Ciência e Saúde

Implante que libera hormônios e funciona como método contraceptivo e de combate à TPM tem sido usado como forma de ganhar massa muscular

Especialistas, porém, ressaltam chances de efeitos colaterais

postado em 23/04/2010 07:00
Um método de liberação de hormônios por meio de um implante subcutâneo, inicialmente desenvolvido como contraceptivo e aliado na luta contra a tensão pré-menstrual, começa a ganhar espaço, porém, por conta de alguns efeitos colaterais: ganho de massa e definição muscular, aumento da libido e melhora na textura da pele. Trata-se de uma cápsula, de 3cm a 4cm, colocada sob a pele de mulheres com baixas taxas hormonais, liberando na corrente sanguínea progesterona, com uma pequena dose de estrogênio e testosterona (hormônios feminino e masculino, respectivamente).

Especialistas, porém, ressaltam chances de efeitos colateraisA atração das mulheres por essas promessas é compreensível, mas não deixa de ser preocupante. Uma eventual aplicação inadequada, com níveis hormonais destinados mais a ganho muscular do que a qualquer outra coisa, pode gerar efeitos colaterais extremamente desagradáveis, tanto do ponto de vista estético quanto do de saúde.

O objetivo primeiro desses implantes é mesmo suspender a menstruação, quando ela se torna algo problemático, doloroso ou causador de endometriose. ;Há mulheres que sofrem demasiadamente com a tensão pré-menstrual (TPM), que traz sintomas de depressão, irritação e dores. Além disso, há pacientes com um fluxo tão forte que chegam a ficar anêmicas. O implante combate tudo isso, além do efeito contraceptivo;, explica Malcom Montgomery, ginecologista e obstetra.

O médico esclarece que os implantes são combinações de hormônios que ajudam, além de na suspensão da menstruação, em tratamentos de saúde, como a reposição hormonal. ;São mais de 30 combinações utilizadas por nós. O importante é individualizar a paciente para saber o quanto ela precisa de hormônio;, ressalta.

O presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina (Sobrage), Elsimar Coutinho, é precursor e defensor do método no Brasil. Mesmo ele, porém, ao explicar como o implante é feito ; à base de progesterona sintética, que tem uma pequena ação parecida com a da testosterona ;, não deixa de se referir aos riscos de efeitos indesejáveis do implante. ;É um composto químico que tem alguns efeitos andrógenos (no caso, que aproximam as reações do corpo feminino às do masculino). Isso leva a um aumento de massa muscular, mas também pode levar a aumento de pelos, queda de cabelos, oleosidade da pele, acne. Cabe ao médico dosar o hormônio de acordo com cada paciente, para minimizar esses efeitos colaterais;, ressalva Coutinho.

Sem previsão
Ruth Clapauch, vice-presidente do departamento de endocrinologia feminina e andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbema) e membro da Sociedade Americana de Endocrinologia, esclarece que o uso desses implantes para fins estéticos não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem pela Sociedade Americana de Endocrinologia. Ela alega que a questão da relação custo-benefício ainda não está bem fundamentada para o uso específico na estética. ;O que não está bem fundamentado é a segurança na utilização desse hormônio, porque pode levar a vários efeitos colaterais. Eles podem ser de curto prazo, como aumento de pelos, queda de cabelo, engrossamento da voz e infertilidade, ou de longo prazo, como aumento da gordura abdominal, resistência à insulina, diminuição do colesterol bom e alteração da pressão arterial.;

Clapauch também ressalta a importância dos exames antes da colocação do implante, mesmo com fins contraceptivos. ;Não posso dizer que ele é recomendado, isso vai depender de cada paciente.; Por isso, a mulher passa por uma bateria de exames de sangue, além de um ultrassom de todos os órgãos responsáveis pelas funções endócrinas, para só então o médico avaliar se ela pode fazer uso do método.

Malcom Montgomery, que tem pacientes famosas, como Ana Hickman, Sheila Mello e Adriane Galisteu, entre outras, afirma que recusou várias pacientes que buscavam a tal receita da beleza. ;Não coloco o implante se a mulher estiver equilibrada hormonalmente. Seria o mesmo que ;bombar; essa paciente;, diz. ;Os hormônios podem definir a qualidade de vida. O que fazemos é usá-los de forma equilibrada para atender os interesses das pacientes, baseados na saúde;, completa.

A professora de educação física Luciana Cirillo, 40 anos, utiliza o implante há seis. Ela conta que se rendeu ao método por conta dos fortes sintomas da TPM. ;Sofria com oscilações de humor terríveis. Tinha períodos nos quais passava dias trancada dentro do quarto chorando. Em outros, queria matar meus dois filhos de tanta irritação. Depois que coloquei o implante, acabou tudo.; Porém, como tudo tem o outro lado, Luciana sofreu durante um ano com os efeitos colaterais até chegar à dose certa de hormônio. ;Passei por meses de inchaço, acne e queda de cabelo. Pensei em desistir, mas nada pagava a alegria de não sofrer mais com a TPM.;

Como resultado secundário, a educadora física exibe um corpo bem definido de dar inveja a muitas meninas de 20 anos. ;Quando a gente chega aos 40 anos, tudo começa a cair. Comigo isso não aconteceu, e devo isso ao implante ; acho que ele ajuda a manter ;, claro, aliado a muita malhação e a uma alimentação equilibrada;, diz. De acordo com Coutinho, se não houver disciplina nas atividades físicas e uma alimentação balanceada, o efeito no corpo é o contrário. ;Não é mágica. Ele exige atividade física regular e alimentação correta, senão a mulher acumula gordura abdominal, uma característica masculina.;

;Chipadas;
Para Tatiana Cirillo, 28 anos, sobrinha de Luciana e atleta de corrida de aventura, o implante foi a saída para sanar o desconforto de estar menstruada durante os dias de competição e atingir uma melhor performance no esporte. ;Não tem nada a ver com doping;, ressalta. Tatiana tinha uma baixa hormonal que foi sanada pelo implante de estradiol sintético. ;Perdia muita massa muscular durante a competição e a causa era um desequilíbrio hormonal. Hoje, me recupero mais rápido;, conta. Além disso, a atleta relata que não é nada fácil ficar uma semana menstruada no meio do mato. ;Era terrível e, na maioria das vezes, constrangedor;, lembra.

No mundo das academias, as mulheres que utilizam o método do implante são chamadas de ;chipadas;. ;A gente escuta as pessoas falando: ;Olha aí, lá vai a bombada;. Isso é constrangedor;, comenta Flávia*, 40 anos. Mãe de dois filhos, ela utiliza o implante há oito anos como contraceptivo. ;Tentei de tudo e não me dava bem com nenhum método;, lembra. Ela garante que o efeito secundário ; dos músculos bem definidos ; que o implante traz é mais fruto de sua genética e da disciplina nos exercícios. Mesmo tachada como ;chipada;, Flávia é bastante abordada na academia por meninas que querem um corpo como o dela. ;Malho desde os 30 anos e sempre fui magra. Tudo é uma consequência da vida que levo. As pessoas são mal informadas e acham que o implante é milagroso. Estão erradas;, diz.

Nome fictício a pedido da entrevistada


Opções

Tipos de implantes contraceptivos usados no Brasil:

Elcometrina
Tem efeito de seis meses

Vantagens secundárias: diminui o inchaço e reduz grandes focos de endometriose

Desvantagens: 15% das mulheres sofrem perda de libido, por isso é comum associar à substância uma pequena dose de testosterona

Gestrinona
Tem efeito de um ano

Vantagens secundárias: combate a celulite, eleva um pouco a libido e contribui para o ganho de massa muscular nas mulheres que praticam esportes.

Desvantagens: aumenta a acne e pode estimular o apetite nos primeiros meses de uso

Implanon
Tem efeito de três anos

Vantagens secundárias: alivia a TPM, reduz as cólicas e as intensidade do fluxo nas que prosseguem menstruando.

Desvantagens: dores de cabeça e ganho de peso, sobretudo nos três primeiros meses de uso. Outras possibilidades são acne, queda de cabelo, aumento dos pelos e redução da libido

Fonte: ginecologista e obstetra Malcolm Montgomery

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