou o crack que, vindo de São Paulo, adentrou Brasília. Diferentemente da merla, essa droga é de fácil transporte e não perde validade;, detalha o investigador.

A maconha permanece como a campeã de apreensões e uso. Em segundo lugar aparece a cocaína com 118,7kgs apreendidos até junho deste ano e 105kg em todo o ano passado. O crack vem depois, com 41,9kg apreendidos neste ano e 141,8kg em 2016. ;Acreditamos que o consumo de maconha aumentou devido às aclamações pela liberação e, também, pelo fato do uso não resultar em prisão. O consumo da cocaína cresceu depois que passaram a comercializar a escama de peixe, um modo mais puro da droga;, esclarece Leonardo.

Fronteiras

Em âmbito nacional as cargas entram pelas fronteiras com países andinos. Os maiores produtores de cocaína são a Colômbia, o Peru, a Bolívia e a Venezuela. O Paraguai lidera a maconha. Já o México e uma parte da Colômbia lideram na comercialização da heroína. A partir dessas localidades, a droga entra pela fronteira seca do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e do Amazonas.

As mercadorias também chegam pelos rios, como ocorre em Manaus. Mas, para a PF, apesar das apreensões no DF, os principais destinos ainda acabam sendo o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e o sul do país. ;É muito difícil controlar o ingresso pelas regiões fronteiriças no Brasil. Temos uma fronteira seca com os maiores produtores de cocaína e maconha que é três vezes maior que a dos Estados Unidos com o México. Portanto, nossa condição geográfica é muito ruim;, destacou o delegado Kel Lúcio Souza.

Para o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Tione, não há uma razão específica que explique a maior quantidade de apreensões de drogas na capital do país. ;Se pensar na questão econômica, porque o tráfico é um negócio, mesmo que ilegal, as apreensões podem ter crescido em virtude do maior volume de drogas oriundas da organização das quadrilhas. Em geral, esse não é o único fator que contribuiu com o resultado. Pode ser a questão de um trabalho efetivo maior das forças de segurança, usando mais recursos de inteligência e combate ao tráfico, por exemplo;, considera.

O começo do fim

Confira os efeitos de algumas drogas

Crack/Cocaína: O uso pode levar num primeiro momento, a uma elevação de autoestima e poder, seguidos de cansaço, insônia e perda de apetite. O uso contínuo pode levar à morte por falha respiratória, hemorragia cerebral ou ataque cardíaco.

Maconha/ Haxixe/ Skang: Os efeitos são variados. Em alguns usuários provoca euforia, já em outros, angústia. No geral, a maconha proporciona um relaxamento que pode levar à perda da noção do tempo e espaço. O uso intenso pode acarretar em distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e até síndrome do pânico.

Ecstasy: As sensações imediatas são de euforia e perda de inibições. Depois disso, o corpo pode sofrer queda de pressão e ânsia de vômito. Com o tempo, o usuário aumenta as doses em virtude de não fazerem mais efeito. Com o uso excessivo, as oscilações de euforia e melancolia podem levar à depressão. A droga eleva a temperatura do corpo e pode levar à morte.

Lança-perfume: Provoca tontura, formigamento dos membros e zunido no ouvido. O coração se torna mais sensível à adrenalina, o que pode causar ataque cardíaco.

LSD: O uso altera a sensopercepção, que é ligada aos orgãos de sentido como visão, tato, audição, olfato e paladar. É uma droga alucinógena e seu uso excessivo pode levar à persistência de ter sempre os sentidos alterados.

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