Ciência e Saúde

Análise de fósseis indica que espécies humanas cuidavam de doentes

Apesar das dificuldades de sobrevivência, os inválidos não eram deixados para trás

postado em 27/07/2014 08:00
Aquela foi uma criança muito amada. Eram tempos de incerteza e ninguém sabia se, no dia seguinte, haveria comida para todos. Não existiam médicos e o único meio de transporte eram os pés. Ela foi gravemente ferida. Um acidente ou um malfeitor causou danos irreparáveis em seu crânio. Por causa da região afetada pelo trauma, a pequena tinha dificuldades para enxergar, vocalizar e se expressar. Provavelmente, a personalidade também foi afetada, com o desenvolvimento de um distúrbio psiquiátrico que trouxe sérias implicações para sua vida social. Ainda assim, quando morreu, aos 12 ou 13 anos, a adolescente foi enterrada em um ritual cercado de cuidados, em um sinal de carinho e respeito. E isso aconteceu 100 mil anos atrás.

Quando essa criança morreu, o Homo sapiens era uma novidade na Terra. Estima-se que a espécie tenha surgido há cerca de 150 mil anos, fruto de milhares de séculos de evolução. Muito pouco se sabe sobre esse período da pré-história, embora registros fósseis e arqueológicos forneçam algumas certezas. Naqueles tempos, os homens eram nômades. Montavam acampamentos, onde podiam viver por muitos anos, até que os recursos naturais se tornassem escassos. Então, procuravam novas paragens.



Eles caçavam e eram caçados ; todos os dias, sair das cavernas era um desafio. Lutavam pela sobrevivência com lanças e machadinhas, recuperadas em escavações arqueológicas. Dependiam do grupo para sobreviver: tudo era coletivo; perturbações na ordem podiam ameaçar a estabilidade daquele núcleo. Zelar por uma criança doente, provavelmente improdutiva e que demandava cuidados especiais, na avaliação dos especialistas que analisaram seu fóssil, é mais uma prova de que o homem pré-histórico, embora ainda ;primitivo; culturalmente, exibia comportamentos sofisticados. Inclusive, a compaixão.

;A evidência de se cuidar de outros entre humanos arcaicos segue um padrão interessante;, observa Penny Skipens, pesquisadora da Universidade de York, especializada em pré-história. De acordo com ela, o melhor exemplo até hoje vem de um sítio arqueológico do Quênia, onde KNM-ER 1808, uma fêmea da espécie Homo ergaster datada de 1,5 milhão de anos, foi encontrada. Essa criatura, que viveu muito antes do homem moderno, sofria de hipervitaminose A, doença causada pelo excesso da vitamina, provavelmente devido ao consumo exagerado de fígado ou de larva de abelha. Os sintomas da enfermidade incluem redução na densidade óssea e desenvolvimento de deformidades nos membros, características presentes no esqueleto KNM-ER 1808.

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