Ciência e Saúde

Brasileiras estão mais conscientes a respeito da amamentação

postado em 01/05/2011 06:38

Qual a posição correta de segurar o bebê na hora da amamentação? O que fazer para evitar que os seios machuquem durante o aleitamento? Essas são algumas dúvidas que assolam as mães, sejam elas de primeira viagem ou não. Para especialistas, no entanto, melhor que aprender errando é se informar antes. Cursos, disponíveis na rede pública de saúde, são indicados para evitar que as primeiras refeições dos pequenos se tornem um pesadelo para as mães.

Para o pediatra Luciano Borges Santiago, diretor do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), amamentar não tem segredo. Ele explica que a melhor forma de aprender as técnicas corretas de amamentação é por meio de cursos pré-natais. ;Hoje existem inúmeras instituições que oferecem esses cursos, desde bancos de leites e unidades básicas de saúde a planos de saúde;, afirma o especialista. ;Nesses ambientes, todas as dúvidas que as mães tiverem podem ser sanadas;, completa o médico.

Entre as questões mais comuns levantadas pelas gestantes está a produção e a qualidade de leite de cada mãe. ;No Brasil, existe um mito de que o leite materno pode ser fraco ou insuficiente para amamentar uma criança, o que é uma inverdade;, afirma Santiago. A orientação da SBP é que o peito seja a única fonte de alimentação da criança até os 6 meses de idade, sendo complementada com outros alimentos depois disso.

Muitas mães reclamam que, devido à sucção do bebê, os mamilos incham, racham e chegam a sangrar. Os especialistas afirmam, no entanto, que isso não é normal. ;Se alguns desses problemas acontecem é porque a criança não está sendo colocada na posição correta;, afirma Santiago. Nesses casos, sempre surgem soluções caseiras, como usar cremes hidratantes ou outros tipos de substâncias. Mas as mamães devem ficar alertas. Por ser justamente a região onde o bebê coloca a boca, o uso de determinadas substâncias pode intoxicar o frágil organismo dos filhos. A solução é procurar um profissional especializado que ajude a identificar o que está causado o problema. Normalmente, os médicos receitam óleo mineral para aliviar o incômodo.

A estudante Majoy Vergueiro, 24 anos, recorreu a um curso de amamentação oferecido de graça pelo no Hospital Regional da Asa Sul (Hras), onde recebeu todas as informações sobre como amamentar o pequeno Ian, que na próxima semana completa 4 meses. ;Fui logo na segunda semana depois que ele nasceu, foi ótimo. Me ensinaram como amamentar corretamente, como segurar o bebê e me deram um óleo para ajudar a diminuir as dores nos mamilos;, conta a mãe de primeira viagem.

A confiança adquirida no curso fez a jovem passar com tranquilidade pelas primeiras semanas do aleitamento, fase em que tanto mãe quanto filho ainda estão aprendendo a lidar com a amamentação. ;No início dói um pouco, mas acho que isso é fruto do momento. Logo que se pega o jeito, esse problema fica facilmente controlável. Até me deram um óleo mineral, mas acho que foi adquirindo experiência que as coisas se resolveram;, conta Majoy.

O caminho percorrido pela estudante começa a ser seguido também pela operadora de caixa Luana Honorato, 20 anos. Hoje o pequeno Eurípedes Kauan completa seu primeiro mês de vida, e a mãe ainda está aprendendo a amamentar corretamente. ;As enfermeiras ensinaram como fazer, mas nos primeiros dias realmente é um pouco difícil. Até pegar prática;, afirma Luana, que no começo tinha dificuldade para amamentar o pequeno.

Apesar dos desafios iniciais, ela não desistiu do aleitamento. ;Acho que é mais saudável, pelo menos enquanto estiver de licença-maternidade;, conta a mãe. Isso deve acontecer quando o bebê completar 6 meses, idade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a introdução de outros alimentos na dieta dos pequenos. ;Mesmo assim, pretendo retirar leite para ele mamar em casa, e oferecer o peito quando chegar à noite;, afirma a mãe.

Consciência
Assim como Majoy e Luana, as mães brasileiras estão mais conscientes da importância da amamentação. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 41% das crianças recebem apenas o leite como alimento no primeiro meio ano de vida, conforme determina a OMS. ;Há 20 anos, esse percentual era quase zero;, explica Elsa Giugliane, coordenadora da área técnica de Saúde da Criança do ministério. O tempo de amamentação também cresceu nas últimas décadas. ;Hoje, em média, as crianças mamam por 18 meses. Em 1980, o período de amamentação se estendia por apenas dois meses e meio;, completa a especialista do MS.

A gestora comemora os avanços, mas admite que ainda há muito a ser feito. ;Atualmente, cerca de 70% das crianças mamam no peito, um percentual bastante alto se considerarmos como era esse índice décadas atrás, quando amamentar era considerado fora de moda, e a maioria das mães recorria a fórmulas industrializadas;, afirma Elsa. Segundo ela, para que esse índice seja ainda mais alto, é preciso uma ação de toda a sociedade. ;A amamentação passa pelo chefe, que precisa liberar a funcionária para que ela possa amamentar, e pela família, que tem de criar condições em casa para a mãe ter tempo disponível. Enfim, é uma questão que vai muito além do desejo da mãe;, conclui.

Cientes da importância do leite materno, e de seu papel na saúde dos mais pequenos, mesmo quando a criança não pode ; ou não consegue ; sugar o leite do peito, mães se esforçam para oferecer esse rico alimento a elas. Assim é com a técnica de enfermagem Laudiene Alves Costa, 25 anos. Seu filho Luiz Gustavo, hoje com 1 ano e 7 meses, passou por maus bocados. Com problemas nos rins e no aparelho digestivo, o garoto ficou muito tempo internado. Isso não demoveu a mãe do desejo de dar o peito. ;Desde pequenininho, quando ele ainda ficava na encubadora, eu tirava o leite manualmente e dava pra ele;, conta a mãe.

Mesmo quando o menino, hoje praticamente recuperado, não conseguia engolir, o leite da mãe continuou sendo seu alimento. ;Nas fases mais complicadas ele tomava o leite pela sonda. Às vezes, eu tinha que tirá-lo a cada três horas;, relembra Laudiene. Hoje com o menino tranquilo, e com a saúde estável, ela tem certeza de que faz a coisa certa. ;O leite foi importante para ele ganhar peso e se fortalecer. Claro que os cuidados médicos foram importantes, mas acho que o leite do peito teve um papel fundamental na recuperação dele;, conclui.


Aprendendo a mamar

Veja como ajudar o bebê a ;pegar; a mama:

; 1; ; Tocar os lábios do bebê com o mamilo

; 2; ; Direcionar o mamilo para o palato do bebê

; 3; ; Esperar até que a boca esteja bem aberta

; 4; ; Nessa altura, trazer o bebê rapidamente à mama

; 5; ; A mão deve estar em forma de C ; com os quatro dedos contra a parede do tórax debaixo da mama; com o indicador apoiando a mama por baixo e o polegar acima da auréola.

Dicas

; Verifique se o nariz e o queixo do bebê ficam junto à mama

; A cabeça do bebê deve estar alinhada com o resto do corpo; a criança não deve ficar de lado na hora de mamar

; Durante a amamentação, deve-se ouvir a deglutição, ou seja, o barulho do bebê engolindo o leite

; Atenção para a mão da mãe não ficar próxima demais do mamilo. Isso dificulta a sucção pelo bebê

Mesmo quando o pequeno Luiz Gustavo estava internado, Laudiene o amamentou, usando a sonda

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