Ciência e Saúde

Volta às aulas: hora de readaptação à vida escolar

O fim das férias traz de volta os velhos compromissos e horários. Segundo especialistas, os pais devem elaborar um planejamento para que as crianças retornem gradativamente ao ritmo de estudos

postado em 02/02/2010 08:00
O casal Alexandre e Érica se consideram pais de sorte: os filhos, Gustavo, Felipe e Letícia, não veem a hora de as aulas começaremFoi um período de muita diversão. Dormir até tarde, brincar o dia todo, viajar e só ir para a cama altas horas. Mas, como tudo que é bom acaba, não poderia ser diferente com as férias. Chega o mês de fevereiro e, com ele, voltam a rotina, a necessidade de acordar cedo todos os dias e os horários mais rígidos. Até que pais e crianças estejam adaptados novamente, são semanas de luta para sair da cama ou para ir logo dormir. Segundo especialistas, para uma volta às aulas sem traumas, o segredo é ir se adaptando aos poucos.

Ana Maria Miyamoto de Oliveira montou com a ajuda do marido, André, uma verdadeira operação de guerra para a volta às aulas dos dois filhos. Para que João Pedro, 6 anos, e Maria Clara, 1 ano e seis meses, não tenham problemas em se adaptar aos novos horários impostos pela escola, ela preparou uma semana de adaptação. ;Estamos voltando de um período longo de descanso, por isso, no início do ano letivo, eles sofrem um pouco. Mas para a última semana de férias eu preparei um esquema de horários mais rígidos, para eles irem se acostumando;, conta a mãe.

André e Ana Maria estimulam João Pedro e Maria Clara a acordarem mais cedo na última semana de férias para, assim, se adaptarem aos novos horáriosDurante o recesso, João Pedro e Maria Clara se acostumaram a dormir até pelo menos às 9h. Como terão de acordar por volta das 6h durante o ano letivo, a solução encontrada por Ana Maria foi um meio-termo. No fim das férias, todo mundo tem de estar de pé até as 8h. ;Como acordam mais cedo, eles acabam dormindo mais cedo também. Assim, por volta das 20h, já estão indo para a cama. Como são crianças, eles se adaptam bem rápido;, diz a mãe.

Não são só os pais que precisam bolar uma estratégia de adaptação. As escolas também têm essa preocupação. Segundo a psicopedagoga Ana Paula Bertolin, coordenadora pedagógica da Escola Cantinho Mágico, o ritmo das aulas costuma ser mais lento no começo do ano. ;Nós preparamos uma semana com várias atividades lúdicas e brincadeiras pedagógicas. Antes de iniciar uma rotina mais pesada, utilizamos este início de ano para avaliar os alunos e prepará-los para o dia a dia da escola;, afirma.

Segundo ela, o desafio é lidar com tipos diferentes de alunos. Há aqueles que sentem dificuldades de acordar cedo, seguir horários rígidos e até ficar longe dos pais, como é o caso dos mais pequenos. Mas também é muito comum que algumas crianças cheguem muito agitadas à escola. ;Nas férias, elas brincam muito e acabam trazendo essa energia toda para a escola. Muitas vezes, temos que estimular algumas e tentar acalmar outras;, conta a psicopedagoga.

Ansiosos
Esse é o caso dos três filhos de Érica Ceolim Silva e Alexandre José de Matos. Empolgados com a volta para a escola, Letícia, 6 anos, Gustavo, 4, e o pequeno Felipe, de 1 ano e sete meses, mal podem esperar para rever os coleguinhas e conhecer a nova professora. ;Nesta semana, eles desistiram de dormir na casa da avó, que eles adoram, só para irem comigo entregar o material na escola. Eles estão ansiosos para voltar;, explica a mãe.

Em uma situação de dar inveja aos pais dos pequenos mais preguiçosos, Érica estimula esse interesse pela escola, pois acredita que seja o caminho mais fácil para evitar problemas nas próximas semanas. ;Nesse horário de verão, costuma ser ainda mais difícil acordar cedo. Se não fosse essa animação toda deles, acho que seria complicado arrancá-los da cama de manhã ou fazê-los ir dormir mais cedo;, conta, aliviada, a mãe das três crianças.

Para a orientadora educacional Lúcia de Melo, além de criar um período de adaptação, é importante que os pais orientem as crianças sobre a importância de seguir os horários e ter responsabilidades. ;As crianças vão dar muito menos trabalho se estiverem conscientes de que é importante chegar na hora e cumprir todas as tarefas, mesmo neste início de ano letivo. Se elas próprias tiverem essa consciência, a adaptação não será tão difícil;, orienta a especialista em educação infantil.

Segundo Lúcia, a oportunidade pode ser aproveitada para trabalhar com a criança valores que serão importantes para a vida toda. ;Os pais podem aproveitar esse período para mostrar à criança questões como a importância dos estudos e de ser uma pessoa responsável;, enumera. ;Quanto mais cedo ela aprender que não pode ficar dependendo da cobrança dos pais para tudo e que também é responsável por suas atividades, mais rápido ela vai amadurecer e aprender a cuidar sozinha dos seus horários;, completa.

Primeira vez exige cuidados diferentes
Se a criança nunca frequentou a escola, o cuidado com a adaptação deve ser redobrado. Isso porque, além da nova rotina, a criança precisa se adaptar ao ambiente escolar. ;É muito importante que a criança se sinta bem na escola. Uma criança que não confia no professor pode ter dificuldades na aprendizagem e em fazer amizades com os colegas;, explica a psicopedagoga Ana Paula Bertolin.

Nessas horas, paciência é a palavra-chave, principalmente quando a criança ingressa no colégio cedo. ;A escola pode ser a primeira experiência que as crianças têm longe da família, por isso ela não pode ser traumática. Nesses casos, recomendamos que algum familiar a acompanhe nos primeiros dias, para que ela se adapte melhor ao ambiente;, explica Ana Paula. ;Forçar nunca é positivo. Aquele método de deixar a criança logo na escola e esperar que ela se vire sozinha pode ter um efeito inverso. Ela pode se sentir abandonada e desprotegida;, completa.

Para a orientadora educacional Lúcia de Melo, o diálogo pode ser muito valioso nesses momentos. ;Os pais podem, desde cedo, apresentar a criança à escola. Explicar como é o ambiente, mostrar que ela pode fazer mais amigos e aprender coisas novas é um primeiro passo;, conta. ;Outra saída é utilizar o próprio exemplo para orientar os filhos. Mostrar que os pais também têm suas responsabilidades e que a escola é a responsabilidade deles;, completa.

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