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Mesmo com aumento no preço, venda de imóveis cresce 6,3% no DF

As três regiões administrativas mais rentáveis em 2017 foram Brasília, Sobradinho e Águas Claras; unidades comerciais não acompanham tendência

Ludmila Rocha - Especial para o Correio, Luiz Calcagno
postado em 20/03/2018 06:00

Águas Claras foi a terceira região administrativa mais rentável no quesito imobiliário em 2017

A procura por imóveis residenciais em regiões administrativas distantes do Plano Piloto tem aquecido o mercado no Distrito Federal. Mesmo com aumento médio de cerca de 5% no valor dos empreendimentos, as vendas cresceram 6,3% segundo o Índice de Velocidade de Vendas (IVV), no DF. A rentabilidade ; relação entre o preço do imóvel e o valor do aluguel ; também se elevou. As três regiões administrativas mais rentáveis em 2017 foram Brasília (5,31%), Sobradinho (4,81%) e Águas Claras (4,44%). No ano anterior, Sobradinho estava em primeiro (4,81%), seguida por Brasília (4,69%) e Águas Claras (4,4%).

O levantamento é do Sindicato da Habitação, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), e orienta investidores e pessoas interessadas em comprar ou alugar o próprio imóvel.

Embora os três primeiros lugares tenham mudado pouco, entidades do setor explicam que compradores preferem, na verdade, as cidades-satélites, onde o preço do imóvel costuma ser mais baixo. É o caso de Joel Aragão, 44 anos, que comprou um apartamento em Ceilândia. Daniel Guimarães, corretor que vendeu o imóvel a Joel, confirma a evolução no volume de vendas de imóveis residenciais e se diz otimista para 2018. ;Só neste mês, vendi três apartamentos;, destaca. Joel usou dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e fez financiamento para comprar o imóvel. ;Tenho medo de que o cenário econômico volte a piorar e resolvi pegar um empréstimo logo. Eles pediram 30% de entrada;, conta o futuro proprietário.

Prestes a completarem um ano de casados, Paloma Marques e Alex Portela, ambos com 28 anos, estão comprando o primeiro imóvel, investimento que reflete o bom momento do mercado imobiliário brasiliense. Após extensa pesquisa, que levou em conta as características de várias regiões administrativas, o casal de servidores públicos decidiu comprar um apartamento no Guará 2.

O adeus ao aluguel tem gosto de sonho realizado. ;Começamos a olhar no início de dezembro. Nosso interesse é ter um lugar para mexermos como quisermos. O Guará é perto do Plano e mais barato do que imóveis nas asas Sul e Norte, que também têm prédios muito velhos. Sudoeste e Noroeste são inalcançáveis, com metros quadrados muito caros para o que oferecem. Águas Claras tem valores acessíveis, mas descartamos em função do trânsito;, explica ela. Segundo Alex, o aluguel que o casal paga custa mais que os juros das parcelas da casa própria. ;Além disso, os prédios do Guará são novos, seguros para ter filhos;, avalia.

Preços em alta

Mesmo com aumento no preço, de janeiro a dezembro, foram vendidos 2.924 imóveis para primeiros donos na região, de acordo com o IVV. Cerca de 291 a mais do que no ano anterior, quando foram negociados 2.633 empreendimentos. O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do DF (Creci), Hermes Alcântara, destaca que a maioria dos negócios na região acontecem nas cidades satélites, onde é mais fácil alcançar o sonho da casa própria. ;Especialmente em Águas Claras, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. Em geral, as pessoas buscam mais apartamentos do que casas, normalmente de até dois quartos, com área de lazer e garagem;, aponta.

Ainda segundo Hermes Alcântara, a melhora nas vendas do setor nos últimos dois anos retrata a retomada da confiança do investidor na economia. ;Ainda é momento de comprar, aproveitando a baixa nas taxas de juros e a maior disponibilidade de crédito dos bancos. Acredito que não teremos subidas abruptas de valores como em 2010;, afirma. ;Águas Claras, Samambaia e Ceilândia devem ter aumento superior ao do ano passado, mas inferior ao do esperado para a capital;, avalia.

A Caixa estuda reduzir os juros para aquisição da casa própria. Paulo Muniz, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), tem uma visão diferente sobre o aumento nos preços durante o ano de 2018, embora concorde que o momento é positivo para o setor. O IVV mostrou queda de aproximadamente 12,35% na oferta de imóveis residenciais novos entre 2016 e 2017. Justamente por isso, compradores devem se apressar. ;Terminamos 2017 com 4,5 mil empreendimentos novos, metade da média histórica. Isso sinaliza um desequilíbrio entre a oferta e a procura, o que, dentro de alguns meses, deve se converter em aumento no preço dos imóveis;, analisa.

Frieza comercial


Se o início de 2018 foi favorável para a compra e a venda de imóveis residenciais, os mercados comercial e de locações tiveram um começo de ano frio. O setor se mostra instável. A média mensal de empreendimentos comerciais novos ofertados passou de 1.336, em 2016, para 2.118, em 2017, acréscimo de 58%. Por outro lado, o índice da velocidade de vendas mensal do ano passado foi de 1,4%, 0,2 ponto percentual a menos que nos 12 meses anteriores e 1,2 ponto percentual a menos se comparado com 2015.

A comerciante Jussara Mariano, 27, confirma as estatísticas. Ela deixou de alugar uma loja, no ano passado, em Águas Claras. ;Vendia roupas e acessórios femininos. O movimento caiu. Vou abrir em um lugar mais barato, como Samambaia;, conta.

A venda mês a mês também caiu em 2017 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o IVV. Em janeiro do ano passado, foram 58 vendas. Em dezembro, o número ficou em 12. Em dezembro de 2016, com prognóstico melhor, foram 21 negócios fechados. Há muita oferta e pouca procura, explica o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi), Paulo Muniz. Segundo ele, além disso, não há uma perspectiva de melhora na economia a curto prazo. ;Isso só se reverterá com uma reação significativa do cenário econômico;, explica.

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