Ciência e Saúde

Macacos também ficam indignados com as injustiças, aponta pesquisa

Especialistas encontram evidências de que a indignação com a injustiça praticada contra desconhecidos é uma característica evolutiva, que ajudou símios e humanos a viverem coletivamente e, assim, aumentar suas chances de sobrevivência

Paloma Oliveto
postado em 20/09/2014 12:17
No quebra-cabeça da evolução humana, há uma peça de difícil encaixe. Trata-se do senso de justiça, aquele sentimento que faz com que uma pessoa tome as dores de um desconhecido sem, aparentemente, tirar vantagem disso. Se o objetivo é garantir a manutenção dos próprios genes, parece pouco inteligente agir de forma altruísta em situações envolvendo estranhos. Como, por exemplo, dar uma bronca no filho porque ele pisou no pé da criança do vizinho. Essa, contudo, pode ser uma sofisticada estratégia de convivência adquirida pelos primatas para ganhar benefícios sociais.

Os chimpanzés, como os humanos, se incomodam também quando outros são injustiçados

Há tempos, cientistas debatem se a preocupação com a equidade é uma característica inata ou se emergiu como fruto da convivência em sociedade. Para Sarah Brosnan, pesquisadora dos departamentos de Psicologia e Filosofia do Instituto de Neurociência e do Centro de Pesquisa da Linguagem da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, o senso de justiça evoluiu em resposta à necessidade de cooperar com outros indivíduos. Não porque homens e demais primatas sejam simplesmente ;bonzinhos;. Mas porque eles ;sabem; que, em algum momento, poderão tirar proveito disso.

;A sensibilidade à equidade e à iniquidade oferece muitos benefícios evolutivos;, afirma Brosnan. ;Em primeiro lugar, os animais precisam reconhecer quando recebem menos que o outro, porque esse é um indicativo de que o sistema de cooperação social, do qual todos tiram vantagem, pode estar em risco;, diz a psicóloga, que investiga o tema desde 2003. Da mesma forma, ao receber mais que o parceiro, o homem ou o primata percebem que o sistema cooperativo do qual participam pode ir por água abaixo e, por isso, protestam em uma resposta convencionalmente chamada de aversão à iniquidade. ;As evidências indicam que, à medida que a confiança na cooperação aumenta, os indivíduos também se beneficiam da sensibilidade de receber mais que os outros;, conta Brosnan.



Contudo, para que essa situação ocorra, é preciso um refinamento cognitivo até agora não verificado em outras espécies além dos primatas. Enquanto os cães e os pássaros demostram insatisfação ao se sentirem ;passados para trás;, apenas humanos, macacos e símios protestam contra a injustiça praticada com outros, mesmo que a situação não os afete diretamente. Isso porque eles conseguem antecipar a reação alheia e sabem que a consequência pode ser um abalo no sistema de cooperação. ;Essa pressão pelo aumento da cooperação combinada com habilidades cognitivas avançadas e controle emocional permitiram aos humanos desenvolver um senso completo de justiça;, define Frans de Waal, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Primata Yerkes e da Universidade de Emory. Ele assina, com Sarah Brosan, um artigo sobre a percepção da equidade na edição desta semana da revista Science.

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