Ciência e Saúde

Molécula descoberta na Ilha de Páscoa aumenta a longevidade de cobaias

Agência France-Presse
postado em 08/07/2009 14:24
PARIS - Uma molécula encontrada na Ilha de Páscoa (Chile) prolonga assombrosamente a vida de ratos, permitindo que alguns deles vivam mais de 100 anos do equivalente à vida dos seres humanos, anunciaram cientistas nesta quarta-feira (8/7). Esta extraordinária molécula - um produto derivado de uma bactéria descoberta em mostra encontrada neste remoto arquipélago do Oceano Pacífico nos anos 70, chama-se rapamicina, em homenagem ao nome polinésio destas Ilhas: Rapa Nui. A rapamicina surgiu, inicialmente, como um excelente produto para o combate a fungos. Depois foi utilizada para prevenir a rejeição a transplantes de órgãos e, mais tarde, foi incorporada em implantes utilizados para manter abertas as artérias de pacientes com problemas coronarianos. Atualmente é utilizada, também, em testes clínicos para o tratamento contra o câncer. A última descoberta desta extraordinária odisseia é a possibilidade de que a rapamicina - ou algo semelhante - possa ser utilizada algum dia para aumentar consideravelmente a expectativa de vida dos seres humanos. "Trabalho há 35 anos em pesquisas sobre o envelhecimento e, durante esse tempo, as intervenções nunca tiveram sucesso", disse Arlan Richardson, diretor do Instituto Barshop, um dos três centros que se somaram aos experimentos com a droga. "Nunca pensei que pudéssemos encontrar algum dia uma pílula contra o envelhecimento humano. A rapamicina tem um grande potencial para tornar isso uma realidade", acrescentou. Durante o estudo, os cientistas intrigados com as sugestões de que a rapamicina inibiria uma enzima vinculada ao envelhecimento nos invertebrados, decidiram acrescentar a droga na dieta de ratos mais velhos. Nessa época, os roedores tinham 20 meses o que, em termos humanos, equivale a 60 anos. As cobaias fêmeas que ingeriram alimentos com rapamicina viviam 13% a mais que a média, em comparação com as que não recebiam a substância. Os machos que absorviam esta droga viviam 9% a mais. A mudança era mais assombrosa entre 10% das cobaias que viviam mais tempo. Neste grupo, as fêmeas que consumiam rapamicina viviam 38% a mais e os machos, 28% a mais. A rapamicina também se mostrou eficaz para retardar processos de envelhecimento ou a aparição do câncer, mas não tem nenhuma influência no processo de morte, segundo o estudo. O projeto, detalhado na revista científica britânica Nature, faz parte de um programa de testes realizado sob a supervisão do Instituto Nacional do Envelhecimento dos Estados Unidos, dedicado a buscar drogas que ajudem as pessoas a permanecerem saudáveis e ativas durante toda sua vida. Anteriormente foram feitos estudos sobre o impacto da rapamicina na longevidade de vermes e moscas. Este é o primeiro estudo sobre a sua influência sobre os mamíferos. Os cientistas já havia descoberto que mantendo os ratos mais delgados, restringindo sua dieta, poderiam fazer com que vivessem mais tempo. A teoria relativa à rapamicina é que funciona com os mesmos mecanismos moleculares que a diminuição de calorias. No entanto, num comentário também publicado na Nature, Matt Kaeberlein e Brian Kennedy, dois bioquímicos da Universidade de Washington, advertem as pessoas de meia idade para não se apressarem a ingerir a rapamicina, porque esta droga suprime o sistema imunológico.

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