Cidades

Travestis levadas para depor negam que eram exploradas em Taguatinga

Um grupo de transexuais negou a versão da Polícia Civil e disse que não era obrigado a se prostituir para pagar dívidas. Investigadores, no entanto, dizem ter certeza de esquema criminoso

postado em 26/09/2017 10:17
Policiais civis vestindo de preto entram em delegacia ao lado de travesti usando saia e moletom cinza
Travestis que, segundo investigação da Polícia Civil, vinham sendo exploradas por uma organização criminosa com atuação em Taguatinga Sul, foram levadas coercitivamente para depor, nesta terça-feira (26/9), no Departamento de Polícia Especializada (DPE), no Complexo da Polícia Civil do Distrito Federal. Elas são tratadas como vítimas do esquema e foram levadas para ajudar os agentes a comprovar a atuação da quadrilha.

A maioria das transexuais que chegava ao DPE evitava falar com a imprensa e muitas tinham uma postura hostil. O Correio conseguiu conversar com um grupo no momento em que ele já saía do departamento. Eram quatro, que juntas negaram a versão da polícia de que as donas das pensões onde ficam hospedadas são cafetinas e as exploram por meio de dívidas.

Uma delas disse que todas ali pagaram a passagem para o DF e também os tratamentos estéticos a que se submeteram. A que mais falou contou ter chegado a Brasília somente ontem do Amazonas. "Estou indignada com as prisões. É uma pensão, onde pagamos diárias e não tem dívidas", afirmou.

Investigações apontam o contrário


Apesar da versão contada pelas depoentes, a Polícia Civil diz estar certa de que essas pessoas eram exploradas depois de chegar ao DF. Após nove meses de investigações, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), em parceria com a 21; DP, de Taguatinga Sul, concluiu que as travestis eram aliciadas em outras regiões do país para trabalhar numa rede de prostituição.
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Uma vez aqui, elas se tornavam totalmente dependentes do esquema e precisavam trabalhar para pagar as dívidas adquiridas com a passagem de vinda e tratamentos estéticos para se tornarem mais atraentes. A dívida inicial passaria de R$ 5 mil e aumentaria diariamente com a hospedagem ; a diária nas pensões envolvidas no esquema gira em torno de R$ 50 a R$ 70.

Na operação deflagrada nesta terça-feira, estão sendo cumpridos 11 mandados de prisão preventiva de pessoas apontadas como cafetinas (algumas delas também travestis) e de um grupo rival que briga para dominar o território. Foram expedidos também 19 mandados de busca e apreensão, incluindo cinco endereços de 5 repúblicas que serviriam ao esquema. Entre os itens apreendidos, há carros de luxo comprados pelas líderes do esquema.

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