Ciência e Saúde

Cresce o número de mortes por doenças cardíacas em mulheres

postado em 21/06/2011 08:29
Aparecida enfartou sem sentir: o custo da desatenção com a saúdeO coração das mulheres está cada dia mais vulnerável ao enfarto. Fisiológica e anatomicamente, nada mudou, pois a estrutura cardiovascular feminina sempre foi mais delicada. O que tem contribuído para o aumento da incidência da mazela entre elas, contudo, é a maior exposição aos fatores de risco que, outrora, afetavam somente as coronárias dos homens. A partir de meados dos anos 1970, o estilo de vida feminino cedeu mais espaço ao estresse, a dietas desequilibradas, ao sedentarismo, à hipertensão e às altas taxas de colesterol ruim (LDL). Os números são de dar palpitações até no mais saudável dos corações. Cerca de 30 mil mulheres morrem de ataques cardíacos por ano no Brasil. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, o câncer de mama faz 11 mil vítimas no país anualmente. Na década de 1950, para cada 100 homens que morriam de enfarto, 10 mulheres faleciam pelo mesmo motivo. Em 1990, a proporção era de 100 para 17. Atualmente, é de 100 para 50.

Uma pesquisa realizada com pacientes do Hospital do Coração em São Paulo (Hcor/SP) reflete o que, segundo especialistas, ocorre nas regiões mais desenvolvidas, de norte a sul do país. A análise dos dados revela que, comparado ao ano anterior, o número de enfartados atendidos na unidade caiu 12% em 2010. Para o sexo masculino, a queda foi de 17%. Entre as mulheres, ocorreu um aumento de 3,8%. Os homens geralmente são acometidos pelo mal entre 45 e 74 anos. Já elas costumam sofrer com o mal entre 60 e 89 anos. Para o cardiologista César Jardim, especialista do Hcor/SP, o trabalho é uma amostra que confirma a constatação recente da Associação Americana do Coração: as doenças do coração não estão mais relacionadas tão predominantemente aos homens. ;Além de compartilharem os mesmos fatores de risco que os indivíduos do sexo masculino, elas carregam danos exclusivos, como as alterações hormonais ao longo da vida. O estrogênio, por exemplo, protege o coração feminino. Com a menopausa, as mulheres perdem o aliado;, lamenta o médico.

As artérias femininas são mais estreitas, ficam mais propensas ao entupimento e tornam alguns procedimentos de socorro, como o cateterismo e a implantação do stent, mais difíceis. Nelas, a aterosclerose tende a bloquear mais rapidamente a passagem do sangue, tornando a fatalidade após o enfarto 50% maior. Os sintomas do ataque cardíaco entre as mulheres também são mais variados. Além das manifestações clássicas, como dor ou desconforto no peito e sudorese, elas podem apresentar queimação no estômago, dor nas costas e náuseas, sinais comuns a outras doenças.

As doenças que favorecem o enfarto, como diabetes e hipertensão, jamais devem ser negligenciadas. No passado, a servidora pública aposentada Aparecida Maria Gama Andrade, 66 anos, admite não ter sido lá muito disciplinada com a alimentação. A vida era corrida, vez ou outra abusava dos doces ; embora soubesse do diabetes ;, não se exercitava e estava 10kg acima do peso. Em um checape anual, o eletrocardiograma acusou alterações e o cateterismo constatou bloqueios em quatro artérias. ;Fiz três pontes de safena e uma mamária em 2005. Para minha surpresa, dois anos e meio depois disso, os médicos constataram que havia novo bloqueio em duas das pontes implantadas. Foi necessário colocar um stent;, relata.

Durante exames preparatórios para o procedimento, ao comentar com o médico que se considerava uma mulher de sorte por não ter tido um enfarto, veio a notícia. ;Eu enfartei sem sentir nada. Percebi que não podemos brincar com a saúde. Aprendi que é uma virtude ter uma dieta balanceada, faço exercícios e estou atenta a todos os sinais do meu corpo;, conta.

Atenção necessária
De acordo com a cardiologista Regina Coeli de Carvalho, presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o enfarto feminino foi pouco estudado até duas ou três décadas atrás. ;Hoje, sabemos que a doença coronariana é mais incidente na mulher 10 anos depois do início do climatério, mas os riscos de infarto já são maiores a partir dos 45 anos. Depois dos 70, a disputa está bem acirrada entre eles e elas;, sustenta. Os especialistas também notam que, como os vasos femininos são mais delicados, as lesões nas artérias e as comorbidades, ou seja, complicações decorrentes do enfarto, são maiores entre as mulheres também. ;Elas demoram mais a procurar a emergência, porque subestimam os sintomas. Infelizmente, estudos europeus e americanos constatam que os médicos também negligenciam mais os sinais do enfarto na mulher;, destaca.

Mulheres com casos de enfarto entre pais e irmãos devem estar mais atentas ainda. ;Fatores como hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo e tabagismo são perfeitamente controláveis. A herança familiar não;, explica a cardiologista Edna de Oliveira, especialista do Incor/Taguatinga .


Índice elevado de mortes
As arritmias cardíacas, ou alterações do ritmo cardíaco, são frequentes na vigência e no pós-enfarto. Metade dos pacientes morre antes de chegar ao serviço de saúde em decorrência delas. Já a insuficiência cardíaca ocorre de acordo com a extensão do enfarto. Quanto mais extensa a área do coração afetada, maior a chance de enfraquecimento do músculo cardíaco.

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