Ricardo Beghini
postado em 12/07/2010 07:56
Belo Horizonte ; A força dos dedos da mão era desconhecida pela ciência. Os equipamentos utilizados para medir o desempenho da empunhadura, chamados de dinamômetros manuais, registravam apenas o valor máximo da força muscular das mãos. Mas o Handrip Dynamometer (dinamômetro de preensão da mão), desenvolvido pelo professor José Marques Novo Júnior, da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), traz componentes eletrônicos capazes de mensurar e registrar a força dos indicadores, médios, anelares e mínimos.;Vamos ter condições de incorporar análises estatísticas e matemáticas nos testes de preensão;, diz o pesquisador. O aparelho é composto por um dinamômetro manual com sensores individuais para os dedos, um condicionador e amplificador de sinais e um computador para registro e análise dos sinais. Conjugados, os dispositivos fornecem curvas força-tempo de preensão da mão e força dos dedos. ;Ninguém até hoje conseguiu avaliar a performance da mão;, enfatiza José Marques.
Um dos 13 projetos contemplados, em 2007, pelo Programa de Incentivo à Inovação da Secretaria de Estado de Ciência Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, em conjunto com o Sebrae Minas e a UFJF, o projeto do Handrip Dynamometer recebeu, este ano, R$30 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) para o desenvolvimento do quinto e último protótipo antes de ser lançado no mercado. O novo dispositivo unirá softwares e hardwares em um único sistema portátil e provido de sinal de radiofrequência que pode ser captado em computador remoto.
A expectativa é que o aparelho esteja pronto até o fim do ano. Já a comercialização deve ser iniciada em 2011. O Handrip Dynamometer custará, aproximadamente, US$ 2 mil (cerca de R$3.560). ;Os primeiros clientes serão fisioterapeutas, ortopedistas e professores de educação física;, prevê o pesquisador. Com o equipamento será possível analisar a força manual em modalidades que dependem da mão para o sucesso, como lançamento de dardos, de martelo, judô, jiu-jitsu, escalada e salto com vara. ;Saberemos, por exemplo, como a energia acumulada na vara é transferida para o atleta pela mão.;
Na área da saúde, são várias as possibilidades de aplicação do dispositivo, que poderá identificar possíveis disfunções neuromotoras ou articulares, estabelecendo diagnósticos mais precisos e tratamentos individualizados. ;Será possível determinar se uma cirurgia deu ou não certo;, salienta o pesquisador, lembrando que o resultado das análises do novo dinamômetro pode ser um indicativo do nível de força muscular geral.
Avaliação
Segundo Novo Júnior, lesões por esforço repetitivo (LER), distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort), síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano que passa pela região do punho) e outras doenças ocupacionais são problemas que poderão ser avaliados com a ajuda do aparelho. ;Será possível também determinar uma tendência para tendinite;, diz. Além disso, portadores de fibromialgia, diabéticos e pessoas com disfunções musculares genéticas são exemplos de pacientes que fazem testes para identificar seu padrão de força. Essas avaliações auxiliam os médicos a definir os procedimentos terapêuticos de reabilitação.
O Handrip Dynamometer também poderá ser usado em pesquisas que têm na força de preensão da mão uma das suas referências. É o caso da elaboração de próteses de mão ou otimização de equipamentos que necessitem de um bom desempenho sob forte pressão das mãos, como empunhaduras de bicicletas profissionais e raquetes de tênis.A pesquisa foi iniciada há 21 anos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), câmpus de Ribeirão Preto (SP). Além de formação em educação física e em física, o professor José Marques tem mestrado em bioengenharia pela USP e doutorado e pós-doutorado em engenharia biomédica pela Universidade de Campinas (Unicamp).
O Handrip Dynamometer vem sendo aperfeiçoado, desde 2008, na Incubadora de Base Tecnológica (IBT) do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF. Seguindo resoluções e regimentos da universidade, o pesquisador criou a empresa Sensormed Indústria, Comércio Equipamentos Médicos Ltda., que comercializará o produto. A universidade receberá 2% sobre as vendas do equipamento, a título de royalties.