Ciência e Saúde

Obesidade pode causar danos emocionais

Excesso de peso afeta um número cada vez maior de pessoas e aumenta os riscos de infarto e AVC, além de doenças como a depressão

postado em 26/06/2009 11:07
Alimentação rica em gorduras e açúcares, hábitos desregrados, sedentarismo. O estilo de vida contemporâneo pesa na balança, levando a uma situação preocupante. O aumento mundial do número de obesos já ganhou contornos de epidemia. E o problema não é só estético. O excesso de peso afeta a qualidade e expectativa de vida de adultos e, cada vez mais, assola crianças e adolescentes, que têm a saúde prejudicada por conta dos quilos indevidos.

Dados da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) revelam que 1 bilhão de pessoas no mundo sofrem com o sobrepeso. Dessas, 300 milhões são obesas. Embora pareça contraditório, em países da África subsaariana não se morre mais só de fome, mas também por se alimentar de forma pouco saudável. No Brasil, pelos menos 24 milhões de adultos (13%) são vítimas da obesidade, segundo o Ministério da Saúde.

A obesidade é uma doença multideterminada, ou seja, pode ser desencadeada por fatores hereditários, disfunções endocrinológicas ou aspectos ambientais, culturais e emocionais. Médicos, psicólogos e pesquisadores alertam: o sobrepeso desgasta órgãos fundamentais do corpo humano, o que faz com que eles se deteriorem prematuramente. Ser obeso é o primeiro passo para desenvolver males que podem levar à morte, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Gorduras e quilos a mais também levam ao diabetes tipo II e a problemas respiratórios (veja infografia).

Na verdade, a obesidade pode ser comparada a um ciclo vicioso. É o que diz o pesquisador e fisioterapeuta da PUC-Campinas Mário Augusto Pachoal, coordenador de um estudo com crianças que sofrem de obesidade e obesidade mórbida. O trabalho comprovou que meninos e meninas acima do peso têm enorme limitação respiratória quando submetidos a qualquer esforço físico. %u201CEssa restrição traz uma série de transtornos, a começar pela desmotivação em fazer atividades esportivas, já que os obesos não conseguem o mesmo desempenho de crianças que estão em forma. Dessa maneira, os pequenos facilmente abandonam os exercícios e tendem a ganhar ainda mais peso e menos autoestima%u201D, explica.

Uma vez dentro do ciclo, surgem os danos e as doenças, que se instalam sem qualquer resistência. Paschoal também comprovou que o desgaste no coração dos obesos é equivalente ao de pessoas muito mais velhas. %u201CMesmo em repouso, notamos que as crianças contabilizam mais de 23 mil batimentos cardíacos por dia. É uma decorrência da exacerbação do sistema nervoso simpático, que acelera o órgão, provocando as arritmias%u201D, avalia o fisioterapeuta.

Depressão
A professora e psicóloga da Universidade de Brasília (UnB) Suely Salles Guimarães lembra que o impacto psicológico da obesidade também é devastador. De acordo com ela, a população de baixa renda vem engordando muito e contribuindo para o aumento dos índices no Brasil. %u201CAs calorias são baratas. Alimentos extremamente calóricos e prontos estão muito mais acessíveis do que as frutas e verduras, cada dia mais caras%u201D, explica.

Coordenadora do Programa de Assistência e Pesquisa em Obesidade do Hospital Universitário de Brasília por quatro anos, Suelly conta que acompanhou o drama de muitos doentes. %u201COs obesos são vítimas de discriminação e tornam-se pessoas oprimidas e depressivas. Ninguém é gordo porque quer, e se livrar da doença exige um esforço bem maior do que simplesmente emagrecer. É preciso perder peso e manter-se em forma%u201D, completa.

A consultora técnica da Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Mariana Pinheiro, afirma que o órgão tem trabalhado em protocolos que visam melhorar o entendimento dos adultos e das empresas que processam alimentos em relação à alimentação saudável. %u201CDamos ênfase em ações para previnir a obesidade infantil. Começamos a preparar tutores que atuarão nos estados para incentivar a alimentação complementar saudável no início da infância. A conscientização também foi reforçada nas escolas%u201D, diz.

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