Ciência e Saúde

Sueca desenvolve método de congelamento a seco, que transforma cadáver em pó

Bruno Costa
postado em 29/07/2009 08:00
Cada vez mais a sustentabilidade do planeta tem preocupado as pessoas. Seja pela noção de reciclagem, pelo descarte de pilhas ou baterias de celular e emissões de carbono. Antigas atitudes também estão sendo retomadas, como o uso da fralda de pano. Até a forma de enterrar humanos está sendo revista, pois no enterro comum, ou mesmo na cremação, o cadáver degrada o meio ambiente. Uma empresa sueca desenvolveu uma alternativa ecologicamente viável para que os restos mortais não poluam o solo.

Clique na imagem para ampliarA técnica funciona da seguinte forma: o corpo é imerso em nitrogênio líquido, no qual é congelado, em seguida é levado a uma esteira que vibra, até transformar o cadáver em pó. Depois essa poeira pode ser utilizada como adubo para árvores e plantas, que acabam substituindo as lápides. Alguns cientistas chamam esse processo de freeze-dry, que significa congelamento a seco, em português. Mas a bióloga sueca Suzanne Wiigh M;sak, que desenvolveu a técnica, prefere chamar de Promession, que significa promissão, no sentido de redenção.

Suzanne teve a ideia do promatório pensando nos entes queridos já falecidos. No entanto, o objetivo maior é o de preservar o meio ambiente. Quando a bióloga apresentou o projeto, houve um grande interesse de várias partes do mundo. ;Todo dia, nós recebemos ligações de todos os lugares do planeta;, conta.

Muito antes dos enterros tradicionais conhecidos, os restos mortais humanos eram aproveitados pela natureza, seja como nutriente ou quando devorados por outros animais. Hoje isso não acontece. O corpo em decomposição expele um líquido chamado necrochorume, responsável pela degradação do ambiente. ;O necrochorume de apenas um corpo é facilmente absorvido, mas os cemitérios acumulam muitos mortos num lugar só;, explica o ambientalista Vilmar Berna. Segundo Berna, a regulamentação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é recente e nem todos os jazigos estão preparados para reter essa substância. Para ele, o Promession pode ser uma solução, mas precisa haver outra saída. ;Primeiro temos que educar os vivos. Se não damos conta nem do lixo que produzimos, imagine o necrochorume;, enfatiza.

A cremação, apesar de não aparentar, também polui o meio ambiente, com a liberação do gás carbônico e resíduos tóxicos. Isso quando o crematório não possui filtros específicos. Para Suzanne, a incineração do cadáver é muito diferente do Promession, que não destroi o corpo. ;O método congela o morto a seco, mantendo todos os nutrientes. O que nós enterramos são os restos mortais, prontos para serem aproveitados pelo solo;, explica. A bióloga afirma que os crematórios podem utilizar a técnica sueca, que é bem mais barata. ;O custo do Promession é de 290 euros (R$ 770), enquanto a cremação, com uso dos filtros do gás carbônico, custa 320 euros (R$ 883);, revela Suzanne. Um enterro comum, aqui em Brasília, não sai por menos de R$ 3 mil.

Em larga escala
O nitrogênio líquido, fundamental para o método sueco, é produzido no mundo inteiro, por conta da demanda de oxigênio líquido nos hospitais. Para cada quilo de oxigênio líquido produzido, são quatro de nitrogênio no estoque das companhias, que produzem gás industrialmente. Se essas empresas não vendem o nitrogênio, acabam dispersando o excedente na atmosfera. ;Pelo nosso ponto de vista, esse nitrogênio é produzido de qualquer jeito. Nós estamos apenas dando um melhor uso a ele, do que apenas jogar fora;, completa a bióloga sueca.

A empresa Promessa AB patenteou o processo e fornece toda estrutura aos cemitérios, ou crematórios que fizerem a mudança. Segundo Suzanne, existe a intenção de criar um grande grupo internacional que represente essa técnica em outros países, mais ou menos como uma franquia. A Coreia do Sul já possui um cemitério destinado aos jazigos que vão abrigar a poeira resultante dessa técnica. ;Os coreanos adotaram o método desde o começo. Eles escolheram o Promession por falta de espaço para enterrar os cadáveres;, conta Suzanne. Tudo vai funcionar como uma licença para permitir o uso dessa tecnologia. Como retorno, a Promessa AB fornece todos os equipamentos.

Suzanne comentou que já houve contato de brasileiros interessados em adquirir a licença de funcionamento para um promatório. Enquanto isso não acontece no país, a solução pode ser buscar alternativas que não agridam o ambiente, como ser enterrado em caixões biodegradáveis, buscar locais de descanso que atendam as recomendações do Conama, bem como crematórios que possuam filtros para o gás carbônico e os resíduos tóxicos.

; TÓXICO
Necrochorume é uma matéria orgânica resultante da decomposição dos mortos que é extremamente tóxica e pode contaminar o solo ; um corpo produz cerca de 30 a 40 litros desse líquido. É muito pior que o chorume, aquele caldo negro e viscoso que é resultado da decomposição do lixo orgânico

; RESOLUÇÃO CONAMA N; 368/2006
No enterro tradicional, o corpo tem que ser sepultado numa profundidade com a distância de um metro e meio acima do lençol freático

; ECOLÓGICOS
Os caixões são feitos de materiais biodegradáveis, como palhas, gelatinas, papel reciclado e até lã

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