Ciência e Saúde

Hereditárias e perigosas

Varizes atingem pelo menos 20 milhões de brasileiros. A maioria deles, mulheres. Em 70% dos casos de quem tem histórico na família, o problema aparece antes dos 30 anos %u2014 e não tem cura

postado em 13/12/2009 08:00
A ameaça das varizesAs varizes dos membros inferiores, vasos dilatados que comprometem a circulação sanguínea das pernas, são consideradas um dos problemas mais antigos da humanidade. As indesejáveis veias azuladas e tortuosas acometem pelo menos 20 milhões de brasileiros. As mulheres são as maiores vítimas. Esteticamente, a doença traz uma série de embaraços e limitações, mas o que mais preocupa angiologistas são os transtornos que o mal pode provocar à saúde e à qualidade de vida dos pacientes. E engana-se quem pensa que as varizes atingem apenas os mais velhos. Para desespero daqueles que têm histórico na família, em 70% dos casos a anomalia se manifesta antes dos 30 anos.

A doença não tem cura, mas pode e precisa ser controlada, porque, geralmente, indica o prenúncio de mazelas mais sérias. O angiologista e cirurgião vascular Augustus César de Araújo explica que as varizes são Joana D'Arc (de azul) e a mãe, Maria da Conceição: pernas para cima são resultado da perda de elasticidade dos vasos venosos, que se dilatam, afetando a circulação e a aparência dos membros inferiores. Os portadores do mal têm veias com paredes fracas. ;A carga genética é realmente o principal fator de risco. Filhos de pessoas que carregam a doença herdam o mal. Mas fatores do dia a dia, como a obesidade, ficar muito tempo em pé ou sentado, o sedentarismo, o tabagismo, a gestação e alterações hormonais também desencadeiam a formação de veias dilatadas, porque acentuam o erro genético;, detalha.

Especialistas reconhecem que a estrutura feminina é mais vulnerável à doença, já que 70% das mulheres apresentam as deformações, em menor ou maior grau. São as mulheres também que mais procuram por tratamento. Mas os homens não estão livres do mal e da série de problemas e complicações decorrentes dele, e sofrem com os mesmos sintomas. Dor, cansaço e sensação de peso nas pernas são as manifestações mais frequentes, mas as varizes também provocam inchaços, ardência e até cãibras.

Gravidez
A professora Joana D;Arc Ferreira Lima, 51 anos, conhece muito bem o incômodo provocado pela dilatação nos vasos venosos. Ela relata que ainda não tinha alcançado a maioridade quando se deu conta de que as pernas já padeciam com pequenas veias dilatadas. ;Tive três filhas e percebi que o número e o calibre das veias doentes aumentaram bastante depois das gestações. As varizes limitam minha vida, pois quando ando muito, sinto dor nas pernas. Se fico sentada por longo período de tempo, dói também. É uma chateação. Sem contar que não me permito usar saias sem meias finas. Esteticamente, é muito complicado para quem é vaidosa;, diz.

As varizes da professora foram herdadas da mãe, a dona de casa Maria da Conceição Ferreira, 72 anos. ;Com a idade, as veias vão ficando mais altas e doloridas. Procuro não carregar peso e faço exercícios regularmente, mas, quando a dor aperta, preciso colocar as pernas para cima. É o que alivia;, revela a matriarca. ;Tive sete filhos, os dois últimos por pura insistência mesmo, porque o médico já havia proibido que eu engravidasse novamente depois da quinta gestação;, confessa Conceição. Joana observa que uma das lembranças de sua infância é justamente a da mãe com as pernas para o alto. ;Na época, achava engraçado, mas hoje faço exatamente como ela. É a melhor maneira de reduzir a dor e a queimação;, reconhece a professora, que confessa ter adiado o tratamento por muitos anos. ;Minhas filhas e sobrinhas têm pernas bonitas, mas também já apresentam pequenos vasinhos dilatados. A diferença é que, desde muito cedo, elas começaram a tratar;, diz.

A doença não atinge todos da mesma forma ou intensidade. As microvarizes, aquelas pequenas veias vermelhas que simulam teias de aranha, geralmente não geram grandes complicações, a não ser as estéticas. Os vasos mais dilatados, de maior calibre e de cor azulada, são mais complexos e podem desencadear mais transtornos para a saúde. Em casos mais graves e não tratados, o paciente pode ter complicações como flebites, eczemas, hemorragias ou tromboses venosas, ponto mais crítico da doença. Úlceras crônicas também podem aparecer naquelas pessoas que não tratam o mal.

;As tromboses promovem a embolia pulmonar e podem levar a pessoa à morte. As complicações não letais também são comprometedoras, porque limitam o movimento. Por isso, aconselhamos que a pessoa procure o tratamento adequado. As terapias disponíveis não curam, mas livram dos sintomas e dos perigos da dilatação;, pondera o angiologista.

Sem remédios
O presidente da regional gaúcha da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular, Luiz Francisco Costa, um dos representantes brasileiros no Simpósio sobre Varizes dos Membros Inferiores (Flebo 2009), realizado no fim de novembro, em Porto Alegre, esclarece que não existem medicamentos para prevenir varizes. ;Nos casos mais leves, lançamos mão da escleroterapia, na qual injetamos substâncias que secam os vasinhos. O laser é usado de maneira mais invasiva para veias mais grossas e de forma mais superficial para os vasos menos dilatados. A cirurgia ainda é a melhor opção para as pessoas que estão com o transtorno em estágio mais avançado;, assegura.

Como o calor ajuda a dilatar os vasos, em regiões quentes o desconforto é maior. Angiologistas recomendam alguns cuidados. Exercícios físicos e controle de peso são importantes para evitar que o problema se agrave. Mulheres com tendência a varizes devem se preparar muito para a gestação, porque a gravidez provoca uma mudança na hemodinâmica dos vasos da região pélvica. As veias da perna drenam por essa área e o útero repousa na pelve, fazendo a compressão dos vasos, o que acaba gerando ou agravando um quadro já existente. ;Os anticoncepcionais e a reposição hormonal devem ser evitados. Caminhadas e exercícios na água são excelentes. É importante que a pessoa goste do exercício para praticá-lo a vida toda. O interessante é ter um bom condicionamento muscular e não um excesso de massa. A sobrecarga gera o aumento da pressão venosa e também agrava a doença;, alerta.

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