Ciência e Saúde

Delegações reunidas em encontro preparatório para a 15ª Conferência das Partes seguem sem se entender

Paloma Oliveto
postado em 12/08/2009 08:00
Yvo de Boer, secretário-geral do Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas: Enviada especial

Bonn (Alemanha) ; O painel exibido na entrada do site não deixa dúvidas: o mundo corre contra o tempo. Na home page da terceira reunião preparatória para a 15; Conferência das Partes (COP 15) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ; que ocorrerá em Copenhague (Dinamarca), entre 7 e 15 de dezembro ;, um grande relógio marca os dias, horas, minutos e segundos que faltam para o evento. Porém, até agora, muito pouco foi feito.

O encontro na Alemanha, iniciado na segunda e com encerramento na próxima sexta-feira, é informal e não serve para definir metas globais, apenas o teor do texto que será debatido na Dinamarca. Enquanto os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, integram o grupo de ação cooperativa a longo prazo, do outro lado, as nações desenvolvidas ; maiores responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono na atmosfera ; discutem as iniciativas que serão tomadas pós-Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e ratificado por 184 países em fevereiro de 2005. O documento determinou metas de redução de carbono para 37 países, além da União Europeia. Ficou acordado que, no período de 2008 a 2012, os signatários reduziriam 5% do CO2 em relação aos índices de emissão registrados em 1990.

O problema é que os Estados Unidos, segundo país que mais emite gases na atmosfera, atrás apenas da China, não assinaram o protocolo e nem mesmo a era Obama mudou o quadro. O Congresso norte-americano já reiterou a impossibilidade de ser signatário do acordo e a delegação do país enviada à Alemanha avisou que não negociará o protocolo. De acordo com diplomatas ouvidos pelo Correio, os norte-americanos não querem discutir a possibilidade para, entre outras razões, não parecer que voltaram atrás em uma importante decisão. Por ser uma nação em desenvolvimento, a China ; assim como o Brasil e a Índia ; não tem de cumprir metas de redução, mas, em Copenhague, terá de se comprometer a adotar políticas econômicas sustentáveis.

Para os Estados Unidos, porém, a China e a Índia precisam ser incluídas nos tratados de redução das emissões. Ao site inglês da BBC, o chefe da delegação norte-americana, Jonathan Pershing, disse que os dois países são peças-chaves para a assinatura de uma convenção e que deles depende o sucesso de Copenhague. ;Nós, a Europa, a China, a Índia e o Japão somos os maiores emissores. Não podemos resolver esse problema sem eles. Então, eles devem se movimentar imediatamente;, defendeu.

Interesses
O secretário-geral do Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC), Yvo de Boer, adverte que os interesses econômicos divergentes não levam em conta o fato de que há muito pouco tempo para se chegar a um acordo. ;Ainda há uma série de progressos a serem feitos em relação a vários assuntos;, afirma. ;Nós temos um texto de mais de 200 páginas com espaços vazios. E me preocupa pensar que só temos cinco semanas de negociação;, diz. Antes de Copenhague, haverá mais duas reuniões informais, em Bangkok, no fim de setembro, e em Barcelona, em novembro.

[SAIBAMAIS]O Brasil faz parte do grupo de países que tentam transformar o longo texto em um documento-base para a conferência da Dinamarca. De acordo com diplomatas, é um trabalho difícil e que não se esgotará em Bonn, pois é preciso negociar cada linha escrita com representantes de mais de 100 países. A reunião precedente, que ocorreu em junho, também na cidade alemã, foi decepcionante na avaliacão das delegacões.

Enquanto não há acordo, o planeta mantém um ritmo acelerado de degradacão. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), é preciso reduzir entre 25% e 40% a emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Caso contrário, até o fim do século, a temperatura média global pode sofrer elevação de até 4;C, o que poderá representar uma catástrofe ambiental. ;Se nós falharmos em agir, a mudança climática vai intensificar as secas, as enchentes e outros desastres naturais;, alertou ontem o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante um fórum sobre mudanças climáticas em Seul, na Coreia do Sul. A previsão de Ki-moon é mesmo assustadora: ;A falta de água vai afetar centenas de milhões de pessoas. A subnutrição vai tragar grandes partes do mundo em desenvolvimento. As tensões vão piorar. A instabilidade social, incluindo a violência, pode acontecer;.

Em meio à árdua negociação sobre que medidas devem ser adotadas pelos países para frear o aquecimento global, alguns poucos anúncios de medidas práticas. Na segunda-feira, a Nova Zelândia anunciou que deverá reduzir entre 10% e 20% a quantidade de emissões de carbono na atmosfera até 2020. Porém, a medida não agradou ambientalistas, pois inclui uma série de restrições, condicionando a postura do país a atitudes tomadas por outras nações. Baseada na economia de criação de ovelhas, a Nova Zelândia pretende plantar florestas e comprar créditos de carbono para compensar as toneladas de metano emitidas pelos rebanhos.

Os ativistas, por sinal, continuam pessimistas. ;Se os países industrializados vão se guiar por suas próprias políticas internas, por que é necessário um acordo internacional? Por que não mandar todos os negociadores para casa fazer seu trabalho e evitar emitir toneladas de carbono na atmosfera (com a realização do encontro)?;, questiona o jornal independente alemão ECO, fundado em 1972 e mantido por ONGs. Já Yvo de Boer tenta ser mais otimista, como demonstrou na segunda-feira: ;O importante é que os países deixaram claro o que querem acordar em Copenhague;, comentou, após a abertura do evento.

A repórter viajou a convite da organização do evento

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