Cidades

Programa oferece cursos a mulheres em situação de vulnerabilidade no DF

Em 2017, 600 mulheres passaram por atividades de formação do Pronatec Mulheres Mil na capital do país

postado em 11/01/2018 21:46
Em 2017, 600 mulheres passaram por atividades de formação do Pronatec Mulheres Mil na capital do país
;A princípio eu procurei o curso por causa da bolsa. Mas depois que comecei me apaixonei. Nós, mulheres, ainda somos vítimas de inúmeras formas de preconceito. Triste saber que ainda permitimos ser abusadas e deslocadas de nossos sonhos;. Assim a aluna Ana Carla Rodrigues iniciou seu discurso como oradora de uma turma com 150 alunas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
A cerimônia marcou a formatura hoje (11/1) de turmas do Programa Mulheres Mil. Entre as qualificações estavam cuidadora de idosos, assistente administrativa, porteira e vigia, cuidadora infantil, camareira e organizadora de eventos. Os cursos foram ofertados em diversas cidades e regiões do Distrito Federal (DF), como Gama e Cruzeiro, no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Em 2017, 600 mulheres passaram por atividades de formação do Pronatec Mulheres Mil na capital do país. No ano anterior, foram 250. Para 2018, a expectativa dos responsáveis pelo projeto é garantir que de cada cinco pessoas formadas pelo Pronatec, uma esteja inserida no Mulheres Mil. No primeiro semestre deste ano, o Pronatec disponibilizou um total de 5 mil vagas.

Público alvo

O foco do programa são mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência doméstica. No DF, a Secretaria de Educação informa à Secretaria de Desenvolvimento Social quantas vagas estão disponíveis e esta indica pessoas atendidas por projetos sociais como os Centros de Referência em Assistência Social e a Casa da Mulher.

;Os cursos trabalham não só a capacitação em diversas atividades profissionais mas também o empoderamento. Ressuscitar essa mulher, esse instinto dela para que ela se sinta capaz não só de trabalhar mas mudar a vida dela;, diz Flávia Rebelo, coordenadora do Pronatec DF.

Empoderamento

É o caso da oradora da turma, Ana Carla. Em um relato forte, ela contou como passou por diversas situações de preconceito e discriminação ao longo da vida. Já trabalhou como prostituta e relatou sofrer com o julgamento de pessoas próximas em razão dessa condição, além de ter vivenciado outras formas de opressão. Concluiu seu discurso exaltando a força das mulheres, sendo aplaudida de pé pelas formandas e por familiares.

;Eu, mãe, esposa e dona de casa, cuido da educação dos filhos, do orçamento doméstico e ainda tenho que estar linda pra receber meu marido. Se me nego começa a violência afetiva. Exerci o cargo de prostituta. Dizem que somos mulheres de vida fácil. Não há nada de fácil nisso. Seja qual for o porquê, luto pelos meus direitos. Somos fortes, somos guerreiras;.

Claudia Machado, que é professora de um dos cursos do Mulheres Mil, também falou durante a cerimônia destacando a importância das alunas tomarem as rédeas de seus destinos. Ela contou que, como é comum no Brasil, é filha de mãe doméstica, teve padrasto alcoólatra, saiu de casa aos 15 anos, quando teve seu primeiro filho, e sofreu violência doméstica. ;Depois disso, me empoderei, voltei a estudar em 2010, finalizei meu primeiro curso e primeira faculdade. Fiz especialização e continuo ainda minha caminhada;, relatou.

Na avaliação de Sara dos Santos, uma das 150 formandas que recebeu seu diploma hoje, os cursos foram importantes para ampliar as perspectivas profissionais das alunas. Ela obteve o certificado de vigia e porteiro. ;O curso foi bem suficiente, os professores foram bons, assim como o conteúdo. Escolhi participar porque apesar de ter profissões eu acho que abre um leque. Quero ter experiência neste mercado;, contou ela.

Mercado de trabalho

Após a conclusão dos cursos, uma demanda das participantes é a inserção no mercado de trabalho, em um cenário econômico em que o índice de desemprego chega a 12%. Segundo a coordenação do projeto, há atualmente diálogo com empresas para indicar pessoas formadas, no entanto, ainda não há ações formalizadas de mapeamento de postos de trabalho.

Os responsáveis pelo projeto informaram à Agência Brasil que recebem solicitações de indicação e que, frente a essas demandas, sugerem pessoas que passaram pelo projeto. Isso vem ocorrendo, por exemplo, com empresas de eventos, já que vários cursos lidam com atividades relacionadas a esse tipo de negócio.

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