Ciência e Saúde

Laboratório da UFMG desenvolvem bateria do futuro

Espécie de pilha gera eletricidade a partir do hidrogênio. Apesar de ainda ser cara, a tecnologia pode representar uma opção viável para a produção de energia não poluente

postado em 17/05/2010 11:26
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um dispositivo que utilliza hidrogênio para gerar eletricidade e calor. As chamadas pilhas a combustível podem fornecer energia para qualquer tipo de sistema, desde aparelhos portáteis até grandes cidades e indústrias. A utilização do equipamento tem a vantagem de produzir energia limpa, não poluente e renovável.

O equipamento desenvolvido pela UFMG: sem emissão de poluentesAs novas pilhas não se assemelham às conhecidas baterias que fazem funcionar os equipamentos eletrônicos. Elas são constituídas de finas multicamadas cerâmicas, formando placas com 15cm de comprimento e largura e 1,5mm de espessura, que lembram folhas de papel. Enquanto as pilhas comuns são fontes geradoras que se desgastam rapidamente, as desenvolvidas pelo grupo do Laboratório de Materiais e Pilhas a Combustível (Lampac) da UFMG têm vida útil quase ininterrupta, porque funcionam a partir da injeção de hidrogênio e não do consumo de seus constituintes. ;A pilha normal contém elementos químicos em seu interior que são convertidos em eletricidade até que se esgotem, sendo então a pilha recarregada ou substituída. No caso da pilha que desenvolvemos, os elementos químicos a serem convertidos são oxigênio e hidrogênio, e, como eles podem ser fornecidos de modo contínuo, a pilha mantém a produção de energia indefinidamente;, explica Rosana Zacarias Domingues, química e uma das coordenadoras do projeto.

O maior diferencial dessas pilhas, no entanto, é o uso de altas temperaturas para converter combustíveis químicos em eletricidade. ;Temperaturas entre 800;C e 900;C quebram as moléculas de hidrogênio. Essas reações dispensam catalisadores nobres, como a platina, que aumenta o custo da geração de energia;, esclarece Rosana. O protótipo desenvolvido pelo Lampac é formado por três componentes básicos: um cátodo, um anodo e um eletrólito ; como qualquer outra pilha. Porém, esses componentes são produzidos com materiais cerâmicos de alta tecnologia que demandam tratamento térmico em fornos que alcançam 1.700;C.

Segundo Túlio Matencio, outro químico coordenador do projeto, é justamente por funcionar em alta temperatura que a pilha adquire a vantagem de ter um rendimento energético muito superior aos atuais modelos, como os baseados em combustíveis fósseis. ;O calor gerado na reação química que produz eletricidade também pode ser aproveitado, o que aumenta o rendimento.;

Espécie de pilha gera eletricidade a partir do hidrogênio. Apesar de ainda ser cara, a tecnologia pode representar uma opção viável para a produção de energia não poluentePara efeito de comparação, a eficiência do carro a gasolina é baixa, ficando em torno de 20%. Todo o calor expelido é desperdiçado. Já a pilha a combustível pode alcançar rendimento superior a 80%. ;O calor acaba virando fonte para gerar energia e pode, por exemplo, aquecer ou acondicionar uma casa. É o mínimo de desperdício;, comenta Matencio. Outra vantagem do equipamento é o que os pesquisadores chamam de reforma interna. O hidrogênio ; necessário para a reação química que ocorre no interior da pilha ; pode ser obtido a partir do etanol. ;Por trabalhar em altas temperaturas, a pilha pode quebrar as moléculas do etanol e transformá-las em hidrogênio;, observa o químico.

Módulos
As pilhas precisam funcionar agrupadas em módulos. Sozinhas, elas produzem apenas 1,1 voltz. ;Um módulo da altura de uma geladeira, com cerca de 300 células empilhadas, gera de 1kW a 5kW, podendo, por exemplo, abastecer um condomínio pequeno;, exemplifica Rosana.

Para Claudio Homero, engenheiro químico de tecnologia e normalização da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), parceira no projeto, a pilha a combustível é importante para a tecnologia de geração de energia distribuída. ;Ou seja, o consumidor pode ter essa energia gerada próxima à sua casa, evitando investimentos em redes de distribuição e, consequentemente, apagões.;

A pesquisa agora pretende produzir um protótipo comercial de 500 watts para pequenas aplicações domésticas e comerciais. ;A ideia é ter um gerador capaz de suprir a demanda de energia em locais remotos ou onde o essencial seja a qualidade e não o preço da energia, como ocorre em hospitais e centros de processamento de dados;, informa Rosana. Isso porque a produção dessa pilha ainda é cara. ;O valor chega a ser 10 a 100 vezes maior que o preço atual da energia convencional;, observa a pesquisadora.

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