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PDT dá guinada à esquerda e articula aliança com PT para eleições em 2018

Após uma negociação com Cristovam Buarque (PPS) e com Jofran Frejat (PR), os pedetistas decidiram se aproximar de petistas com o objetivo de discutir um programa para a capital e uma possível coligação no próximo ano

Helena Mader
postado em 25/10/2017 06:00 / atualizado em 19/10/2020 13:17

Representantes dos dois partidos estão otimistas com a possibilidade da formação  de uma frente de centro-esquerda

Depois de romper com o governo Rollemberg e negociar uma aliança com representantes do PPS e do PR, como o senador Cristovam Buarque e o ex-deputado Jofran Frejat, o PDT surpreendeu e começou ontem uma articulação eleitoral com o PT. Integrantes dos dois partidos se reuniram para discutir um programa conjunto para as eleições de 2018. Ainda não houve menção a nomes para a formação da chapa majoritária mas, nos bastidores, existe a ideia de construir uma coligação que tenha o presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), como candidato ao GDF e a ex-vice-governadora Arlete Sampaio (PT), como vice. Os dois partidos vão tentar atrair outras siglas para aliança. Na mira de petistas e pedetistas estão legendas como PV, Rede, PCdoB e PPL.

 

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Participaram do encontro na manhã de ontem os presidentes dos dois partidos: Georges Michel, do PDT, e a deputada federal Érika Kokay, do PT. Pelo PDT, além de Joe Valle, compareceu o deputado distrital Reginaldo Veras, um dos principais defensores do rompimento com o governo de Rodrigo Rollemberg. Do lado do PT, também estiveram presentes os distritais Chico Vigilante e Ricardo Vale, e os ex-deputados federais Geraldo Magela e Roberto Policarpo.


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O pedetista Georges Michel afirmou que a intenção da legenda é fechar um acordo com grupos de esquerda para 2018. “Foi uma reunião entre dois partidos de esquerda para discutir Brasília, a gestão atual e planos para 2018. Claro que foi debatida uma aliança, mas sem bater o martelo sobre nomes. Naturalmente, os dois partidos poderão estar juntos em 2018. O PDT vai ter uma aliança à esquerda”, cravou Michel.

Direitos

Sobre as negociações recentes com representantes de legendas de direita, o pedetista garante que as tratativas não foram partidárias. “Tivemos conversas com o Jofran Frejat, não com o PR. Assim como o deputado Joe Valle andou debatendo com o senador Cristovam (Buarque), mas não com o PPS”, justifica o presidente da sigla. “O PDT não vai impor nomes, queremos elaborar um projeto para o DF. Nenhum partido do campo popular está morto. Eles são como uma planta no deserto: basta uma gota de orvalho que renasce”, argumentou Georges Michel. Segundo ele, a ideia é reunir partidos e pessoas que “defendam de forma intransigente os direitos trabalhistas”.

 


A articulação entre PDT e PT praticamente impossibilita um acordo entre pedetistas e o senador Cristovam. Desde que apoiou o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o parlamentar virou alvo da ira de petistas e uma reconciliação é considerada inviável por ambas as partes. “O PT está fazendo política como religião, então não aceita o que for contra o credo. Não agem mais por lógica ou por compromisso”, justifica Cristovam. “De minha parte, estou disposto a conversar com pessoas éticas para salvar Brasília. Mas, como o PT tem um pensamento sectarizado, acho difícil haver um acordo, mais do lado deles, não do meu”. De acordo com o senador, ele continua as negociações políticas “com pessoas de bem da cidade, independentemente de partidos. “Não é mais tempo de dividir Brasília entre vermelhos e azuis, é tempo de ver quem quer se aliar em defesa da cidade”, acrescentou Cristovam.


A presidente do PT no Distrito Federal, Érika Kokay, demonstrou interesse na formação de um projeto conjunto “democrático e popular”. Segundo a parlamentar, o objetivo do grupo é deixar a discussão sobre a formação da chapa em segundo plano. “Foi uma boa conversa, existe a disposição do PT de formatar um campo democrático e popular e, a partir daí, construir uma aliança”, explicou Érika.


“Vamos começar com a discussão programática, com participação intensa da sociedade. O DF precisa de um choque democrático, estamos vivenciando uma gestão autoritária e com pouco diálogo”, acrescentou a petista. Segundo a presidente do PT, haveria “uma grande dificuldade” em fechar qualquer composição que incluísse o PPS e o PR.

A negociação entre as legendas deve impossibilitar uma aproximação  de Joe e Cristovam

Sem Agnelo

A ex-vice-governadora Arlete Sampaio, apontada como nome forte para compor uma eventual chapa majoritária, não participou do encontro por causa de problemas familiares. O ex-governador petista Agnelo Queiroz também não esteve na reunião.

 

Na próxima sexta-feira, o comando regional do PDT terá uma reunião com representantes da Rede e do PV, para tentar atrair os dois partidos para a coligação em formação. As duas siglas atualmente são os principais aliados do governador Rodrigo Rollemberg, que tem perdido apoio sistematicamente. Além do PDT, o PSD, do vice-governador Renato Santana, também se afastou do chefe do Executivo. O presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle, diz que a ideia da reunião de ontem “não foi de juntar a esquerda, mas de trabalhar a cidade programaticamente”. “Não falamos de nomes para 2018, mas ficamos de avançar nas conversas e de chamar outros partidos, além da sociedade civil, para debater”.


A formação das alianças nacionais, entretanto, deve permear o debate sobre uma coligação na capital do país. O PT pretende lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato à Presidência da República. E o PDT tem o ex-ministro Ciro Gomes como concorrente para o Palácio do Planalto. O distrital petista Chico Vigilante vê uma “real disposição” de os partidos caminharem juntos. “A ideia é fazer uma aliança de centro-esquerda. Acredito que uma aliança do PT e do PDT em Brasília independe da formação dos palanques nacionais”.


O ex-deputado Jofran Frejat, que ensaiou nas últimas semanas uma aproximação com o PDT, minimiza a mudança de rumos do partido. “Tivemos apenas uma conversa entre pessoas de bem interessadas em melhorar Brasília, não houve nada além disso. Me convidaram para o PDT e questionei por que não o inverso”, comentou Frejat.

 

Memória

Fim de parceria
O rompimento entre o PDT e o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) foi formalizado no último dia 10, após uma longa reunião interna do partido. Os pedetistas colocaram à disposição os cargos preenchidos por indicação política e, desde então, nem todos os integrantes da legenda com postos no governo foram exonerados. A principal baixa foi o secretário de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Gutemberg Gomes, que havia sido indicado por Joe Valle e acabou exonerado. O secretário-adjunto de Trabalho, Thiago Jarjour, optou por deixar o PDT e segue na pasta.

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