Cidades

Aos 96 anos, Gervásio Baptista, fotógrafo de JK, opera o fêmur após queda

Ícone do fotojornalismo foi atendido no Hospital Regional de Ceilândia. Ele recebeu alta nesta terça-feira (20/2). Profissional renomado, ele cobriu a Presidência da República, guerras e o miss universo

Otávio Augusto
postado em 20/02/2018 19:40
Gervásio, em entrevista ao Correio, em novembro de 2015
Pelas lentes do fotógrafo Gervásio Baptista o Brasil viu as principais imagens da República moderna. Ele é autor da emblemática foto em que o ex-presidente Juscelino Kubitschek acena com a cartola para o povo na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960. Aos 96 anos ele foi submetido a uma cirurgia ortopédica no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), após cair e fraturar o fêmur.
Pedido ao presidente JK para acenar com a cartola: dois cliques e uma imagem histórica Gervásio ficou internado quatro dias na emergência ortopédica do hospital. Na madrugada da última quinta-feira (15/2), ele caiu na casa para idosos em que vive, em Vicente Pires. A queda aconteceu quando Gervásio se levantava para ir ao banheiro.

Os médicos submeteram o fotógrafo a uma bateria de exames antes de operá-lo. Constataram uma infecção urinária que precisou ser debelada antes da cirurgia. Nesta terça-feira (20/2), ele deixou o HRC após a operação. O fotógrafo se recupera bem. Os médicos ainda vão avaliar o comprometimento dos movimentos e a necessidade de fisioterapia.

Profissional renomado, ele fez fotos clássicas dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek , Tancredo Neves, Getúlio Vargas, entre outros. Com passagens pelos veículos de comunicação mais importantes do país, como as revistas Manchete e O Cruzeiro, Gervásio consolidou uma carreira brilhante.

[SAIBAMAIS] Cobriu momentos históricos do século 20, como a Revolução Cubana, quando clicou Fidel Castro e Che Guevara, a Revolução dos Cravos, em Portugal, a queda do presidente argentino Juan Domingo Perón e a Guerra do Vietnã. Além de testemunhar os bastidores da Presidência da República, ele registrou sete copas do mundo e 16 concursos miss universo, nos tempos áureos do evento.
O colega de profissão Orlando Brito acompanhou a internação e o pós-operatório. ;Era uma situação delicada pela idade, mas a cirurgia ocorreu muito bem. Imaginava que ele fosse muito querido, mas não tinha certeza. Recebi mensagem e ligações de amigos de todo o Brasil. Houve uma corrente positiva;, conta.
No meio do campo de batalha, na Guerra do Vietnã, em cobertura para a Manchete

Carreira profissional


Gervásio começou a fotografar aos 12 anos para o jornal O Estado da Bahia. O talento autodidata chamou a atenção do jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, que o contratou em 1950, quando se mudou para o Rio de Janeiro, para trabalhar em O Cruzeiro. A repercussão de seu trabalho iniciou uma disputa editorial. Adolpho Bloch, proprietário da revista carioca Manchete o contratou em 1952 para lançar a publicação.

Em novembro de 2015, o repórter do Correio Braziliense Renato Alves publicou um perfil do fotógrafo. Aos 93 anos, à época, ele contou detalhes da vida profissional e até fez piadas, apesar dos lapsos na memória.;Ele ficou feliz por receber visita e por falar de sua trajetória profissional. Mas estava incomodado com suas roupas. Achava que estava mal vestido;, lembra Renato.
A última foto pública do presidente Tancredo Neves foi feita pelo profissional baiano

Contou com orgulho que conheceu o ídolo na fotografia: o francês Henri Cartier-Bresson. ;A gente se conheceu quando eu fui a Paris fazer um curso de 15 dias em um laboratório. Ele é o papa do fotojornalismo;, detalhou, na entrevista publicada em 22 de novembro de 2015.

Apesar da fama internacional, Gervásio vive com uma aposentadoria modesta. Sequer tem cópias das principais fotos. Ele também recebe não pelos direitos autorais de suas imagens clássicas. Até 2015, Gervásio trabalhou no Supremo Tribunal Federal (STF).

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