Três homens tentaram arrancar e levar a bicicleta que pertencia ao estudante de sociologia Raul Aragão, afixada em um canteiro da L2 Norte em sua homenagem, após ele morrer atropelado na via em 21 de outubro. Segundo testemunhas, o incidente aconteceu na madrugada de sábado (18/11), quando os autores desceram de um carro e tentaram, sem sucesso, retirar o objeto dali.
O ataque foi registrado quatro dias depois de amigos, familiares e moradores terem decorado a bicicleta com balões e flores em lembrança a Raul, que comemoraria aniversário em 14 de novembro. Ele faria 24 anos. Após inúmeras tentativas de retirar o veículo de homenagem, o trio tirou apenas a ornamentação colocada. Segundo moradores da região, os três aparentavam estar alterados, como se estivessem embriagados ou sob efeito de drogas.
Bicicletas fantasmas
As chamadas ghost bikes ou bicicletas fantasmas representam, sobretudo, um pedido de paz no trânsito. Elas costumam ser fixadas em locais onde houve acidente para homenagear vítimas como Raul e impedir que a morte do ciclista seja esquecida. Há, portanto, também uma intenção pedagógica na ação, lembrando aos motoristas a importância de proteger os ciclistas.
A bicicleta instalada na L2 Norte é a mesma usada por Raul Aragão no momento do acidente. Ele a chamava carinhosamente de Dory, em homenagem a um personagem do filme Procurando Nemo. O estudante de sociologia era conhecido pelo seu amor ao pedal e trabalho pela paz no trânsito.
Outros atos de vandalismo contra essas instalações já foram registrados pelo Distrito Federal, segundo a ONG Rodas da Paz. A diretora da entidade, Renata Florentino relembra ao menos três ataques. "Já houve furtos no Lago Sul, no Guará e de uma instalada no fim do Eixão Sul, em homenagem ao biólogo Pedro Davison, atropelado em 2006", revela.
Na visão da ativista, essas ações são praticadas por quem não tem consciência sobre a importância de discutir a violência no trânsito. "Esses furtos são feitos por alguém que não quer que o crime seja lembrado ou que acredita que é banal ter uma homenagem para lembrar de uma morte no trânsito", detalhou Renata.
Investigações
Relembre o caso
Em 21 de outubro, o ativista do ciclismo Raul Aragão pedalava pela L2 Norte, nas proximidades da quadras 406/407 Norte, onde morava, quando foi atingido por um carro. O condutor do veículo ajudou no socorro e acionou o resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
[SAIBAMAIS]Raul foi encaminhado em estado grave para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Ele estava com traumatismo craniano, torácico e abdominal. Depois de ser internado, ele apresentou uma parada cardiorrespiratória. A equipe médica chegou a fazer a reanimação e o encaminhou para o Centro Cirúrgico, mas a vítima não resistiu.
O condutor do carro Johann Homonnai fez o teste de bafômetro no local da acidente, que deu negativa para embriaguez. Ele teria dito que trafegava a 50 km/h, mas o laudo da Polícia Civil constatou que o motorista estava a 95 km/h. A via tem velocidade máxima estabelecida de 60 km/h.