Cidades

Família cobra punição para morte de paciente ocorrida há 10 anos

Indignados com a demora, familiares da psicóloga Maria Cristina Alves aguardam decisão judicial. Defesa alega que não tem responsabilidade sobre atraso no julgamento do caso, que tramita na Justiça desde 2008

Jéssica Eufrásio*
postado em 19/02/2018 19:18
Em 9 de fevereiro de 2008, Maria Cristina passou por uma cirurgia bariátrica com o médico Lucas Seixas e morreu nove dias depois, vítima de complicações do procedimentoDez anos depois da morte da psicóloga Maria Cristina Alves da Silva após uma cirurgia bariátrica realizada pelo médico Lucas Doca Seixas Júnior, o processo ainda tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Em 9 de fevereiro de 2008, Maria Cristina, à época com 37 anos, compareceu a um hospital no Sudoeste para uma cirurgia bariátrica. Após três dias, ela apresentou febre alta e fortes dores abdominais. Em 15 de janeiro, passou por uma segunda cirurgia com o médico, em um hospital na Asa Norte, onde morreu três dias depois.

[SAIBAMAIS]Familiares da vítima registraram ocorrência e, ainda em 2008, a Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou o médico por homicídio com dolo eventual (quando se assumem os riscos da ação), omissão, e por falsificação de documentos para justificar a cirurgia de redução de estômago da vítima. Ainda de acordo com o MPDFT, a paciente não tinha necessidade de se submeter ao procedimento por não ter Índice de Massa Corporal (IMC) entre o intervalo estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Em junho de 2009, o caso foi encaminhado ao Tribunal do Júri de Brasília, que, dois anos depois, decidiu que o médico não iria a júri popular. O juiz Fábio Francisco Esteves, que analisou o caso, entendeu que Lucas não teve intenção de matar a psicóloga. O caso foi remetido à Justiça Comum e, agora, tramita na 7; Vara Criminal de Brasília.

Sobrinha de Maria Cristina, a auxiliar administrativa Vivian Caroline Moreira, 36 anos, conta que acompanhou a tia nos dias de internação e que a sensação é de indignação entre os familiares, após os 10 anos de tramitação do caso. ;Entramos na Justiça alegando que houve um crime doloso, mas não foi possível coletar as provas porque o corpo dela foi cremado e a exumação solicitada não pôde ser realizada. É uma justiça lenta e temos medo que o caso prescreva;, comenta.

Ela acrescenta que o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) também não se posicionou a respeito do fato. ;Houve outras três mortes depois da dela. A gente fica indignado porque o CRM nunca se pronunciou. Ela tinha tudo para estar viva hoje. Ela não era obesa. Depois que ela fez a cirurgia, várias sintomas apareceram. Agora nos resta aguardar uma sentença da Justiça;, afirma Vivian Caroline. A reportagem aguarda retorno do CRM-DF em relação à conduta do médico, analisada em uma sindicância instaurada pelo conselho em junho de 2009.

Alegação da defesa


Advogado de Lucas Seixas, Cleber Lopes alega que o médico tem 18 anos de experiências e mais de 6,5 mil cirurgias de redução de estômago realizadas. Em relação à atuação do CRM-DF, o advogado lembra que o médico foi inocentado, por escolha unânime, pelo conselho regional e que os casos de mortalidade durante os procedimentos de cirurgia bariátrica correspondem a cinco: três deles por complicações cirúrgicas e dois por embolia pulmonar.

;(Ele) Teve toda sua casuística escrutinada, investigada e não entende por que a mídia nunca se interessou em divulgar sua inocência quando os juízes decidem. o fato de ser respeitado pelos seus colegas de trabalho e de ser considerado um dos melhores e mais habilidosos cirurgiões do Brasil. O caso da Maria Cristina ainda está sob julgamento e estamos convencidos de que haverá absolvição, como houve no caso da Fernanda, onde a acusação era a mesma;, afirma Cleber.

O advogado diz que a acusação recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para alegar a presença de dolo eventual no caso, mas não teve o pedido aceito. ;Não há culpa da defesa no retardamento do caso. O processo voltou para uma vara criminal comum e está na fase de julgamento. A defesa respeita, como sempre respeitou, a dor da família, mas é preciso entender o caso em detalhes antes de julgar o médico e abalar ainda mais sua reputação profissional. Observe o índice de morte na casuística dele para ver que se trata de um profissional altamente preparado;, ressalta.

* Estagiária sob supervisão de Renato Alves

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