Ciência e Saúde

Mistura acelera recuperação óssea

Composto de nanotubos de carbono e ácido hialurônico, desenvolvido por pesquisadores da UFMG, reduz pela metade o tempo da regeneração de fraturas e de lesões em implantes dentários

postado em 26/07/2010 10:51

Belo Horizonte ; Materiais minúsculos podem dar uma enorme contribuição ao processo de cicatrização de fraturas ósseas. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um composto de nanotubos de carbono (NTC) ; estrutura cilíndrica formada por átomos de carbono, cujo tamanho equivale a um bilionésimo de um metro ; e ácido hialurônico (HY), muito usado em tratamentos estéticos, que reduziu pela metade o tempo de recuperação de tecidos ósseos. O resultado foi tão satisfatório que a substância, o NTC-HY, já foi patenteada pela equipe no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e, em breve, será testada em humanos. O estudo se concentrou no campo da odontologia, mas novas frentes de investigação têm mostrado a eficácia do método na ortopedia em geral e no tratamento de diabéticos, que têm maior dificuldade de curar feridas.

O trabalho começou em 2004, a partir da pesquisa do ácido hialurônico na cicatrização em extrações de dentes. Apesar de eficiente, o HY, por ser um gel, mostrou ser de difícil aplicação em certos tipos de lesões. Diante disso, o desafio seguinte foi tentar dar outra forma à substância, mantendo seu efeito cicatrizante. Os grandes aliados nessa empreitada foram os nanotubos de carbono. ;O nanotubo é um material inerte, que não causa reação no organismo. Já existem trabalhos que mostram que ele pode ser um carregador de móleculas;, explica o coordenador do estudo, o professor Anderson José Ferreira, do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

A união entre o ácido hialurônico e o nanotubo de carbono, produzida em parceria com professores do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (Icex), resultou em um pó seco e rígido. ;Essa funcionalização manteve as qualidades fisiológicas, além de ser um material mais estável, que pode ser misturado a pomadas e géis. Também dispensa refrigeração e é mais fácil de ser esterilizada;, afirma Ferreira. Testes em ratos de laboratório mostraram que, assim como o ácido isoladamente, o composto acelera duas vezes o tempo de regeneração do tecido ósseo. ;Uma pessoa que teria que ficar três meses com o braço engessado, com o NTC-HY vai ficar apenas um mês e meio. Isso traz até um impacto econômico;, ressalta o coordenador.

O próximo passo é observar a eficiência do composto também em humanos, testando a substância em pessoas que terão dentes extraídos. O pedido está sob avaliação da Comissão de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da UFMG. Além disso, pelo menos três frentes de pesquisa, desdobramentos da primeira fase do estudo, estão em desenvolvimento no laboratório da universidade. Ainda no campo da odontologia, a intenção é acelerar a cicatrização em implantes dentários. Ferreira explica que pacientes que colocam próteses sofrem duas vezes lesões no osso da mandíbula: ao retirar o dente e ao pôr o pino que fixa o dente falso. ;Estamos testando colocar no pino de titânio uma solução do nanotubo de carbono funcionalizado com o ácido hialurônico;, esclarece.

Outra vertente do estudo é o desenvolvimento de membranas feitas de NTC-HY, que podem ser absorvidas pelo organismo e estimulam a recuperação óssea da mandíbula, em casos de perda óssea sem implante dentário. A terceira vertente de pesquisa tem como foco pacientes diabéticos, um público mais que especial quando o assunto é cicatrização. Por causa da alta concentração de glicose no sangue, eles têm dificuldade de regenerar tecidos lesionados e maior propensão a infecções. ;Nesse caso, estaríamos tratando uma doença, além de acelerar um processo;, afirma o coordenador do estudo. O grupo de pesquisadores está em busca de empresas interessadas em desenvolver o produto em escala industrial.

Empreendimento
Ainda caros para serem usados em escala industrial, a expectativa é tornar os nanotubos de carbono mais acessíveis com a instalação do Centro de Tecnologia em Nanotubos (CTN), no Parque Tecnológico de Belo Horizonte, no Bairro Engenho Nogueira. Encabeçado pela UFMG, o projeto é o primeiro para a fabricação do material em escala pré-industrial, que pcupará um área de pelo menos 3 mil metros quadrados. Orçado em R$ 30 milhões, o empreendimento tem apoio da Petrobras e do Ministério da Ciência e Tecnologia, além da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, que já liberou R$ 500 mil para a etapa inicial do empreendimento.


; Nanotubo de carbono: estrutura cilíndrica formada por uma cadeia de átomos de carbono. Enfileirados, um bilhão de nanotubos de carbono medem um metro. Apesar de minúscula, essa partícula é extremamente resistente, além de inerte, não causando reação no organismo. Bastante aplicado para transportar substâncias em diversas áreas, como energia, eletrônica e indústrias química e petroquímica. Essa característica lhe assegura propriedades diferenciadas de resistência mecânica e condutividade elétrica e térmica. A adição de 0,5% de nanotubos em determinados materiais pode aumentar sua resistência em até 20 vezes.

; Hialuronato de sódio (HY): ácido, em forma de gel, muito usado em tratamentos estéticos e que acelera o processo de cicatrização.

; NTC-HY: gerado pela funcionalização do nanotubo de carbono com o hialuronato de sódio. A mistura dá origem a um pó, material mais estável que o gel. O composto facilita a aplicação do cicatrizante.

Composto de nanotubos de carbono e ácido hialurônico, desenvolvido por pesquisadores da UFMG, reduz pela metade o tempo da regeneração de fraturas e de lesões em implantes dentários

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