Ciência e Saúde

Regulação de transgênicos favorece pesquisa sobre combate a dengue

postado em 10/07/2012 09:07
A capacidade tecnológica instalada, a legislação e a burocracia, geralmente apontadas como dificuldades para diminuir custos de produção, inovar, agilizar procedimentos e tornar o Brasil mais competitivo economicamente, foram fundamentais para que o país fosse escolhido para iniciar a produção em massa e os testes urbanos com o mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado para controlar a transmissão da dengue.

A opinião é da bióloga Margareth de Lara Capurro Guimarães, professora do Departamento de Parasitologia da Universidade de São Paulo (USP), uma das pesquisadoras à frente da experiência de produção, liberação e monitoramento do mosquito geneticamente modificado em bairros de Juazeiro (BA). ;Nós temos uma linha de trabalho com OGM [organismo geneticamente modificado] muito bem definida. Temos um sistema de regulamentação e temos a CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança] muito bem estruturada;, elogiou.

Para ela, as condições institucionais levaram o Brasil a ser o único país a sediar a pesquisa de campo com o mosquito originalmente modificado pelo Laboratório Oxitec, uma empresa incubadora originalmente vinculada à Universidade de Oxford (Inglaterra). ;Há uma estruturação no Brasil que em outros países não existe. Isso faz uma grande diferença. Outros países não sabem nem por onde começar;, comparou. ;É impressionante como a coisa funciona bem;. Segundo ela, o Brasil tornou-se referência mundial na regulamentação de transgênico.

A despeito da aprovação da cientista, a experiência com OGM ainda é criticada (especialmente para a produção de alimentos) por parte da comunidade ambientalista, que há sete anos se opôs fortemente à aprovação da Lei n; 11.105/2005 que regulamentou as normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados, conforme previsto na Constituição.

A pesquisa de campo, que conseguiu reduzir em 90% o mosquito transmissor da dengue em dois bairros de Juazeiro, será ampliada até o fim do ano após autorização da CTNBio, acredita Margareth Capurro.

A expectativa dela é, até dezembro, levar a pupa (fase do inseto antes de adulto) do Aedes aegypti para o município de Jacobina, também na Bahia. Com 79 mil habitantes, a cidade apresentou no primeiro semestre deste ano 1.647casos de dengue e duas mortes, segundo dados do Ministério da Saúde.

A realização do trabalho de campo em Jacobina é considerada fundamental para a continuidade da pesquisa. ;Não tivemos como ter medidas de impacto na dengue. Não adianta fazer em um bairro de uma cidade. É muito pequeno;, disse ao explicar a necessidade de ampliação da pesquisa.

Para o fornecimento de mais mosquitos modificados, o governo da Bahia investiu cerca de R$ 1,7 milhão na ampliação da biofábrica da empresa pública Moscamed (com status legal de organização social), com capacidade produtiva de 4 milhões do Aedes aegypti modificado geneticamente por semana.

Os insetos modificados são machos e têm uma proteína transmitida aos descendentes que os mata ainda na fase de larva. Como esses ;filhotes; não cresceram até a fase adulta, deixam de ser vetor do vírus da dengue, contribuindo para reduzir o número de pessoas contaminadas.

De janeiro a junho deste ano, foram registrados 431.194 casos de dengue em todo o país, conforme o ministério. Além da experiência com o mosquito geneticamente modificado, o Brasil tem pesquisas para o desenvolvimento da vacina contra a dengue e a produção de reagentes a partir de planta. Os cientistas que lidam com esses projetos têm grande esperança com as experiências de laboratório, pois não acreditam que o Brasil vá resolver os problemas de falta de saneamento básico antes de ter soluções científicas e clínicas para a dengue.

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