Cidades

Articulações na Câmara agitam a campanha para eleições em 2018

Enquanto o governador Rodrigo Rollemberg fica cada vez mais isolado para a disputa da reeleição ao Palácio do Buriti, parlamentares participam das definições dos partidos para determinar candidaturas e coalizões. Tendência é de renovação na Câmara

Ana Viriato
postado em 19/10/2017 06:00
Plenário da Câmara: é extensa a lista das legendas que podem romper com Rodrigo Rollemberg
As construções pela candidatura ao Palácio do Buriti passam pela Câmara Legislativa. A Casa, que historicamente funciona como um termômetro da força do chefe do Executivo local, abriga potenciais candidatos a cargos majoritários, os quais participam das costuras políticas. A ruptura do PDT com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) é prova disso. Por não concordar com as propostas prioritárias enviadas pelo GDF ao Legislativo local e desejar um voo solo em 2018, a sigla desembarcou da base aliada. O mesmo pode acontecer com a Rede, uma das últimas grandes legendas a ficar ao lado do socialista. O partido do distrital e pré-candidato ao Senado Chico Leite discutirá, em novembro, a possibilidade de romper com o governo por meio da entrega de cargos.
[SAIBAMAIS]Enquanto conversa sobre a chance de deixar a base aliada, a Rede discute as opções de alianças para as próximas eleições. A sigla mantém proximidade com o PDT e o PV ; a afinidade é tanta que os três partidos integraram o mesmo bloco parlamentar na Câmara Legislativa. Pelas conversas preliminares, a aposta do grupo seria na candidatura de Joe Valle (PDT) ao Palácio do Buriti; nas de Reginaldo Veras (PDT) e Claudio Abrantes (sem partido) a distritais; e na de Chico Leite ao Senado. Atualmente, os quatro detém mandatos no Legislativo local.

Chico Leite defende uma postura de independência em relação ao Executivo local. ;Temos de nos unir por causas e, não, por postos. Acredito que colabora muito mais quem tem espaço para criticar do que aqueles que apenas bajulam;, pontua o distrital. O ex-chefe de gabinete de Rollemberg e pré-candidato a deputado federal, Rômulo Neves, defende a ruptura total, com declaração de oposição. Em tom mais ameno, defendem a permanência no governo os correligionários Jane Vilas Boas, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), e André Lima, secretário de Meio Ambiente.

Além da Rede, é extensa a lista das legendas que podem romper com Rodrigo Rollemberg. Oficialmente, nenhuma sigla confirma aliança com o governador para 2018. Os chamados partidos nanicos da base aliada ; PRB, PHS, Pros e Podemos ; emplacaram quatro distritais na Câmara Legislativa em 2014: Julio Cesar, Lira, Telma Rufino e Rodrigo Delmasso, respectivamente. Agora, montaram uma frente cristã, com a participação do PSC, para consolidar as nominatas proporcionais e alcançar ainda mais representatividade na Casa (leia Na disputa).

Caso a coalizão seja expandida, o grupo não descarta o desmanche da aliança com o chefe do Palácio do Buriti. ;Hoje, a nossa frente está se ampliando por conta de conversas adiantadas com o Solidariedade e o PPS. Se a possibilidade for concretizada, partiremos para a disputa de cargos majoritários;, pontuou o presidente do diretório Regional do PRB, Wanderley Tavares. Na Câmara Legislativa, o PPS é representado por Celina Leão e Raimundo Ribeiro; e o SD, por Sandra Faraj.

Presidente do diretório regional do PSB, Tiago Coelho afirma que o partido mantém como ;prioridade máxima a reeleição de Rollemberg e acredita que possa reverter as perdas, além de somar alianças, com o diálogo;. ;Respeitamos as decisões das siglas que deixaram o governo. Ainda assim, há tempo para a discussão;, destacou.

Fora da Câmara Legislativa, uma coalizão de centro-direita integrada por 10 partidos prepara uma chapa própria para disputar cargos majoritários com nomes de expressão, como o dos deputados federais Izalci Lucas (PSDB) e Alberto Fraga (DEM), do ex-distrital Alírio Neto (PTB) e do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR). PSDB, PTB e PR angariam, no total, quatro parlamentares no Legislativo local. A tendência é de que a tribuna da Casa seja usada como palanque.
Infográfico com dados de deputados que estão articulando participar das campanhas para 2018
Análise da notícia

Tempo de renovação

; ANA MARIA CAMPOS

Toda legislatura é a mesma coisa. Pipocam denúncias graves envolvendo distritais. Como tem acontecido desde a criação da Câmara Legislativa, nos últimos meses, vários deputados estão sendo acionados pelo Ministério Público para um ajuste com a Justiça. Dessa vez, há acusações de corrupção, venda de voto, lavagem de dinheiro, compra de diploma, uso indevido da verba indenizatória; E por aí vai.
Não há, no entanto, disposição de fazer uma apuração por quebra de decoro parlamentar. Representações têm sido arquivadas antes de serem esmiuçadas. A justificativa tem sido: ;vamos aguardar a justiça;. Mas o Judiciário tem seus prazos, longos. Não se trata de fazer uma avaliação sumária, com base apenas na opinião pública. Mas abrir processo, analisar a situação, ouvir depoimentos e dar um veredicto do ponto de vista do decoro, o que é bem diferente da esfera penal ou da improbidade administrativa. Se for o caso, absolver, o que também pode ser louvável, se justo. Mas não deixar de avaliar.

Os distritais seguem seus caminhos em busca de novos mandatos na Câmara Legislativa ou à procura de um upgrade político, num trampolim para o Congresso Nacional ou para algum cargo majoritário. Serão julgados pelos eleitores do Distrito Federal. Depois do impeachment de Dilma Rousseff e das denúncias contra o presidente Michel Temer, entre várias operações, prisões, delações e malas de dinheiro, o eleitor parece cansado de tantas evidências de desvios de recursos. O efeito prático tem sido uma imensa rejeição da classe política, que atinge até mesmo quem nunca se envolveu em corrupção.

O desgaste não é novidade da atual legislatura. Mas essa será a primeira eleição no DF pós-Lava-Jato. Esse é um campo fértil para renovações. Mas só o tempo dirá se o eleitor será implacável ou não.



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