Cidades

Seca deve dar trégua ao DF, mas governo descarta fim do racionamento

Chuvas de dezembro elevaram os níveis dos dois maiores reservatórios de água do Distrito Federal: Descoberto e Santa Maria

Ana Viriato, Mayara Subtil - Especial para o Correio
postado em 02/01/2018 06:49
Gerente de um restaurante localizado no centro de Ceilândia, Douglas Carvalho treinou os 10 funcionários do estabelecimento para economizar água por meio de medidas simples

O primeiro mês de 2018 reserva projeções otimistas quanto à luta contra a crise hídrica. A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é que, em janeiro, as chuvas enquadrem-se na média de 247,4mm ou superem a normalidade. O alto nível de precipitações deve impulsionar a recuperação dos reservatórios do Descoberto e de Santa Maria, que atingiram o volume útil de 30,1% no último domingo, segundo a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa). O percentual representa o dobro do nível mínimo estimado pelo órgão para janeiro deste ano. São boas novas para os 3 milhões de habitantes do Distrito Federal que convivem há 351 dias com o racionamento de água.

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Apesar das perspectivas, a palavra de ordem permanece a mesma: economia. Isso porque, ainda que as estimativas se concretizem, está descartado, por ora, o fim do rodízio. ;O que precisamos é dar oportunidade para os reservatórios se recuperarem. Além disso, temos de incorporar o uso racional da água na nossa cultura. Fechamos 2017 melhor do que iniciamos, mas há muito a ser feito: investiremos em infraestrutura e aguardamos muita chuva;, afirmou ao Correio o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Maurício Ludovice.

A ponderação é pertinente. Em 2017, apesar do volume de chuvas 12% superior ao do ano anterior, as precipitações ficaram abaixo do esperado. O último registro do Inmet mostrou o acúmulo de 1.302,3 milímetros, 15,46% menor que a média anual, de 1.504,6mm. Em dezembro, por[em,o volume de chuvas superou as expectativas para o mês. Até as 17h de sábado, havia chovido no DF 265,8 milímetros ;índice acima da média histórica, de 246 milímetros.

Até março


Não há como prever o comportamento das chuvas ao longo de 2018. Ainda assim, a meteorologista Odete Kiese, do Inmet, estima que janeiro será de calor, umidade e pancadas de chuva. ;A nebulosidade, proveniente de ventos do Noroeste (região amazônica), favorece precipitações no Centro-Oeste e no Sudeste. Com isso, a previsão é que chova dentro da média ou até mais;, destaca. O cenário deve permanecer até o fim do período chuvoso, em meados de março. A temperatura mínima prevista até o próximo sábado é de 18;C, e a máxima, 29;C. A umidade do ar deve variar entre 95% e 50%.

Caso seja confirmado, o panorama mostra-se ainda mais positivo quando comparado a janeiro de 2017, mês em que choveu cerca de 50% abaixo da média histórica. À época, o Inmet informou que a situação decorria de reflexos remanescentes do fenômeno El Niño, que impedia a formação de nuvens no Centro-Oeste e provocava estiagem. A seca impactou diretamente os níveis dos reservatórios, e o governo determinou o início do rodízio de água.

Para aliviar a necessidade de pancadas de chuva para a subida dos níveis dos reservatórios, a Caesb apostou na redução de 370 litros por segundo da quantidade de água que sai do Descoberto. Além disso, a concessionária fez obras para que as regiões abastecidas pela bacia recebam água do sistema Santa Maria-Torto. Com as iniciativas, a expectativa é de uma economia de 700 litros por segundo na principal barragem do DF em 2018.


Dificuldades


Enquanto as barragens do Descoberto e de Santa Maria seguem em uma situação delicada, o brasiliense continua a sofrer com os contratempos decorrentes do racionamento. A dona de casa Rebeca Coelho, 26 anos, conta que, há cerca de três meses, o religamento da água tem demorado mais que o esperado; portanto, o serviço fica instável por tempo superior a 48 horas. Para fugir do aperto, Rebeca acumula água em, pelo menos, cinco baldes, bem como panelas e vasilhas. ;Apesar da irregularidade, o valor da minha conta não muda. Pago R$ 120 todos os meses. [E injusto, pois, agora, a água não vem no horário combinado pela Caesb;, destaca.

No restaurante Pimenta Malagueta, que funciona há 10 anos no centro de Ceilândia, a água também demora cerca de três horas a mais que o previsto para chegar. A inconstância começou em outubro. Assim, a dona do restaurante, Cecília Carvalho, 63, armazena 4 mil litros de água para emergências. ;Não chegam explicações para nós. Mesmo com as barragens começando a respirar, a situação aqui em Ceilândia está precária;, concluiu Cecília.

Outra saída é a reeducação. Gerente do estabelecimento, Douglas Carvalho, 39, idealizou um treinamento para os 10 funcionários aprenderem maneiras simples de gastar menos água. ;Começamos no início do racionamento. Primeiro, eles fazem higienização dos utensílios com um pano úmido de sabão. Depois lavam e, em seguida, enxáguam;, explicou. A iniciativa gerou uma economia de 35% do gasto de água no comércio, garante.


Confira as metas mensais estipuladas pela Adasa para o reservatório do Descoberto. Caso atinja tais níveis, agência adota novas medidas de racionamento:

Dezembro de 2017 - 11%
Janeiro de 2018 - 15%
Fevereiro de 2018 - 32%
Março de 2018 - 43%
Abril de 2018 - 50%
Maio de 2018 - 50%

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