Ciência e Saúde

Estudo mostra que toxina estética ameniza paralisia cerebral

Substância botulínica atenua a contratura muscular, ajudando os pacientes a se movimentar. Desafios de médicos e cientistas é melhorar a aplicação

Carolina Cotta
postado em 18/08/2015 06:11

Belo Horizonte ; Ganha força entre os médicos uma nova abordagem para facilitar o cotidiano de pacientes com paralisia cerebral, especialmente as crianças. Infiltrações de toxina botulínica são feitas para amenizar a contratura muscular, facilitando a realização de movimentos indispensáveis para o desenvolvimento dos pequenos, como andar.

Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Autônoma de Madrid, na Espanha, e referência no tema, Samuel Ignacio Pascual-Pascual explica que a técnica deve começar a ser aplicada antes que a contratura muscular comece a causar deformidades no paciente. ;Quanto antes, melhor. É comum iniciarmos as aplicações entre os 4 e os 5 anos, mas o uso da toxina no tratamento de espasticidade é autorizado a partir dos 2 anos;, explica o também membro do Serviço de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário La Paz, na capital espanhola.

O ortopedista César Lima, de Belo Horizonte, conta que o uso do medicamento para esse fim não é novidade ; o primeiro caso na capital mineira ocorreu em 1995 ;, mas a forma como ele é administrado vem mudando ao longo dos anos. Segundo o ortopedista Leonardo Cury Abrahão, gerente clínico da Associação Mineira de Reabilitação (AMR), muitos mitos e tabus em torno da toxina foram quebrados. ;Quando existir espasticidade (os músculos têm, ao mesmo tempo, a força diminuída e o tônus aumentado) no quadro de paralisia cerebral, há indicação da toxina, mas ela não tem sido usada de forma adequada. Há uma dificuldade de acesso, mesmo a substância sendo disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Também falta conhecimento dos profissionais e dos pacientes;, lamenta.

Para Pascual-Pascual, as pessoas ainda relacionam a toxina com um veneno muito potente, o que, de fato, ele é. ;Mas, na medicina, usamos doses mínimas. Esse fármaco vem sendo muito bem utilizado em todo o mundo, com segurança;, explica. A experiência e novos estudos reconfiguraram o modelo de tratamento com a toxina. Quando começou a adotá-la, na década de 1990, as infiltrações, por exemplo, eram a cada um ou dois anos.

Hoje, já se sabe que é seguro e eficaz utilizá-la em uma periodicidade de quatro a seis meses. ;Nossos estudos também mostram que a combinação da toxina com outras técnicas é o que tem promovido os melhores resultados. Estamos avançando, conhecendo doses, periodicidade e músculos mais apropriados para o tratamento com a toxina;, explica o especialista espanhol.

Até os 2 anos
A paralisia cerebral tem manifestações clínicas muito variadas, mas, em geral, é caracterizada pela dificuldade motora em consequência de lesão cerebral, que pode ocorrer durante toda a fase de desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC), ou seja, do momento da concepção até os 2 anos de idade de um indivíduo. Por isso, a lesão cerebral que surge depois disso não é considerada paralisia cerebral.

Para ser considerada paralisia cerebral, essa lesão neurológica também não pode ser progressiva. Segundo a Associação Brasileira de Paralisia Infantil, a criança vai apresentar mudanças decorrentes de seu crescimento e amadurecimento, mas a lesão em si é estacionária: não vai piorar, mas também não vai desaparecer. Não há, portanto, cura para o problema, mas o tratamento pode melhorar a situação motora.

A paralisia cerebral espástica, o tipo mais comum, que surge em 70% das crianças, é caracterizada pela espasticidade. Os pacientes apresentam os músculos enrijecidos, o que dificulta os movimentos. Os músculos mais tensos crescem menos e, por isso, a criança, com o tempo, pode desenvolver encurtamentos musculares, conhecidos como contraturas.

O crescimento dos ossos, influenciado pela tensão dos músculos, também pode ser alterado, evoluindo para deformidades. Além disso, o desenvolvimento motor, a aquisição das atividades motoras, como sentar, engatinhar e andar, são atrasados de forma leve, moderada ou grave.

A espasticidade não é exclusividade da paralisia cerebral. Também pode ocorrer em doenças neurológicas que provocam lesão das células do sistema nervoso ; responsáveis pelo controle dos movimentos voluntários ;, em lesões medulares, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral (AVC), entre outros. Segundo Pascual-Pascual, em crianças com paralisia cerebral, a espasticidade quase sempre leva a deformidades nos ossos, músculos e tendões.

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