Ciência e Saúde

Cresce número de vasectomias no Brasil

Entre 2006 e 2008, cirurgias realizadas pelo Sistema Único de Saúde em homens que não querem mais ter filhos aumentaram 57%

Paloma Oliveto
postado em 31/08/2009 10:40
Cada vez mais, os homens dividem com as mulheres a decisão de não ter filhos. De 2006 a 2008, o número de vasectomias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu 57%. No Distrito Federal, somente no ano passado, foram feitas 1.895 cirurgias, contra 1.291 registradas em 2007 ; um pouco menos de 50%. Os números certamente são ainda maiores, porque não incluem os procedimentos em hospitais e clínicas particulares nem aqueles cobertos pelos planos de saúde que, por lei federal, são obrigados a pagar as despesas com esse tipo de operação.

Para o médico Evandro Cunha, diretor do Hospital Urológico de Brasília, as estatísticas são o reflexo do maior esclarecimento, entre os homens, sobre a vasectomia. ;Havia várias crendices, como as de que a cirurgia engordava, causava câncer ou impotência. Isso afastava as pessoas;, diz. Muitas pessoas também tinham medo de encarar o procedimento. ;É outra bobagem;, assegura o urologista. Feita com anestesia local e sedação, a vasectomia pode ser realizada de forma ambulatorial, ou seja, sem necessidade de internação. O tempo varia entre 20 e 40 minutos. ;Como em qualquer cirurgia, pode haver infecções locais, hematomas e inchaços, mas nada de muito importante;, diz.

Entre 2006 e 2008, cirurgias realizadas pelo Sistema Único de Saúde em homens que não querem mais ter filhos aumentaram 57% A recuperação também é rápida. ;É importante um resguardo de pelo menos 48 horas e, então, o homem pode recomeçar a vida normalmente;, diz o urologista Nelson Gattas, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São Paulo. Observado esse período, é possível ter relações sexuais, a não ser que o paciente ainda sinta desconforto, algo raro de ocorrer. No procedimento, são feitas duas pequenas incisões, uma em cada testículo, que não costumam ser dolorosas.

Reflexão
Apesar da facilidade técnica, os médicos alertam que, para se submeter à vasectomia, é preciso estar completamente seguro. De acordo com o Ministério da Saúde, só podem fazer a cirurgia homens com mais de 25 anos e pelo menos um filho. Além disso, eles têm de assinar um termo de compromisso, assim como as parceiras, caso sejam casados.

Ainda assim, Nelson Gattas conta que só faz o procedimento em pessoas com mais de 30 anos e ao menos dois filhos. ;É preciso me convencer muito. Eu sou uma espécie de ;advogado do diabo; da vasectomia: contraindico e nunca marco a cirurgia de imediato. Converso com o paciente e peço que volte em 60 dias para que reflita bem, pois o ato não pode ser intempestivo;, diz. Ele também lembra que o homem não deve se deixar levar pela insistência da mulher. Até porque é comum que, mais tarde, eles constituam outras famílias e se arrependam de não poder mais ter filhos.

O diretor do Hospital Urológico de Brasília explica que, embora seja possível reverter a vasectomia, a cirurgia é bem mais complexa e não garante 100% de sucesso. ;Dos homens que fazem a reversão, entre 50% e 60% conseguem engravidar uma mulher;, diz. Segundo Evandro Cunha, a partir do quinto ano do procedimento, vai se tornando mais complicado recuperar a fertilidade. Além do tecido fibroso ficar mais denso por causa da cicatriz, o que dificulta a religação dos dutos cortados na vasectomia, com o tempo, o próprio testículo passa a produzir menos espermatozoides.

[SAIBAMAIS] Cuidados
Se o homem, porém, está seguro de que quer fazer a vasectomia, ele deve seguir à risca as recomendações médicas. É essencial fazer o espermograma, exame que mede a quantidade de espermatozoides, 40 dias depois da cirurgia. ;Todo médico deve induzir o paciente a fazer o exame até que o espermograma esteja zerado. Até lá, é preciso usar outros métodos anticoncepcionais;, alerta Evandro Cunha.

Contrariando essa regra, o motorista Antônio Tonaco, 46 anos, foi pai pela quarta vez há três anos, depois de ter feito a cirurgia. Ele já tinha três filhas na casa dos 20 anos e, como estava terminando o casamento, resolveu se submeter à vasectomia. No carnaval, certo de que não podia mais ter filhos, acabou engravidando uma mulher com quem teve um rápido relacionamento. ;Foi descuido da minha parte. Eu não fiz o espermograma;, confessa. Avô de dois netos, Tonaco teve de refazer a cirurgia porque, segundo seu médico, em um dos testículos ele tinha dois canais, em vez de um. Algo raríssimo de ocorrer na medicina. Depois do segundo procedimento, o motorista obedeceu as recomendações do cirurgião. ;Filho, agora, só na próxima encarnação;, brinca.

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