Ciência e Saúde

Bactéria feroz: pneumococo é um dos grandes vilões para crianças com menos de 1 ano

Para prevenir doenças pneumocócicas, vacina 10 conjugada será aplicada na rede pública em 2010

postado em 26/08/2009 08:30
As crianças menores de 1 ano são mais sensíveis à contaminação pela bactéria Streptococcus pneumoniae (pneumococo), responsável por provocar doenças como meningite, pneumonia bacteriana e dor de ouvido. A constatação faz parte da pesquisa desenvolvida pela infectologista brasileira Ana Lúcia Andrade e apresentada no do 13; Congresso Latinoamericano de Infectologia Pediátrica, realizado em Guaiaquil (Equador). Em 2008, a médica acompanhou a evolução de 5 mil bebês com diagnóstico de pneumonia e descobriu que 48% sofreram infecção pelo pneumococo.

Clique na imagem para ampliarO micro-organismo, que habita naturalmente o corpo humano, precisa encontrar uma brecha, uma queda nas defesas do sistema imunológico para se transformar em doença ; como após uma gripe, por exemplo. ;Como os bebês possuem um organismo frágil, são mais suscetíveis à contaminação;, explica a médica e professora da Universidade Federal de Goiás. Instalada no corpo, a bactéria pode se manifestar como otite, bronquite, pneumonia ou meningite, entre outras complicações. ;A vacina é a arma mais eficaz;, garante a infectologista. Uma substância que poderia ter protegido a saúde da pequena Giovanna, de apenas 4 meses. A garota nasceu em 21 de abril deste ano, foi para casa e, em 17 de maio, voltou ao hospital. ;Ela teve pneumonia bacteriana e ficou 11 dias na UTI;, conta a mãe, Michelle Calazans. ;É a nossa primeira filha e meu marido e eu ficamos muito assustados, mas agora ela está bem;, diz a administradora.

Pais e mães podem ficar tranquilos. A partir do próximo ano, um imunizante contra a doença estará disponível nos centros de saúde: a vacina 10 conjugada será incluída no calendário de vacinação do Ministério da Saúde para as crianças menores de 1 ano. A inclusão faz parte de um acordo do órgão do governo brasileiro com o laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK), empresa que detém a tecnologia do produto.

Pelo tratado, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) produzirá anualmente 13,1 milhões de doses da vacina, quantidade suficiente para imunizar os 3,2 milhões de bebês que nascem por ano no país. Em março de 2007, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os calendários de vacinação infantil dos países em desenvolvimento incluíssem a vacina contra o pneumococo.

Riscos
Segundo o infectologista Marco Aurélio Sáfadi, do Hospital São Luiz (São Paulo), a vacina deve ser administrada em quatro doses ; aos dois, quatro e seis meses, com uma dose de reforço entre 12 e 15 meses. Ele foi um dos palestrantes de um simpósio sobre o tema no 13; Congresso Latinoamericano de Infectologia Pediátrica, que ocorreu na segunda semana de agosto em Guaiaquil (Equador).

O pneumococo está presente no corpo de crianças e adultos. ;Criança compartilha brinquedos e compartilha bactérias. Se ela é menor de 2 anos e vai à creche, já são dois fatores de risco;, afirma o especialista em doenças pediátricas infecciosas Adriano Arguedas, professor de pediatria da Universidade Autônoma de Ciências Médicas de San José (Costa Rica). ;Por isso, a vacina é de extrema importância. As pessoas desconhecem o risco, mas as doenças pneumocócicas na infância são mais perigosas do que a gripe A;, exemplifica o pediatra José Marcos Rezende Andrade, do Hospital Santa Luzia. ;A criança que receber a vacina terá uma proteção de 90%;, garante Ilma Cunha Barros, médica do Hospital das Clínicas de Brasília.

No Brasil, o pneumococo tem alto impacto na saúde pública, com cerca de 1,5 mil casos de meningite, 20 mil casos de pneumonia hospitalizados e mais de 3 milhões de casos de otite média aguda registrados anualmente. A meningite por pneumococo já é a primeira causa de meningite em crianças menores de 1 ano e está associada à letalidade de 27,5%.

Para a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, o anúncio da vacina é uma boa notícia, porque a inclusão do medicamento na rede era reivindicação antiga das sociedades de imunização e pediatria. Uma vacina similar, que protege contra sete subtipos de vírus e custa R$ 500, já está disponível na rede privada há quase 10 anos, com resultados positivos. Há ainda uma terceira vacina, da Wyeth, que protege contra 13 sorotipos da bactéria, mas que aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A jornalista participou do 27; Congresso Anual da Sociedade Europeia de Doenças Infecciosas Pediátricas em Bruxelas (Bélgica) a convite da GlaxoSmithKline, e do 13; Congresso Latinoamericano de Infectologia Pediátrica, em Guaiaquil (Equador), convidada pelo laboratório Wyeth

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