Cidades

Prata da Casa: Véi Oeste mistura rap dos anos 1990 com letras atuais

Banda ceilandense de rap, a Véi Oeste mostra o mais recente disco, com composições autorais. O projeto independente tem participações de rappers de São Paulo e do Ceará

Suzanny Costa*
postado em 12/01/2018 15:52
[FOTO1087270]
Em 2003, os amigos Sidney Bairrista, Rafinha Bravoz, Helder Byzu, Willian Dabliw e DJ Léo Zulu participavam de um projeto que reunia vários grupos de rap do setor P Norte, em Ceilândia, para debater ideias e ensaiarem. O Batalhão Anti Sistema Contra Ataca (Basca), nome dado ao grupo, acabou não dando certo: ;muitas pessoas, vários pensamentos;, como explicou Bairrista. Dois anos depois, os cinco amigos acabaram formando outra banda, a Gueto Unido. Eles chegaram a gravar um CD, mas após discussões entre os integrantes, o grupo também se desfez. Em 2011, a vontade de cantarem juntos fez com que eles insistissem mais uma vez em formar uma banda, a Véi Oeste.

[VIDEO1]


[SAIBAMAIS]O nome do grupo vem da gíria brasiliense ;véi;. ;A gente fala ;véi; como se fosse vírgula. Até o meu pai fala ;véi;, então achávamos que deveríamos ter uma referência disso;, contou Sidney Bairrista. Já a palavra Oeste vem do fato de o Distrito Federal estar situado na região Centro-Oeste. Com apenas um EP lançado, os rappers relatam que o processo de gravação levou muito tempo para ser concluído. A primeira música, que leva o nome do grupo, está pronta desde 2011.

Totalmente independente, o CD foi gravado em um estúdio de amigos, com as participações dos rappers Sombra, de São Paulo, e RAPadura Xique Chico, do Ceará. Os integrantes contam que a escolha deles veio por meio da vivência que sempre tiveram com os MC;s. ;Os caras são nossos amigos desde 1999. Sempre nos encontramos em shows de rap e a gente entendeu que é bem familiar o que eles pensam e o que a gente pensa também. Foi de forma natural;, explicou Sidney.

As composições são feitas por todos do grupo. ;Pelo fato de a gente estar há muito tempo juntos, tem uma certa sintonia. A letra flui como se tivéssemos uma só uma cabeça. Cada um escreve sua parte, mas é tudo bem construído. Tem começo, meio e fim;, explicou Rafinha Bravoz. As músicas em geral falam sobre o amor pela ;quebrada;, pelo rap e pelas pessoas que mantêm a cultura tão forte até os dias de hoje. A proposta do EP é transmitir as ideias das vivências de cada um dentro da periferia.

Homenagem ao rap dos anos 1990

A primeira música de trabalho, intitulada ;Referências;, fala sobre a história que pessoas importantes para o rap do DF construíram ao logo de suas jornadas, como os rappers GOG, Álibi, Cirurgia Moral, Cambio Negro, Liberdade Condicional, entre outros. A ideia partiu do diretor de arte Humberto Cunha que sugeriu a homenagem a esses artistas da história do rap. Foram utilizados trechos instrumentais de algumas músicas desses grupos, famosos nos anos 1990. ;Quando entrei em contato, para mim foi até uma surpresa porque todos eles ficaram lisonjeados com a homenagem. A gente até esperava que fossem ter algumas recusas e não teve. Ficamos muito felizes; comemorou Sidney Bairrista.

Letras soltas e simples

Para 2018, o grupo Véi Oeste promete algumas mudanças em suas letras e beats. Por conta da atualização constante na cena do rap, os artistas se sentiram forçados a seguir a atualidade. ;Decidimos falar realmente sobre tudo e não mais somente sobre nossa vivência;, contou Rafinha Bravoz. Segundo o grupo, as letras eram mais limitadas a sentimentos próprios dentro de suas cidades periféricas e sobre as famílias. ;Queremos falar das coisas de forma mais solta e simples. Tanto de crime, como de mulheres: falar de uma forma mais clara. 2018 vai ser uma coisa diferente para a gente, comparando com tudo que fizemos até agora;, explica Bravoz. O grupo espera não perder totalmente a essência. ;Vamos continuar falando da nossa vivência, só que sem muita regra;, finalizou Bairrista.

Para o grupo de MC;s, essa mudança na cultura do rap é positiva. Por mais que existam críticas a respeito, Bairrista acredita que críticas existem em qualquer estilo musical e é natural a mudança. O rap tem tido muito mais visibilidade em comparação a anos anteriores. Helder Byzu conta que começaram a entender a necessidade de ganhar dinheiro, pois não dava para viver apenas de amor à música. ;Os Racionais (a banda de rap), mesmo quando começaram a ganhar dinheiro, todos chamavam eles de vendidos, mas hoje os admiradores do rap estão com a mente mais aberta; completa Byzu.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação