Cidades

Com funcionários da limpeza em greve, hospitais atendem apenas casos graves

Profissionais relatam que lixo está acumulado em corredores e consultórios. Há vazamento de líquido e mau cheiro. "A cada dia cresce o risco de contaminação", alerta uma enfermeira

Otávio Augusto
postado em 20/11/2017 19:06
No Hmib, comunicado informa que apenas pacientes com classificação laranja ou vermelha serão atendidos
Os pacientes que procuraram as emergências dos hospitais públicos da capital encontraram um cenário pouco comum: locais vazios e sem movimentação. A baixa procura é causada pela greve dos servidores da limpeza. Os terceirizados estão com os salários e o vale-alimentação atrasados. Somente casos graves estão sendo atendidos.
A Secretaria de Saúde garante que quitou a dívida com as duas empresas prestadoras de serviço. O Sindicato dos Empregados em Empresas de Conservação e Serviços Terceirizados (SindServiços) confirmou
que alguns salários foram pagos hoje e que a prestação de serviços será totalmente retomada nesta terça-feira (21/11).

A greve completou oito dias ; o movimento foi intensificado no último sábado. A fim de atenuar os prejuízos à população, a Secretaria de Saúde determinou que somente pacientes graves fossem atendidos. Cartazes na porta das emergências alertam para a medida.

No Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), na 608 sul, a placa informava: "Devido à superlotação de pacientes e à greve dos colaboradores da higienização e conservação, o atendimento nesta unidade de saúde está restrito às classificações laranja e vermelha (casos graves)".
Contudo, mesmo as situações mais severas acabaram prejudicadas. A recepcionista Giselly Thainara da Silva, 24 anos, esperou sete horas para ser atendida no Hmib. A filha dela, Sophia da Silva, 4, está com suspeita de dengue.

"Antes de chegar ao HmiB, eu passei pelos hospitais regional do Guará, da Asa Norte (Hran) e pelo posto de saúde da Candangolândia. Está tudo igual: sem atendimento. Alguma coisa deve ser feita para mudar isso. Como fica quem precisa de atendimento?", reclama.

Profissionais relatam que lixo está acumulado em corredores e consultórios. Há vazamento de líquido e mau cheiro. A resposta que Giselly cobra, nem mesmo os servidores conseguem dar. O Correio conversou com médicos, enfermeiros e vigilantes para detalhar a situação das unidades. Ele pediram para ter os nomes preservados.


"Insalubre"


Um pediatra contou que o lixo hospitalar e o comum estão acumulados nos corredores e consultórios. "Para atenuar a situação, estamos recolhendo na medida do possível, mas não é o adequado. Há espaços sem condições de funcionar. É insalubre", ressalta.

O vigilante destaca que há sacos amontoados, com vazamento de líquidos e mau cheiro. "Tem gente da limpeza trabalhando, mas não a contento da necessidade do hospital. Acredito que se a greve durar mais uma semana vamos entrar em estado de caos", argumenta.

Uma das enfermeiras que recolheu lixo é categórica: é um risco lidar com lixo hospitalar sem treinamento. "A gente sabe como fazer o descarte, mas não se tem sacos, higienizadores e até o álcool para limpeza está faltando. A cada dia cresce o risco de contaminação", conclui.

Apesar da situação, a Secretaria de Saúde garante que não houve prejuízos ao atendimento dos pacientes. "Nenhum atendimento foi interrompido nas unidades em razão da greve", destaca a pasta, apesar de os servidores e as placas na porta das unidades informarem o contrário.

[SAIBAMAIS]Segundo o Executivo local, todos os débitos foram pagos. "O pagamento é realizado por meio de despesa indenizatória, o que quer dizer que a secretaria paga pelos serviços prestados por dia. Como o pagamento já foi realizado, a pasta aguarda que os trabalhadores destas empresas retornem ao serviço", ressalta o texto.

Ao menos 1,5 mil terceirizados responsáveis pela limpeza paralisaram suas atividades. O SindServiços diz que 30% do efetivo continua trabalhando em esquema de revesamento. Duas empresas prestam este tipo de serviço nos hospitais. Os funcionários terceirizados recebem salário de R$ 1.052,22 e tíquete-alimentação de R$ 27,50 por dia.

Negociação para não cortar o ponto


A secretária-geral do SindiServiços, Andréa Cristina da Silva, confirmou que os salários começaram a ser pagos no início da tarde desta segunda-feira (20/11). "Os primeiros pagamentos caíram na conta por volta do meio dia, mas nem todos os trabalhadores receberam ainda", conta.

Com a quitação da dívida, alguns servidores voltaram aos postos de trabalho por volta das 14h. Contudo, o movimento grevista pode ser retomado. É que sindicato e governo ainda não entraram num consenso se o ponto dos servidores será cortado durante os oito dias de greve.

"Começamos a negociar essa questão hoje. Amanhã, teremos outra reunião ainda não tive resposta do governo, mas a categoria continua mobilizada para a greve caso não haja acordo", alerta Andréa.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação