Ciência e Saúde

Fiocruz sugere que saúde de moradores vizinhos da CSA seja monitorada

postado em 24/05/2011 17:00
Rio de Janeiro ; Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram hoje (24/5), durante audiência na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), um laudo apontando a necessidade de que a saúde dos moradores de Santa Cruz, na zona oeste da cidade, seja monitorada por pelo menos 20 anos após o fim da exposição à fuligem metálica emitida na atmosfera pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), instalada na região.

O documento aponta que o contato com essas partículas pode gerar diversos prejuízos à saúde, como alergias respiratórias, de pele, problemas cardiológicos e, a longo prazo, o surgimento de casos de câncer.

No ano passado, houve emissão irregular de fuligem em duas ocasiões por causa de problemas no sistema operacional da siderúrgica.

O relatório, desenvolvido com base em atendimentos prestados no ambulatório da instituição a sete pessoas que moram perto da CSA, aponta que, em todos os casos, houve piora no quadro de problemas respiratórios, como tosse, falta de ar e sinusite, após os acidentes com a emissão de poluentes. O laudo também sugere que haja uma busca ativa de casos na região pelas autoridades de saúde.

;É necessária uma abordagem epidemiológica através da busca ativa de casos. Esta população deveria ser colocada sob vigilância ambiental em saúde pelo tempo em que ficar exposta e por pelo menos 20 anos após a retirada da exposição;, diz o documento.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz, Alexandre Dias, embora a empresa negue que os particulados emitidos sejam tóxicos, afirmando serem compostos apenas por carbono e ferro, há evidências de que se tratam de um misto de metais. Ele também destacou que esses problemas são mais evidentes em grupos de maior vulnerabilidade como crianças, idosos e pessoas que já tenham problemas respiratórios.

;Nós temos clareza de que há um misto de metais, que, com as emissões, chegam às casas das pessoas, na agricultura e em várias regiões. Esses metais podem gerar resposta imediata ou crônica ao longo dos anos. O câncer também é um risco em potencial, já que a literatura especializada indica isso;, explicou.

Ainda durante a audiência, agricultores integrantes de uma colônia de japoneses em Santa Cruz protestaram contra as constantes inundações que seus terrenos vêm sofrendo a partir da instalação da CSA na região.

Segundo o engenheiro agrônomo Otávio Myiata, integrante da colônia, a produção de aipim, considerado nobre por suas qualidades gastronômicas, está ameaçada, causando prejuízos a 19 famílias que vivem da atividade.

;O Canal de São Fernando, que nos serve de drenagem, foi desviado pela CSA para desaguar no Rio Guandu. Quando o rio enche muito, há um refluxo no canal e alaga nossa área de produção, colocando em risco toda a atividade das nossas famílias;, afirmou.

O representante do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), responsável pelo licenciamento ambiental da companhia, Luiz Firmino, lembrou que a empresa opera, ainda, com permissão provisória e garantiu que o órgão vem acompanhando e exigindo os ajustes necessários no processo de produção para evitar danos ambientais e à saúde da população.

Já o diretor de Sustentabilidade da CSA, Luiz Claudio Castro, afirmou que, como em todo grande empreendimento tecnológico, somente o funcionamento é capaz de apontar as mudanças necessárias para que os padrões desejados sejam atingidos.

;A empresa está em fase de ajustes de processos e de projetos. Estamos sendo licenciados de acordo com os trâmites legais. Nós queremos atuar em conjunto com a comunidade e ser agentes promotores de desenvolvimento econômico e social da região;, disse.

Castro também negou que a empresa tenha mudado o curso do Canal de São Fernando, alegando que essa alteração é anterior à instalação da siderúrgica.

O diretor da companhia evitou estabelecer um prazo para a solução definitiva das emissões de fuligem na atmosfera, que garantiu não ser tóxica, mas disse que a empresa está trabalhando para que essa redução seja contínua.

Por causa das emissões em 2010, a CSA foi multada em R$ 1,2 milhão, em agosto, e em R$ 2,4 milhões, em dezembro do ano passado, e foi obrigada a investir R$ 14 milhões em obras de saúde e infraestrutura da região. A empresa também terá que construir um Centro de Tratamento da Diabetes e Hipertensão e uma Clínica da Família no bairro.

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