Ciência e Saúde

O oceano de Marte

Estudos mostram que o planeta abrigou grande quantidade de água, tendo, portanto, apresentado condições para o surgimento de vida

postado em 26/06/2010 07:00
Nos últimos anos, estudos têm apontado que, em períodos diferentes, Marte e a Terra podem ter sido muito semelhantes. Dois estudos recentes trazem fortes evidências de que o astro vizinho foi coberto por uma grande quantidade de água, tendo, portanto, apresentado condições para abrigar vida no passado. Ontem, as agências espaciais europeia (ESA) e norte-americana (Nasa) informaram que as sondas Mars Express e Mars Reconnaissance Orbiter identificaram minerais hidratados no norte do planeta, uma clara evidência de que havia água no lugar. O anúncio vai ao encontro de outro estudo, divulgado há cerca de 10 dias, por cientistas da Universidade do Colorado, que concluíram que, há bilhões de anos, um oceano cobria o polo norte do astro vizinho.

[FOTO1]Na pesquisa anunciada ontem, divulgada pela revista especializada Science, os cientistas dizem que as duas sondas já haviam encontrado, na região sul, pequenos afloramentos de rochas modificadas pelo fluxo de água. Porém, como a região norte é coberta por uma grossa camada de lava e sedimentos, as mesmas formações ainda não haviam sido identificadas na região. Agora, a Mars Reconnaissance, operada pela Nasa, conseguiu imagens de alta resolução que mostram pelo menos nove crateras com minerais que só se formariam em ambientes com água.

;Nós podemos afirmar que o planeta sofreu uma alteração de escala global causada por água há cerca de 4 bilhões de anos;, disse à rede norte-americana CNN o principal autor do estudo, John Carter, da Universidade de Paris. Uma afirmação com a qual devem concordar os cientistas da Universidade do Colorado, autores do outro estudo que encontrou evidências de que uma grande quantidade de água já banhou o solo marciano.

Segundo Gaetano Di Achille e Brian Hynek, o polo norte do Planeta Vermelho abrigava um verdadeiro oceano, de 124 milhões de metros cúbicos, que cobria cerca de 36% do planeta. O volume é cerca de 10 vezes menor que o ocupado pelos oceanos da Terra. Na pesquisa, os especialistas combinaram a análise de características relacionadas à água com dados de depósitos de sedimentos e de vales de rios. ;Seguimos métodos usados para reconstruir o nível dos mares no passado na Terra durante as mudanças causadas pela glaciação ou outros fatores;, explica Hynek, em entrevista por e-mail ao Correio.

Di Achille explica que foi usado um conjunto de dados globais produzidos recentemente sobre os deltas em Marte bem como sobre os vales dos rios que secaram. Os resultados, obtidos em um ano e meio de análises, mostraram que a maioria dos deltas está em altitude constante, semelhante às margens dos deltas nos oceanos na Terra no nível do mar. ;Além disso, quase todos os vales de rios formados na época oceânica estão em altitudes acima do litoral proposto, como na Terra;, informa Di Achille, em entrevista também por e-mail.

Mapeamento
Os cientistas utilizaram os dados do Mars Laser Orbiter Altimeter (Mola), instrumento carregado na espaçonave Marte Global Express, da Nasa. Outros dados foram fornecidos pelas sondas Mars Odyssey, Mars Express e Mars Reconnaissance Orbiter. Dentro desse conjunto de informações, os cientistas usaram o Sistema de Informação Geográfica (GIS, na sigla em inglês) para mapear o terreno de Marte e encontraram mais de 52 deltas de rios que alimentavam inúmeros vales. Com base nisso, a equipe acredita ter encontrado os limites do extinto oceano (veja arte abaixo).

Vinte e nove desses deltas estavam conectados ou a um antigo oceano ou ao subterrâneo e a diversos grandes lagos adjacentes. ;Os vales dos rios secos e os deltas têm uma forma muito parecida com os da Terra. Assim, acreditamos que eles se formaram de maneira semelhante, incidindo na crosta e carregando os sedimentos para o fundo dos vales fluviais. Além disso, evidências químicas da água passada existem em minerais nas rochas estudadas pelo Mars Exploration Rovers e em algumas órbitas;, explica Hynek.

Os resultados obtidos pelos pesquisadores indicam também que o planeta vizinho possuía um ciclo hidrológico similar ao da Terra, incluindo chuva, formação de nuvens, gelo e acúmulo de água subterrânea. Segundo os pesquisadores, a atmosfera de Marte também parecia com a da Terra atualmente em termos de pressão e composição durante aquele período, com muito dióxido de carbono.

Uma pergunta que surge com as recentes descobertas é: para onde foi toda essa água? Segundo Hynek, a maior parte deve ter sido perdida para o espaço com o tempo. ;Marte não tem um campo magnético para proteger uma atmosfera, então a maior parte disso escapou para o espaço com o vento solar e outros processos;, afirma.


Nós podemos afirmar que o planeta sofreu uma alteração de escala global causada por água há cerca de 4 bilhões de anos;
John Carter, pesquisador da Universidade de Paris






Tubo de ensaio
Fatos científicos que marcaram a semana
; SEGUNDA-FEIRA, 21

Riscos da menopausa precoce
As mulheres que chegam à menopausa mais cedo do que o esperado possuem mais que o dobro de chances de desenvolverem doenças cardiovasculares, crises cardíacas ou derrame cerebral durante a vida, segundo estudo apresentado na 92; Conferência Anual da Sociedade de Endocrinologia dos Estados Unidos. Os autores da pesquisa consideram que a menopausa é precoce quando ocorre antes dos 46 anos de maneira natural ou após uma operação para a retirada dos ovários. ;As mulheres que chegam à menopausa ainda jovens podem atuar mais energicamente para minimizar outros fatores de risco cardiovascular, como uma taxa de colesterol alta e hipertensão, fazendo exercícios físicos e adotando um regime alimentar saudável;, disse a médica Melissa Wellons, principal autora do estudo. A pesquisa foi realizada com um grupo de 2,5 mil mulheres de diferentes etnias e idades entre 45 e 84 anos. Cerca de 28% do total tiveram menopausa prematura.



; TERÇA-FEIRA, 22
Primeira imagem dos apóstolos

Uma nova tecnologia a laser permitiu encontrar as pinturas mais antigas dos apóstolos de Jesus. As imagens foram encontradas nas catacumbas de Santa Tecla, perto da Basílica de São Pedro, em Roma, e datam do fim do século 4 ou início do século 5. Segundo os arqueólogos que analisaram as imagens, elas podem estar entre as que mais influenciaram os retratos posteriores dos seguidores de Cristo. Os afrescos eram conhecidos, mas seus detalhes vieram à tona durante um projeto de restauração iniciado dois anos atrás. Os ícones de rosto inteiro incluem as faces de São Pedro, Santo André e São João, que fizeram parte do grupo dos 12 apóstolos originais de Jesus, e São Paulo, que se tornou apóstolo após a morte de Cristo. Os quatro círculos, com cerca de 50cm de diâmetro, estão no teto do local do sepultamento de uma mulher nobre. Acredita-se que ela tenha se convertido ao cristianismo no fim do mesmo século em que o imperador Constantino legalizou a religião.



; QUARTA-FEIRA, 23
Antenas de celular inocentadas

No maior estudo já realizado sobre o tema, cientistas descartaram um vínculo que indique maior risco de mulheres grávidas que vivem em áreas próximas a antenas de telefonia celular terem filhos que desenvolvam leucemia ou outro câncer infantil. Na pesquisa, publicada no periódico British Medical Journal (BMJ), cientistas acompanharam 1.397 crianças em toda a Grã-Bretanha, que desenvolveram câncer por volta dos 5 anos entre 1999 e 2001. Cada criança estudada foi comparada com outras quatro saudáveis, de acordo com o sexo e a data de nascimento, selecionadas a partir do registro nacional de nascimentos britânico. Os pesquisadores obtiveram, então, dados de todas as 76.890 repetidoras de celular entre 1996 e 2001. A partir dos endereços residenciais das crianças, eles calcularam os níveis de radiação eletromagnética aos quais os ocupantes da casa teriam sido expostos. As crianças que desenvolveram câncer não demonstraram ter vínculo maior do que as crianças saudáveis entre o local onde viveram após o nascimento e a proximidade com uma antena celular.



; QUARTA-FEIRA, 23
Morte controversa

Mais uma vez, entrou em discussão a causa da morte do faraó Tutankamon, que faleceu aos 19 anos de idade, em 1327 a.C. Desta vez, pesquisadores alemães afirmaram que o óbito foi provocado por uma doença sanguínea congênita. Os cientistas do Instituto Bernhardt-Nocht (BNI) para doenças tropicais de Hamburgo rejeitaram a tese exposta em fevereiro por um grupo de egiptólogos conduzido por Zahi Hawass, responsável pelas antiguidades egípcias do museu do Cairo, segundo o qual Tutankamon tinha sido morto por malária combinada com um problema ósseo. Os egiptólogos privilegiam a tese da anemia falciforme, frequente nas regiões atingidas pela malária, particularmente na África. Essa doença resulta da malformação dos glóbulos vermelhos, causada por uma mutação em um gene da hemoglobina que transporta o oxigênio no sangue. As análises de DNA colocaram em evidência a presença de três genes relacionados ao parasita Plasmodium falciparum, responsável pela malária em quatro múmias estudadas, entre elas a de Tutankamon. Os pesquisadores alemães afirmam, no entanto, que a anemia falciforme pode ser provada ou descartada por alguns testes de DNA, e sugerem que sejam feitos exames específicos.


; QUINTA-FEIRA, 24
Droga contra mal de Alzheimer

Pesquisadores da escola de medicina de Mount Sinai, nos Estados Unidos, descobriram que uma droga prescrita para tratamento de hipertensão pode diminuir os impactos degenerativos da doença de Alzheimer e melhorar a saúde das funções cerebrais relacionadas à memória. O estudo foi publicado na edição do periódico científico Neurobiology of Aging. Os benefícios foram verificados em ratos de laboratório, cujos cérebros foram manipulados para que desenvolvessem os mesmos sintomas de quem sofre do mal de Alzheimer.

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