Ciência e Saúde

Comunidades isoladas da Amazônia usam energia solar para purificar a água

O purificador elimina 99,5% das bactérias, fungos e coliformes da água dos rios por meio de uma lâmpada de luz ultravioleta C

postado em 23/07/2015 07:49
Purificadores de água compactos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) estão garantindo água potável para comunidades isoladas da região amazônica. Os aparelhos funcionam com energia solar e fornecem água limpa para pessoas que vivem em locais remotos, sem acesso à energia elétrica. Entre as 13 populações com o purificador já instalado, estão os índios denis, que residem a 25 dias de barco de Manaus, no Alto Rio Juruá.

Os aparelhos funcionam com energia solar e fornecem água limpa para pessoas que vivem em locais remotos, sem acesso à energia elétrica

O purificador elimina 99,5% das bactérias, fungos e coliformes da água dos rios por meio de uma lâmpada de luz ultravioleta C, os raios mais perigosos da radiação ultravioleta. A lâmpada é colocada no interior de um tubo metálico. Quando a água passa pelo tubo é bombardeada pela luz e sai desinfetada. Um painel de energia solar carrega a bateria que acende a luz.

Durante a 67; reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos, o pesquisador do Inpa Carlos Bueno, em entrevista à Agência Brasil, disse que o projeto foi desenvolvido para evitar mortes por contaminação e verminoses, principalmente de crianças, devido ao consumo de água não potável. Os testes em aldeias indígenas começaram em 2007. ;O purificador é resultado da remodelagem de tecnologias que já existiam;, explicou.

Segundo o pesquisador, apesar da grande quantidade de água doce na região amazônica, há muita água de baixa qualidade. ;Nos rios próximos a comunidades, as águas encontram-se poluídas por populações que vivem de costas para o rio;, ressaltou. Bueno atribui o fato a fatores culturais, como a crença de que a sujeira jogada no rio é levada embora.

[SAIBAMAIS]O Inpa, em parceria com o sistema de saúde, está avaliando os impactos da tecnologia nos números de contaminação e verminoses das populações beneficiadas. ;Os resultados são altamente positivos, os indígenas, inclusive, apelidaram o aparelho de ;benção de Deus;;, disse Bueno. O Instituto tem 56 aparelhos montados. De acordo com o pesquisador, ainda este ano, serão instalados dois purificadores em cada estado da Região Norte, em comunidades isoladas, unidades de conservação e pelotões de fronteira do Exército.

O purificador é uma caixa metálica de 13 quilos, e todo o sistema custa R$ 2 mil, incluindo o painel solar e o filtro de entrada. A lâmpada e a bateria duram cerca de 10 mil horas, ou seja, de três a quatro anos. Bueno acrescenta que a manutenção é mínima neste período. Acoplado a um painel de energia solar e à caixa de água das comunidades, o purificador filtra 400 litros por hora, ou seja, 5 mil litros por dia, o suficiente para fornecer água limpa para beber e cozinhar a 300 pessoas. Mas, para que o purificador funcione com eficiência, a água que passa pelo aparelho precisa ser límpida, translúcida, permitindo que a luz a atravesse. Bueno conta que as águas dos rios da Amazônia são diversificadas, assim como a fauna e a flora da região. ;Temos água branca, preta, como no Rio Negro, e igarapés, vermelha, como em São Gabriel da Cachoeira, barrenta ou branca, como do Rio Amazonas e Solimões, e verde, como a do Rio Tapajós.;



O pesquisador explicou que cada uma dessas águas têm quantidades diferentes de resíduos em suspensão, que precisam passar por um filtro físico antes de entrar no purificador, que é um filtro biológico. ;Com água barrenta, por exemplo, a eficiência da radiação não vai ser boa, então o aparelho exige que sejam acoplados filtros para melhorar a qualidade da água antes que seja purificada;, explicou.

Os filtros usados nos purificadores em operação foram comprados prontos no mercado, mas o Inpa está patenteando um projeto de filtro natural feito com sementes de plantas como as palmeiras e tubos de PVC. ;Entre as vantagens desse tipo de filtro é que, além de retirar materiais em suspensão, ele tira o cheiro da água. E como as sementes são a parte mais nutritiva das plantas, ricas em minerais, tornam a água mais rica.; O especialista informou que, para expandir a produção do purificador, o Inpa assinou um contrato de parceria com uma empresa que trabalha com energias alternativas. ;Estão trabalhando junto com o Inpa e vão dar escala de produção para o aparelho.;

O instituto também fez parceria com o Exército para desenvolver um projeto chamado Homem Água, que consiste em um modelo mais compacto do aparelho que vai caber em uma mochila. ;Quando os soldados estiverem em treinamentos na selva, por exemplo, vão poder instalar o sistema e tratar água para o pelotão inteiro tomar quando pararem;, explicou Bueno.

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